As flores só se formam em regiões de clima frio. Por isso é raro vê las no Brasil

– Por Ana Vazzola 

O tempero fresco é um dos segredos de um bom prato. Daí cada vez mais gente cultivar em casa hortas com salsinha, cebolinha, manjericão e – por que não – alho-poró (Allium ampeloprasum). Da mesma família da cebola e do alho, a hortaliça, que vai bem em todo o país, pode começar a ser colhida poucos meses após o plantio e é ótima para rechear tortas, quiches, temperar risotos, compor saladas e cremes.

No Brasil, seu cultivo começou tímido – até o fim do século passado, a dificuldade em encontrar a hortaliça fazia com que seu uso ficasse restrito aos  grandes chefes de cozinha –, mas com o tempo ela se popularizou e hoje é amplamente vendida em mercados e feiras livres.

Sua história, porém, é bem mais antiga: acredita-se que o alho-poró já era cultivado pelos egípcios há cerca de 5.000 anos. A planta também faz parte da mitologia do País de Gales, onde é cultuada há séculos – talvez desde a época dos druídas. Ela é usada, juntamente com o narciso, nas celebrações do Dia de São David, o padroeiro do país, e aparece no distintivo do quepe dos soldados do exército.

O alho-poró mede até 50 cm de altura e tem folhas longas, de até 90 cm de comprimento, que nascem sobrepostas umas às outras na forma de leque. Na base, forma-se um caule cilíndrico de 10 cm a 20 cm de comprimento, cuja parte subterrânea é esbranquiçada.

Devido a seu aspecto rústico, a presença da espécie no jardim costuma ficar restrita às hortas, já que ela  não se mistura bem a outras plantas.

CULTIVO SABOROSO

O cultivo do alho-poró requer alguns cuidados: o plantio das sementes é feito em sementeiras preenchidas com substrato orgânico regado de duas a três vezes ao dia. Quando atinge 15 cm de altura, a muda é transplantadas para o local definitivo, que pode ser um canteiro de no mínimo 20 cm de profundidade ou vasos bem drenados de 25 cm de profundidade. O ideal é que o substrato seja preparado com húmus de minhoca, na proporção de 150 g para cada 1 kg de terra. Acomode as mudas com espaçamento de 15 cm e cubra todo o torrão com substrato.

Após o transplante, as regas devem ser feitas em dias alternados no caso do plantio em canteiros e diariamente no cultivo em vasos. Para a adubação, recomenda-se aplicar a cada 15 dias 3 g de NPK 4-14-8 em cada muda.

Um aspecto importante do cultivo do alho-poró, segundo a bióloga Gabriela Pastro, é garantir a ele boa luminosidade. Espécie de sol pleno, ele precisa de no mínimo cinco horas diárias de sol e, quanto maior a incidência de luz, mais intenso é o seu sabor.

No terceiro mês após o plantio, costuma-se realizar a amontoa, que consiste na cobertura de parte do caule da planta – até o ponto onde começam as folhas – com um morrinho de terra. Isso protege o caule subterrâneo – a parte comestível do alho-poró – dos raios solares, fazendo com que ele fique esbranquiçado e, consequentemente, mais macio.

A colheita do alho-poró pode começar logo no quinto mês após o plantio e se estende por todo o ano – a produção é mais intensa nos meses de setembro e outubro. Para identificar as plantas que podem ser colhidas, basta observar a espessura do caule: se ele tiver entre 3 cm e 4 cm de diâmetro, está na hora de retirar o exemplar do solo, afastando a terra ao redor e puxando-o inteiro. “O bom do alho-poró é que ele não tem período certo para ser colhido e se mantém fresco por bastante tempo na terra”, afirma  Gabriela sobre a possibilidade de colher a planta apenas na hora de usá-la.

A hortaliça é bianual e, se não for colhida antes, começa a florescer no segundo ano. O surgimento das pequenas flores, que se agrupam em inflorescências   esféricas de 10 cm de diâmetro – elas despontam no ápice de hastes de 1,2 m de altura – é um indício de que o pseudocaule ficou amargo e já não pode ser mais usado na culinária. Como a floração só acontece em regiões de clima frio, é muito raro ver um alho-poró florido no Brasil.

No que se refere às pragas, a espécie é suscetível ao ataque dos pulgões, um pequeno inseto que se alimenta das folhas da planta. O combate é feito com a pulverização intensa de óleo de nim uma vez por semana até o problema desaparecer.

BOM PARA SAÚDE 

Para quem gosta de uma dieta saudável e leve, o alho-poró é um grande aliado. De sabor suave e macio, o caule subterrâneo é usado como tempero, na forma crua, cozida ou refogada, sempre mantido al dente para conservar sua textura e o sabor. Segundo a nutricionista Mônica Vitorino, ele é um bom substituto da cebola e do alho, principalmente para pessoas com problemas renais, já que apresenta metade da taxa de potássio que o alho comum. Mais duras e escuras, as folhas são menos comuns na culinária, mas também podem ser ingrediente de sopas.

Rico em fibras, fonte de vitamina A, C, K e de minerais como ferro e manganês, o alho-poró é eficaz na prevenção de doenças cardiovasculares, obesidade e artrite. Atua também como vasodilatador, sendo muito indicado para as gestantes. É, portanto, uma ótima pedida para quem busca uma alimentação saudável.

QUICHE DE ALHO-PORÓ E COGUMELOS

Ingredientes para a massa:

  • 90 g de manteiga sem sal ou óleo de coco
  • 1 colher (chá) de sal marinho
  • 1 colher (chá) de açúcar
  • 180 g de farinha de arroz
  • 2 gemas de ovos caipiras
  • 4 colheres (sopa) de água

Ingredientes para o recheio:

  • 1/2 xícara (chá) de alho-poró fatiado
  • 6 cogumelos portobello fatiados
  • 1 colher (sopa) de azeite de oliva
  • 4 palmitos pupunha fatiados
  • 300 ml de creme de leite
  • 4 ovos caipiras
  • 1 colher (chá) de sal marinho
  • 1 pitada de pimenta-do-reino

Modo de preparo:

Em uma bacia misture a manteiga, sal e açúcar. Incorpore bem. Adicione a farinha, as gemas e vá acrescentando a água aos poucos e mexendo até ficar com aparência de areia. Misture com as mãos até formar uma massa homogênea. Enrole-a no papel-filme e deixe na geladeira por 24 horas. Tire da geladeira 30 minutos antes de usar a massa.

Abra um papel-manteiga em cima da mesa, coloque a massa sobre ele e outro papel-manteiga por cima. Abra a massa entre os papéis-manteiga com um rolo. Coloque-a sobre a forma untada, distribua bem e tire o excesso. Pincele a massa com clara de ovo e leve à geladeira.

Para o recheio, incorpore os ovos, gemas, creme de leite, sal e pimenta. Refogue os cogumelos e o alho-poró em azeite e reserve. Coloque-o sobre a massa, adicione a mistura de ovos por cima e leve ao forno preaquecido a 180 ºC por 40 minutos.

Apesar da folhagem ornamental, o alho poró deve ficar restrito às hortas: ele é tão rústico que não se mistura bem com outras plantas


ALHO-PORÓ EM DETALHES

•  Nome científico: Allium ampeloprasum
•  Nomes populares: alho-poró
•  Família: Amarilidáceas
•  Origem: desconhecida, mas acredita-se que surgiu na Europa
•  Características: hortaliça herbácea de ciclo bianual. Atinge até 50 cm de altura e começa a ser colhida após cinco meses de plantio para consumo do caule subterrâneo
 Flores: raras no Brasil, surgem a partir do segundo ano de plantio entre o inverno e a primavera. São pequenas, exibem tom róseo, branco ou arroxeado e se agrupam em inflorescências esféricas de até 10 cm de diâmetro que se formam no ápice de hastes
•  Folhas: verde-escuras, longas, recurvadas e largas, medem até 90 cm de comprimento. Nascem sobrepostas umas às outras em forma de leque
•  Plantio: as sementes devem ser plantadas em sementeira com substrato orgânico e regadas de duas a três vezes por dia. Quando as mudas alcançarem 15 cm de altura, transplante-as para canteiros de no mínimo 20 cm de profundidade ou vasos de 25 cm de profundidade preparados com 150 g de húmus de minhoca para cada 1 kg de terra. Mantenha 15 cm de distância entre ela
•  Adubação: quinzenalmente, aplique 3 g de NPK 4-14-8 em cada muda
•  Luz: sol pleno
•  Solo: arenoargiloso
•  Clima: subtropical árido e temperado quente
•  Regas: os exemplares em canteiro devem receber água em dias alternados. Já os cultivados em vasos precisam ser molhados todos os dias
•  Propagação: por sementes

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