Histórias de uma aventura rápida pelo Rio Negro

– Por Gabi Bastos

O pôr do sol da Amazônia: um espetáculo à parte

Conseguir tirar uma foto do boto foi difícil

Sempre quis conhecer a Floresta Amazônica. Sobrevoar a imensidão verde. Ver de perto a mata que o mundo inteiro comenta e acha essencial para o planeta ser preservada. Por isso, quando fui convidada para ir a Manaus, preferi dizer aos amigos que ia para a Amazônia. Ao descer do avião do outro lado do Brasil, a primeira coisa que senti foi calor. Um calor abafado e úmido de que já tinha ouvido falar, mas que sentido é diferente. É suado. É comprovar que muita gente prefere ficar no hotel com ar-condicionado do que explorar a quente paisagem ao ar livre. Os encantos da Amazônia eu descobri aos poucos.

De início, me impressionou a quantidade de buritis (Mauritia flexuosa). Já conhecia essa palmeira muito usada em projetos paisagísticos, mas vê-la em todos os cantos, da cidade ao interior da floresta, me chamou a atenção. Daí comecei a reparar que o número de palmeiras nativas da Amazônia é enorme. A cada passeio eu descobria uma espécie diferente de tamanho e forma bem variadas. Um bom exemplo é o caiué (Elaeis oleifera) plantado no hotel. Conhecido na região porque seus frutos fornecem um óleo que substitui o de dendê nas receitas, o caiué é extremamente ornamental. Uma pena que não seja usado no paisagismo.

Outra coisa que me chamou a atenção foi o encontro das águas do Rio Negro com as do Solimões. O passeio de barco aconteceu no último dia da viagem e tinha um guia, Gilton Barbosa, que contou algumas histórias interessantes. Uma delas foi sobre como a cheia interfere na vida da população ribeirinha: à medida que a água do Rio Negro sobe, os moradores de palafitas também sobem a altura do chão dessas casas, estruturando outro piso
um patamar acima do anterior quantas vezes forem necessárias para continuarem no seco. “Às vezes o piso fica tão próximo do teto que as pessoas não conseguem mais ficar de pé”, contou Gilton.

Outra história foi sobre o perigo de fazer xixi diretamente no Rio Negro, pois em suas águas existe um peixe, conhecido como candiru ou vampiro, que pode entrar no corpo humano até pelo canal urinário. É uma espécie parasita, pequena, mas comprida como uma enguia, que se alimenta do sangue do hospedeiro, de onde só pode ser retirada por meio de cirurgia. Que medo!

Duas horas e outros causos depois, chegamos ao destino. E por mais que todos do barco soubessem que é real a separação das águas do Rio Negro e do Solimões, cansei de ouvir as pessoas comentando: “Olha, a água não se mistura mesmo. É verdade”. O foco da atenção só mudou quando apareceram botos no Rio. Com máquinas fotográficas e celulares nas mãos, as pessoas agora queriam registrar o momento para levá-lo para casa. E só pararam quando alguém gritou que conseguiu a foto e se comprometeu em enviá-la por e-mail.

É extraordinário o efeito que a Natureza provoca quando é vista e sentida de perto. Ainda mais se for a paisagem amazônica durante um exuberante pôr do sol. Adorei e aconselho: se puder ir, vá.

A população ribeirinha do Rio Negro vive em palafitas

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