Batizadas em homenagem a rainhas, príncipes e princesas, rosas, clemátis e até a brasileiríssima vitória-régia são nobres inclusive no nome

— Por Ana Luísa Vieira

É fato que toda planta tem sua aura de nobreza. Há um grupo seleto, porém, que carrega o status da soberania no nome: são plantas batizadas em homenagem a rainhas, princesas, príncipes e outros membros da realeza mundo afora. Algumas foram desenvolvidas especialmente para prestar tributo a suas altezas; outras nasceram plebeias e tiveram o privilégio de receber títulos nobres ao longo da vida. É o caso, por exemplo, da vitória-régia (Victoria amazonica) – cujas alcunhas popular e científica foram inspiradas na rainha Vitória, que governou a Grã-Bretanha de 1837 a 1901.

Típica dos igarapés e igapós da região amazônica, a vitória-régia foi batizada em homenagem à rainha Vitória, que governou a Grã-Bretanha entre 1837 e 1901

Como a monarca subiu ao poder no ano em que a planta foi descoberta, o botânico inglês John Lindley, que descreveu a vitória-régia pela primeira vez, achou por bem carimbar com o símbolo da coroa inglesa uma espécie tipicamente amazônica – a vitória-régia é nativa da região que se estende do Norte do Brasil até as Guianas. No fim das contas, o nome foi o de menos para que a espécie se estabelecesse no trono de soberana entre as aquáticas: imponente por Natureza, ela esbanja beleza ao flutuar sobre lagos e rios na forma de folhas circulares que atingem até 1,5 m de diâmetro.

FLORES PARA RAINHAS

Antes da rainha Vitória, sua avó, Carlota de Mecklemburgo- Strelitz, já havia recebido homenagem semelhante. O nome botânico da estrelítzia (Strelitzia reginae) – espécie originária da África do Sul que une folhas laminares e flores vistosas em tons de azul e amarelo-alaranjado – é uma junção do sobrenome da monarca ao termo reginae – que significa “da rainha”, em latim.

O tributo se deu porque Carlota, soberana da Grã-Bretanha de 1761 a 1818 e entusiasta confessa do universo botânico, colaborou com as expedições que levaram espécies de vários países a Kew Gardens, um dos maiores e mais antigos complexos de jardins do mundo – e primeira parada da estrelítzia fora de casa antes de se tornar uma das espécies mais cultivadas nos trópicos. Seguindo a tradição da família, a rainha Elizabeth, que governa o Reino Unido desde 1952, empresta sua graça a uma nobre rosa de perfume leve.

A rainha Carlota – que era fã de botânica e ajudou na expansão de Kew Gardens – inspirou o batismo da exótica estrelítzia

A rainha-Elizabeth (Rosa ‘Queen of England’) tem pétalas rosa-alaranjadas e foi especialmente desenvolvida em honra da monarca em 1954, como comemoração à sua ascensão ao trono. A espécie já foi premiada pela All-America Rose Selections – tradicional sociedade norte-americana que avalia resistência, durabilidade e beleza de plantas do gênero – e entrou para o Hall da Fama das Rosas – sim, ele existe e inclui os exemplares favoritos de organizações de apaixonados por rosas de vários países.

Embora eles sejam maioria, nem só de nobres ingleses se faz a história das homenagens botânicas à realeza. A rainha Fabíola, da Bélgica, também tem uma xará em forma de planta. É a triteleia-rainha-fabíola (Triteleia laxa ‘Queen Fabiola’) – espécie bulbosa que, no fim da primavera, dá origem a flores roxas cujo formato lembra o de uma estrela de seis pontas.

ENTRE PRÍNCIPES E PRINCESAS

Como não poderia ser diferente, a mais famosa entre as princesas, Diana Spencer, do Reino Unido, inspirou o nome de várias plantas – especialmente depois de sua morte prematura, aos 36 anos de idade. Entre os primeiros tributos, destaca-se uma perfumada rosa de nome Diana, Princesa de Gales (Rosa ‘Diana, Princess of Wales’). A variedade foi desenvolvida nos Estados Unidos em 1997 e tem como grande diferencial as pétalas brancas com bordas em tons rosados, que vão do claro ao magenta gradualmente.

A rosa desenvolvida como um tributo a Lady Di tem pétalas que misturam tons de branco e rosa

O nome da princesa também foi emprestado a uma clemátis (Clematis texensis ‘Princess Diana’) que, embora não seja perfumada como a rosa, esbanja vistosidade graças às flores de cor magenta vibrante. Diferentemente da maioria dos cultivares do gênero – cujas pétalas se dispõem de forma estrelada –, essa variedade conta com flores de formato campanulado, semelhante ao das tulipas. Antes de Diana, o príncipe Charles, que foi casado com ela por 11 anos, já ganhara sua homenagem em forma de clemátis: a Clematis ‘Prince Charles’. As flores do cultivar – introduzido nos jardins ingleses em 1986 – seguem o padrão do gênero e reúnem seis pétalas distribuídas em forma de estrela. Seu charme é que vão do roxo-claro ao azul-malva de acordo com a luz.

Princesa Diana e príncipe Charles receberam homenagens em forma de clemátis – ele inspirou o nome do cultivar roxo (no topo) e ela, do magenta

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