Painéis verdes ganham destaque em estabelecimentos comerciais, mas precisam de cuidados para se manterem bonitos e saudáveis

Assim que termina o frenesi das compras, as portas do shopping se fecham para os clientes e os passos ecoam pelos corredores vazios, começa uma grande maratona: a da manutenção. O estacionamento, antes repleto de SUVs, sedãs e carrões importados repentinamente se torna o antro das vans e das kombis. A largada é dada às 23 horas, e os elevadores e escadas rolantes servem ao entra-e sai de encanadores, eletricistas, vitrinistas, faxineiros, pedreiros, repositores e jardineiros – como era meu caso –, todos exaustos de um dia que inevitavelmente se esticará madrugada a dentro. Painéis verdes ganham destaque em estabelecimentos comerciais, mas precisam de cuidados para se manterem bonitos e saudáveis Eu estava testando o mercado de paisagismo vertical e havia plantado 5 m² de floresta verdejante na parede de uma loja de sapatos dentro do Shopping Pátio Higienópolis, no coração da velha aristocracia paulistana. Sabia que as vendedoras me odiariam por dar a elas a tarefa extra de regar as plantas.

Por isso, tomei uns cuidados para evitar molhadeira excessiva: coloquei vermiculita em todos os vasos e caprichei no bokashi, meu adubo orgânico pau pra toda obra. Deu certo e, mesmo com pouca água e nenhuma luz natural, as plantas dobraram de tamanho em poucas semanas. A samambaia-do-Amazonas até ameaçava invadir os expositores de sandálias e de escarpins.

Toda vez que chegava ao shopping para fazer a manutenção, me surpreendia com aquela mágica. Como as plantas conseguiam crescer num caixote de concreto, sem janelas, sob ar condicionado constante e com a porta de aço quebrando as folhas da borda a cada vez que era acionada? Era um mistério.

Depois de um ano e meio, no entanto, resolveram retirar o painel e substituí-lo por um de plantas permanentes – o nome chique das tinham conseguido se manter verdejantes num ambiente tão hostil não foram capazes de vencer o maior obstáculo: a planilha de custos. “Elas crescem manutenção trimestral. Foi o fim da minha floresta em estabelecimentos comerciais.

Isso foi há quatro anos e, de lá pra cá, sigo recebendo centenas de pedidos de “plantas para lojas”, “flores que deem pouco trabalho” ou “folhagens que aguentem ar condicionado”. Há muitas espécies que ficam bem e atendem a algumas dessas demandas – existem até as que podem ser usadas em lojas, dão flores e aguentam o ar seco, tudo junto. Só não inventaram ainda uma espécie que aguente isso tudo e ainda sobreviva sem cuidado nenhum. Porque planta cresce, precisa de rega, eventualmente pega um bichinho, uma doença. Essa ideia de “mato domado”, quietinho no painel vertical, é irreal.

A maioria das lojas em shopping não tem encanamento – e há multas altíssimas pra lojistas que gerem vazamentos nos vizinhos. De maneira geral, as tais “áreas molhadas” são exclusivas de restaurantes e salões de beleza, impermeabilizados à exaustão. Então, ainda que exista tecnologia suficiente para irrigar painéis muito maiores, dentro do shopping, até um jardinzinho de meio metro quadrado terá de ser molhado no regador, vaso por vaso, semanalmente, quase sempre por uma vendedora mal paga, sem conhecimento botânico e ao cabo de uma jornada de trabalho estafante.

Em lojas de rua, o desafio não é a falta de torneira, mas convencer gerentes e empresários de que plantas “pre-ci-sam” ficar perto das janelas – justamente o lugar mais nobre para os produtos. Perdi a conta de quantas vezes resgatei uma pleomele sofrida lá do fundo do estoque e coloquei o vaso na vitrine, sob o olhar mal-humorado de algum vendedor.

O que poucos sabem é que um jardim bem há gente preocupada com outros seres vivos, atenta em diminuir o nosso impacto ambiental, em deixar o espaço mais acolhedor. Planta atrai cliente, informa sobre a marca ou a empresa melhor do que muita propaganda.

E não é só o público externo que sente os benefícios do verde: também os funcionários que ali trabalham são impactados positivamente. Eu sei, eu sei, tem de regar, podar, secar a água que às vezes cai no chão, tirar folhas secas, adubar. No entanto, ao cabo de um dia de cão, quando ninguém bateu a meta de venda ou a comissão do mês não dá nem pra um café, ali ao lado estão serezinhos clorofilados companheiros de batalha, eles também uns guerreiros, capazes de mil estratégias pra seguir crescendo mesmo nos lugares mais áridos. E ainda dão flor.

Daí que quando me perguntam que planta vai bem “no ar condicionado, numa loja e não dá trabalho” eu sempre sugiro: comece com um vasinho, pequeno, mas bem cuidado. Pode ser essa a semente pra uma grande transformação.


Carol Costa é jornalista, jardinista e idealizadora do blog Minhas Plantas (www.minhasplantas.com.br). Tem uma coluna na rádio BandNews FM e apresenta o programa “Mais cor, por favor” no canal GNT

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