Com propriedades medicinais, gosto de agrião e história centenária, a capuchinha prova que é mais que uma planta bonita no jardim

TEXTO ANA LUÍSA VIEIRA | FOTOS VALERIO ROMAHN

São tantas as facetas da capuchinha (Tropaeolum majus) que seria covardia destacar apenas seu efeito ornamental no jardim. Sim, ela dá belas flores em tons vivos de amarelo, vermelho e laranja, mas também vai muito bem à mesa e contribui para a boa saúde de quem a consome. De quebra, carrega uma biografia com passagens curiosas que remontam ao descobrimento das Américas.

Assim como aconteceu com outras espécies originárias do Novo Mundo, a capuchinha foi levada ao Velho Continente no século 16, logo depois de ser encontrada pelos europeus nas regiões montanhosas do Peru e do México, de onde é originária. A planta recebeu, então, o apelido de “agrião da índia”, por conta da semelhança entre seu gosto e o da hortaliça. O “da índia” é uma referência ao país asiático já que, na época do descobrimento, os colonizadores espanhóis acreditavam ter chegado às Índias, não à América.

Capuchinha, como a planta é chamada no Brasil e em Portugal, remete à palavra “capuz” e é uma alusão às flores da espécie, cujo formato lembra o da capa usada pelos frades da ordem franciscana dos capuchinhos.

Curiosidades históricas à parte, o sabor da herbácea é realmente parecido com o do agrião. E isso não vale apenas para as folhas. As flores, que também são comestíveis, têm o mesmo gostinho levemente picante e só se diferenciam da folhagem pela cor e pela textura aveludada.

As flores aveludadas da capuchinha despontam em tons vistosos de laranja, amarelo e vermelho

Saúde no jardim

Além de ser saborosa, a capuchinha faz bem à saúde: tem alto teor de betacaroteno – uma substância que aumenta a imunidade e auxilia na prevenção de doenças da visão – e de vitaminas A e C. Dizem que, no passado, a espécie era tiro e queda no tratamento do escorbuto, uma doença decorrente da carência de vitamina C e que afeta gengivas, dentes e articulações. Há também quem diga que a planta auxilia na prevenção da queda de cabelo e no combate ao envelhecimento da pele.

A nutricionista Mariana Thomaz, do Hospital Paulistano, de São Paulo, diz que hoje a capuchinha é usada na alimentação principalmente devido a seu baixo valor calórico. “Na dieta, o essencial é equilibrar os nutrientes. Portanto, é importante combiná-la com alimentos que tenham outros benefícios nutricionais.”

No paisagismo, a versatilidade é um dos pontos fortes da capuchinha. Em condições naturais, ela é rasteira e pode compor maciços em forma de forração. Já quando conduzida, desenvolve-se como uma trepadeira. Em ambos os casos, os ramos da planta chegam a ter 2 m de comprimento. Porém, existe um grupo de híbridos da espécie-tipo, o chamado Tropaeolum majus – Dwarf Group, cuja principal característica é o porte anão, com ramos menores, que dão margem ao cultivo da planta como pendente em vasos e jardineiras.

Como cultivar

O cuidado com a capuchinha não guarda grandes segredos. O solo, com pH em torno de 6, deve ser, antes de tudo, fofo e bem aerado. Prepare-o com esterco bem curtido e depois abra o berço superficial de 20 cm x 20 cm que acomodará as sementes. Um dedo abaixo da terra é profundidade suficiente para que as raízes da planta se desenvolvam. Sílvia Jeha, herborista da Sabor de Fazenda, garante: “Em três dias, ela já começa a germinar”. A partir daí, as regas devem ser diárias, mas sempre com muito cuidado para não encharcar o substrato, pois a planta não tolera água em excesso.

É essencial que o espaço escolhido para o plantio seja bem iluminado, já que a capuchinha precisa de sol pleno para desenvolve-se com saúde. Como o crescimento rápido é mais uma de suas virtudes, é possível fechar um canteiro de 1,5 m de diâmetro em apenas dois meses. Passado este período, as flores começam a despontar em tons que variam do amarelo ao vermelho e dão origem a frutinhos que parecem alcaparras, tanto no visual quanto no paladar. Eles podem ser conservados em vinagre e detêm o título pejorativo de “alcaparra dos pobres”. As folhas da espécie são redondas, medem até 15 cm de diâmetro e têm textura lisa e sem brilho.

A adubação pode ser feita a cada 90 dias com composto orgânico. “Se ainda assim os nutrientes não forem suficientes para a planta crescer saudável, reduza o intervalo entre as fertilizações para 45 dias”, pondera Sílvia Jeha.

Já a chefe de cozinha Rita Taraborelli dá uma dica para quem quiser investir em folhas viçosas para a salada: “O segredo é colher as partes da planta que se deseja usar, lavá-las e utilizá-las ainda frescas na preparação dos pratos”.

Na Sabor de Fazenda, as mudas de capuchinha saem por R$ 4.

Manteiga de capuchinha

Ingredientes
• 200 gramas de manteiga sem sal em temperatura ambiente
• 16 flores de capuchinha
• 1 pitada de flor de sal, sal do himalaia ou outro que preferir
Modo de preparo

Coloque todos os ingredientes em uma batedeira e misture até ficar homogêneo. Disponha em um recipiente e sirva com pão sobre legumes grelhados. A manteiga pode ser conservada em geladeira por até uma semana.
Receita: Rita Taraborelli (chefe de cozinha), www.ritataraborelli.com

Capuchinha em detalhes

  • Nome científico: Tropaeolum majus
  • Nomes populares: capuchinha, capuchinho, chagas
  • Família: tropaeoláceas
  • Origem: regiões montanhosas do México e do Peru
  • Características: herbácea anual, aromática e de ramos rasteiros ou escandentes que chegam a até 2 m de comprimento. O caule é mole e carnoso
  • Folhas: contam com cinco nervuras principais e são arredondadas, lisas e sem brilho. Têm coloração verde-clara e podem medir até 15 cm de diâmetro
  • Flores: são solitárias e medem, em média, 7 cm de diâmetro. Aparecem o ano todo em variações de amarelo, laranja e vermelho, e têm textura aveludada
  • Frutos: nascem depois das flores e parecem alcaparras. Quando secos, dão origem às sementes que garantem a reprodução da espécie
  • Luz: sol pleno
  • Solo: fofo e bem aerado, rico em matéria-prima, deve ter pH em torno de 6
  • Clima: subtropical de altitude
  • Plantio: antes do plantio, o solo deve ser preparado com esterco bem curtido numa proporção de cinco litros por m². Depois, é só acomodar as sementes em berços superficiais de 20 cm x 20 cm
  • Regas: diárias, mas com cuidado para não encharcar o substrato
  • Adubação: Sílvia Jeha recomenda aplicar adubos orgânicos a cada 45 ou 90 dias, dependendo da necessidade do solo
  • Reprodução: por sementes ou estacas retiradas dos ramos
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