Integrando plantas às suas intervenções urbanas, grafiteiros estão criando composições que não passam despercebidas

– Por Marina Gabai

O trabalho do artista Robson Melancia é um exemplo brasileiro da integração entre Natureza e arte

Uma primavera (Bougainvillea spectabilis) que se debruçava sobre o muro cinza na cidade de Dois Córregos, no interior de Robson Melancia. O artista, que gosta de incorporar elementos da paisagem urbana ao seu trabalho, não teve dúvida: tocou a campainha e pediu aos muro. Autorização concedida, colocou a mão na massa e, em questão de horas, transformou uma parede sem graça no rosto alegre de uma jovem, e a primavera, em uma vasta cabeleira black power.

A foto foi parar no Facebook e viralizou. Ganhou elogios de gente das mais diversas estirpes: dos amantes da Natureza às militantes pelo empoderamento da mulher negra.

A ideia de brincar integrando um elemento da Natureza a uma obra, no entanto, não foi uma invenção de Melancia. “Eu já tinha visto na internet trabalhos similares, feitos por artistas estrangeiros, e até me aventurado a criar algo no estilo. Mas nenhum deles repercutiu desse jeito”, explica. Ele acredita que as cores vibrantes do desenho, aliadas ao fato de a primavera ser uma planta grande e vistosa, tornam difícil as pessoas não repararem no grafite.

PELO MUNDO

Fã da cultura geek, o francês OakOak gosta de explorar plantas e pequenas falhas nas ruas e construções para desenhar seus personagens preferidos. Em um trabalho, feito em 2012, os protagonistas dos quadrinhos Calvin e Haroldo descem por um caminho de falsa-vinha (Parthenocissus tricuspidata) agarrada à parede. Em outro, de 2015, um galho florido de glicínia (Wisteria floribunda) faz as vezes de cabelo para um personagem do desenho animado Os Simpsons.

É preciso uma mente muito criativa para enxergar em um portão ou muro cercado de plantas a tela perfeita para grafites como estes

O californiano Zoltron, conhecido por trabalhar com cantores e bandas famosos, é outro que gosta de incluir as plantas em seus grafites. Ele enxergou em um portão emoldurado por um arbusto o lugar perfeito para uma pintura do rosto do músico Jimi Hendrix. Ficou tão bom que agora é preciso certo esforço para ver o portão no local.

Já Ernest “ZACH” Zacharevic, da Lituânia, aproveitou um muro coberto por verde em Kuala Lumpur, na Malásia, para brincar com a ilusão de ótica. No grafite dele, uma homem levanta a “cortina verde” para dar uma espiadinha no movimento da rua.

A florada da glicínia se transformou no cabelo de um personagem, e o ramo da falsa-vinha virou caminho para outros dois

Esses quatro grafiteiros são apenas alguns dos muitos ao redor do mundo que encontraram nas plantas aliadas para suas artes – com uma busca rápida na internet é possível descobrir vários outros. E os trabalhos deles deixam claro que todos saem ganhando com essa mistura, principalmente quem encontra com as obras pelo caminho.

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