Do branco ao vermelho e passando pelo rosa, há flores que não se contentam com apenas uma cor e tingem as pétalas com o tempo

Texto Ana Luísa Vieira | Fotos Valério Romahn

A cor faz toda a diferença na beleza das flores. E não são apenas os amantes da Natureza que notam: abelhas, borboletas e passarinhos, que se aproximam delas para beber seu néctar, são atraídos – entre outros fatores – pelo colorido vistoso. Em algumas espécies, entretanto, a coloração das flores é mutante: se transforma em um curto período de tempo, deixando a planta cheia de flores de cores diferentes.

Um exemplo clássico desse fenômeno é o manacá-da-serra (Tibouchina mutabilis) (1), árvore nativa da Mata Atlântica e velha conhecida dos brasileiros: suas flores nascem com pétalas esbranquiçadas que, em poucos dias, são completamente tingidas de lilás-escuro. O termo mutabilis – mutável, em latim –, que aparece no nome científico da espécie, é uma referência a esse processo. Como cada flor desponta em um dia diferente, a copa do manacá vira um verdadeiro espetáculo de tom sobre tom entre novembro e fevereiro, época em que a planta floresce.

Enquanto as flores do manacá-da-serra surgem brancas e depois ficam lilás-escuras, as do manacá-de-jardim despontam azul-violeta e desbotam com o passar dos dias

Já as flores do manacá-de-jardim (Brunfelsia uniflora) (2) – que, apesar do nome popular, é de outra família – surgem durante o inverno e a primavera. No que diz respeito à cor, também fazem o caminho inverso do manacá-da-serra: despontam inicialmente em tons de azul-violeta e, com o passar dos dias, ficam brancas – versatilidade que rendeu à espécie o apelido de ontem-hoje-amanhã. A planta também é conhecida como manacá-de-cheiro, já que, independentemente das cores, sua florada é intensamente perfumada.

PINTANDO AS ÁGUAS

Não bastasse o fato de mudarem de cor, as flores da vitória-régia ainda exageram no tamanho: medem até 40 cm de diâmetro

Lagos e rios também são presenteados com a beleza das flores que mudam de cor. A da vitória-régia (Victoria amazonica) (3), que flutua sobre os igapós e igarapés da Amazônia de março a julho, é dessas que se transformam: nasce branca na calada da noite e, nos dias que se seguem, torna-se gradualmente rósea. Tanto quanto pela mudança no visual, as flores da espécie chamam a atenção pelo tamanho: podem atingir até 40 cm de diâmetro. É pena que o espetáculo não dure muito mais de 48 horas.

Para quem vê o tom rosa-vibrante da flor da ninfeia-rubra, fica difícil acreditar que, quando surgiram, as pétalas eram brancas

Mais intensa na metamorfose, a flor da ninfeia-rubra (Nymphaea rubra) (4) desabrocha alva para depois travestir-se de rosa-vibrante. Em se tratando de tamanho, elas são um pouco mais modestas e não passam dos 15 cm de diâmetro. Exótica por excelência, a planta é nativa da Índia e de Bangladesh, onde floresce durante o verão em lagos, charcos e terrenos brejosos.

A LOUCURA DA ROSA

Recordistas de velocidade, as flores do Hibiscus mutabilis mudam de branco para magenta ao longo de 24 horas

A tradicional família dos hibiscos também conta com um integrante com flores que mudam de cor. É o Hibiscus mutabilis, cujas pétalas – que podem ser simples ou dobradas – vão do branco ao magenta em menos de 24 horas. A transformação aparente em tão curto intervalo de tempo acabou por render à planta o malvado apelido de rosa-louca – muito embora a espécie não tenha nenhum parentesco com as clássicas rosas.

Ainda que cada uma das flores mutantes deste hibisco dure apenas um dia no jardim, a florada é abundante e cobre por completo a copa do arbusto – que alcança até 4 m de altura. Oportunidades não faltam para apreciar o belíssimo espetáculo, já que a planta floresce o ano todo, com maior intensidade nos meses do outono.

COMO BORBOLETAS

Há quem diga que as pequenas flores da gaura (Gaura lindheimeri ‘Siskiyou Pink’) lembram borboletas. Pelo sim ou pelo não, assim como os graciosos insetos, que se desenvolvem a partir das lagartas, suas pétalas experimentam uma metamorfose: despontam brancas na madrugada e, ao fim do dia seguinte, estão pintadas de rosa.

O fenômeno acontece entre os meses do verão e do outono, época de floração da espécie. Nas outras estações, a gaura exibe apenas sua robusta ramagem em forma de touceira, que atinge até 90 cm de altura. A planta é nativa dos Estados Unidos e do México, mas também pode ser apreciada no Brasil em regiões de clima subtropical.

Com apenas 2,5 cm de diâmetro, as flores da gaura parecem borboletas pairando sobre a herbácea

QUEM PINTA AS FLORES?

A substância responsável pela mudança de cor em algumas flores responde pelo nome de antocianina – um pigmento natural cujo tipo e concentração varia ao longo dos dias, determinando se uma flor será rosa, vermelha, roxa ou azul.

No caso do manacá-da-serra, por exemplo, a mudança na concentração de antocianina visa indicar às borboletas, passarinhos e outros insetos se uma flor já foi ou não visitada por eles. Só não pense que os bichinhos assistem à transformação da mesma forma que as pessoas: a visão deles é ultravioleta e mostra imagens bem diferentes das vistas pelos humanos.

É questão de horas para que as flores da espécie se transmutem de branco para rosa

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