Geralmente relegados a segundo plano, os troncos podem ser a parte mais interessante das árvores

Texto Marina Gabai | Fotos Valerio Romahn

Fortes e robustos como eles só, os troncos têm como principal responsabilidade proteger o “sistema circulatório” das árvores, assegurando que a água e os nutrientes captados pela raízes cheguem até as folhas, flores e frutos. Também é deles a missão de sustentar copas frondosas. Isso, no entanto, não quer dizer que eles sejam todos iguais ou que devam se contentar com o papel de coadjuvantes no paisagismo. Seja por conta do colorido ou da textura, os troncos de algumas espécies assumem o protagonismo quando o assunto é embelezar o jardim e conseguem se sobrepor até mesmo à exuberância das floradas e folhagens.

O eucalipto-arco-íris (Eucalyptus deglupta) (1) é uma das árvores com esse perfil. Tanto que seu nome popular se deve justamente ao visual do tronco. Inicialmente a madeira marrom não chama muito a atenção, mas, com o tempo, lascas finas e compridas começam a se desprender, revelando um verde vibrante por baixo. Depois, as manchas vão ganhando novos tons – verde-escuro, azul, laranja e vermelho –, ao mesmo tempo em que novas lascas se soltam. O resultado é um tronco todo colorido, que mais parece uma pintura.

Processo similar acontece com o pau-ferro (Caesalpinia leiostachya) (2), planta que recebeu esse nome por conta da densidade de sua madeira – de tão dura, ela até parece ferro. Conforme vai descamando, o tronco passa a exibir manchas brancas, cinza e bege, que criam um belíssimo efeito marmorizado. Não é à toa que a espécie nativa do Brasil é uma das queridinhas no paisagismo urbano.

A madeira colorida do pau-arco-íris (à direita) e marmorizada do pau-ferro
(acima) fazem dos troncos a parte mais ornamental dessas duas espécies

TECIDOS DA NATUREZA

Se algumas espécies conquistam pela cor inesperada do seu tronco, outras têm na textura a fonte de seu charme. É o caso do pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha) (3), espécie cujo caule lembra o couro dos temidos répteis. De cor marrom-clara, ele é cheio de arestas que se unem formando desenhos retangulares de tamanhos diferentes ao longo de todo o comprimento. Brasileiríssima, a espécie pode ser avistada nas florestas da Mata Atlântica.

Embora europeu, o sobreiro (Quercus suber) (4) é presença certa em quase todas as casas brasileiras – ainda que não na forma de árvore. É a partir da casca densa e macia dessa espécie que se extrai a cortiça, material usado na fabricação de rolhas, painéis e muitos outros objetos. A remoção é feita a cada dez anos, tempo que a planta leva para formar uma nova casca de aparência toda enrugada.

Espessa tambem é a casca da australiana melaleuca (Melaleuca linariifolia) (5). Mesclando tons claros de bege e marrom, seu tronco tem textura e visual que lembram os do papelão, e disputa atenção com as flores brancas e delicadas que surgem por toda a copa da árvore durante a primavera.

O caule cheio de arestas retangulares e de tamanhos variados deixa o pau-jacaré com textura similar à do couro dos répteis

Da casca muito enrugada do sobreiro são feitas as rolhas das garrafas de vinho e muitos outros objetos de cortiça

É na mescla de bege e marrom que está a beleza do tronco da melaleuca. O efeito é consequência da descamação e deixa a árvore com visual e textura similares aos do papelão

TROCA DE “PELE”

Tem gente que se assusta quando vê o caule escultural da jabuticabeira (Plinia cauliflora) (6) descascando. Pensa que as finas lascas que a planta desprende são consequência de alguma doença ou do ataque de pragas, quando na Verdade esse é um comportamento normal da espécie. Melhor assim, pois uma coisa é certa: o visual da planta fica muito mais interessante quando isso acontece.

Um processo similar de descamação fez a fama do pau-papel (Tibouchina papyrus) (7), árvore símbolo de Goiás. Quando chega a época de secas, o caule rosado da arvoreta – que ocorre naturalmente apenas em uma porção limitada do Cerrado – começa a soltar lascas finíssimas, que até parecem papel de seda, criando um efeito encantador.

O vidoeiro-ribeirinho (Betula nigra) (8) é outro que gosta de “trocar de pele”. Seu tronco, que pode atingir até 30 m de altura, é todo coberto por lascas que vão se soltando com o passar do tempo, e conferem a ele uma belíssima textura crespa.

O vidoeiro-ribeirinho impressiona com seu tronco de até 30 m de altura coberto por pequenas lascas que se soltam aos poucos

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