Saiba mais sobre as mini e micro-orquídeas, plantas cujas flores não precisam de mais do que 2 cm para esbanjar delicadeza

Texto Laura Neaime | Fotos Valério Romahn

Parece até injustiça da Natureza: belíssimas e cheias de detalhes, as flores de algumas espécies de orquídeas – as chamadas micro e miniorquídeas – não passam de 2 cm e, em muitos casos, só podem ser bem observadas com o auxílio de lupas ou lentes de aumento. O tamanho reduzido, porém, não diminui o interesse das pessoas por elas. Muito pelo contrário: como cabem em qualquer cantinho – literalmente –, essas plantas se adaptam aos mais variados ambientes e só fazem ganhar mais fãs.
A maior parte dos diminutos exemplares são nativos da América Latina, especialmente do Brasil e do Equador. A Christensonella neowiedii (1), encontrada na Argentina e nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, chama atenção pelas flores amarronzadas que não ultrapassam 1 cm – a foto da página ao lado, que compara as dimensões da espécie com as de uma cabeça de fósforo, não deixa mentir. Sua florada acontece no outono e no começo da primavera.

Comparar as mini e micro-orquídeas a palitos de fósforo e moedas é uma das formas de ilustrar o tamanho diminuto de suas flores

Já a taiwanesa Gastrochilus retocallus (2), conhecida também pelo sinônimo Haraella retrocalla, esbanja textura nos seus 2 cm de flor. A pelugem do labelo amarelo com uma mancha roxa sobressai na espécie que floresce o ano todo.

O labelo coberto por pelugem é um dos diferenciais da Gastrochilus retocallus, que apresenta flores de 2 cm

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De tão diminutas, algumas espécies de mini e micro-orquídeas dispensam até mesmo os vasos: cascas de pequenas sementes se tornam recipientes perfeitos para seu cultivo. A brasileira Christensonella ferdinandiana (3), originária da Mata Atlântica da região Sudeste, é um exemplo do sucesso da técnica. Presa à casca de uma macadâmia, a espécie encanta com flores semi-cerradas na cor amarelo-claro e com labelo marrom.

A casca de macadâmia serve como vaso suspenso para a delicada Christensonella ferdinandiana

Se por um lado o tamanho reduzido das plantas facilita seu cultivo em recipientes criativos, por outro ele torna mais difícil – para não dizer impossível – a hibridização das espécies, procedimento que é muito comum nas orquídeas maiores. O pólen de flores minúsculas, como as da latina Ornithidium coccineum (4), que medem 2 cm, é difícil de manipular.

Com até 2 cm de diâmetro, as flores do Ornithidium coccineum se perdem facilmente em meio à longa folhagem da planta

Outra espécie nativa desde o México até Equador e Colômbia e que até hoje não foi modificada pelo homem é a Maxillariella variabilis (5), que aprecia clima quente e regas a cada dois dias. O termo variabilis em seu nome indica uma característica curiosa da orquídea: o colorido das flores de até 1,5 cm pode variar de um exemplar para o outro, indo do amarelo ao vermelho intenso.

A cor da florada da Maxillariella variabilis é sempre uma surpresa: pode ir do amarelo ao vermelho intenso

PARA TODOS OS GOSTOS

A variedade de formatos, portes e cores das mini e micro-orquídeas é encantadora. A Dryadella zebrina (6), por exemplo, destaca-se não só pelas flores amarelas e pintadas, de 1,5 cm, mas também pelo porte compacto da planta como um todo: juntas, folhagem e flores não passam dos 5 cm. A espécie fica linda em pequenos vasos e é perfeita para enfeitar parapeitos de janelas ou aparadores.

Só mesmo olhando muito de perto para ver em detalhes a beleza das pétalas amarelas com pintas escuras da Dryadella zebrina

O Bulbophyllum saltatorium var. albociliatum (7), por sua vez, apresenta folhas de até 10 cm e longas hastes florais de até 30 cm. Chama atenção pelo labelo franjado das flores roxas de 1,5 cm.
Em comum, as duas pequenas orquídeas têm a necessidade de regas constantes – de cinco a sete vezes por semana. Aliás, bastante umidade e pouco sol são requisitos da maior parte das mini e micro-orquídeas, que costumam se desenvolver bem em ambientes protegidos da luz direta.

Nem mesmo o tamanho reduzido das flores da Bulbophyllum saltatorium var. albociliatum faz com que o labelo franjado da espécie passe despercebido

Para mantê-las na área externa, o ideal é criar uma cobertura de sombrite ou colocá-las sob a sombra de outras plantas. Em relação à umidade do ar, o ideal é que gire em torno de 70% – o que pode ser obtido molhando o chão diariamente; com o posicionamento de fontes ou bicas nas proximidades; ou, então, borrifando água com regularidade. Vale ressaltar que o substrato deve ser bem drenado para evitar o apodrecimento das finas raízes.

Nem sempre as folhas das mini e micro-orquídeas são tão pequenas quanto as flores. Enquanto na Dryadella zebrina o conjunto não passa dos 5 cm de altura, o Bulbophyllum saltatorium var. albociliatum tem folhas de 10 cm e hastes florais de 30 cm

NANICAS DA COLEÇÃO

Ao se deparar com a centro-americana Stelis argentata (8) e a Specklinia trifida (9), nativa do Sudeste do Brasil, é fácil confirmar que, para a Natureza, 5 cm são mais do que suficiente para criar verdadeiras maravilhas. As duas estão entre as menores orquídeas existentes e dão um show de beleza com as flores de apenas 0,5 cm.

O conjunto de minúsculas flores dispostas pela haste de 10 cm é o grande diferencial da Stelis argentata

No caso da Specklinia trifida, as medidas compactas valem também para a folhagem: a orquídea não ultrapassa os 50 mm e se enche de flores amarelo-ouro durante a primavera e o verão. A florada da Stelis argentata (8) é tão abundante quanto a da sua pequena parente, mas diferencia-se na apresentação. Enquanto a primeira espécie tem uma única flor em cada haste, na orquídea centro-americana, as flores surgem agrupadas em hastes de 10 cm de comprimento de setembro a dezembro.
Seja como for, com flores de 5 mm a 2 cm, as mini e micro-orquídeas ratificam a capacidade da Natureza de surpreender cada vez mais e garantem que beleza cabe em qualquer lugar.

A espécie de 5 cm, com flores que não ultrapassam 0,5 cm, economiza no tamanho, mas esbanja charme e graciosidade

Consultoria: Erwin Bohnke (orquidófilo), tel.: (11) 5851-1885

 

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