Texto Ana Vazzola 

Os frutos saborosos são apenas o primeiro dos muitos bons motivos para se ter essa frutífera no jardim. Crédito: Shutterstock

Na mesa do café da manhã o mamão (Carica papaya) tem lugar garantido. Mas não é só lá. A fruta de polpa carnosa e levemente adocicada é daquelas que vão bem de todo jeito: na sobremesa, no lanche da tarde, no suco, na vitamina e até como doce. E faz um bem danado para a saúde – quem nunca ouviu da mãe aquele famoso “tem que comer mamão para ajudar na digestão?”. E olha que muitas delas nem se lembram que a fruta é rica em vitamina C.
No Brasil, são duas as principais variedades: a papaia, arredondada e mais adocicada; e a formosa, maior e alongada. Quem se delicia com o mamão, porém, talvez nem desconfie que, além do fruto, as folhas e caule do mamoeiro também rendem boas experiências na cozinha.

O mamoeiro começa a frutificar nove meses após o plantio e, ao longo de seus três anos de vida, é capaz de presentear quem o cultiva com até 300 frutos. Crédito: Valério Romahn

Enquanto as folhas jovens podem ser consumidas refogadas, igualzinho às do espinafre, do caule da planta é extraído um látex que serve para amaciar carnes. Do mamoeiro também se aproveita o chamado pau do mamão, o miolo esbranquiçado retirado da parte mais baixa do caule e que, depois de cortado em pedaços e ralado, é usado no preparo de um doce muito parecido com a cocada.

CURIOSIDADES DE UM VELHO CONHECIDO

Descoberto pelos espanhóis no sul do México e em regiões da América Central, acredita-se que o mamoeiro chegou ao Brasil por volta de 1587. Adaptou-se tão bem por aqui que o país hoje é o segundo maior produtor mundial da fruta, atrás apenas da Índia. Mas, mesmo com toda essa popularidade, muita gente ainda se surpreende ao descobrir que a planta de caule bem definido e até 3 m de altura não é uma árvore, e sim uma semi-herbácea – nome dado às espécies que não apresentam lenho.

A pista para descobrir o sexo do mamoeiro é observar as flores: elas são sempre branco-esverdeadas, mas apresentam diferenças nas plantas masculina, feminina e hermafrodita

E que, por serem dioicos, os pés de mamão se dividem em dois tipos: machos e fêmeas. Existem ainda exemplares hermafroditas.
Para diferenciá-los, o segredo é observar as flores que, embora sejam sempre branco-esverdeadas, mudam conforme o sexo do mamoeiro. Nas plantas femininas, elas nascem junto ao caule e são maiores; nas hermafroditas, se formam no mesmo local, mas são menores; e, nas masculinas, agrupam-se nas extremidades de pedúnculos bem longos. Os frutos também variam de uma planta para outra: os que surgem de flores femininas e hermafroditas são, respectivamente, arredondados e alongados, ambos ótimos para o consumo. Já os das plantas masculinas apresentam deformações e sabor alterado.

TRUQUES PARA UM PLANTIO BEM-SUCEDIDO

Por ser uma planta ornamental, o mamoeiro tem múltiplos usos no jardim: pode ser cultivado em canteiros, como planta isolada, combinado com outras espécies de menor porte e até em vasos, sempre sob sol pleno.
Rápida na frutificação, a espécie começa a produzir nove meses após o plantio e ao longo de seus três anos de vida é capaz de gerar até 300 frutos. Típica de clima tropical quente, ela se adapta melhor às regiões Norte e Nordeste do Brasil, mas o produtor Edilson Giacon dá a dica para quem quer cultivá-la no Sul e no Sudeste: “É só misturar ao substrato pedaços de telha, tijolos ou madeira. Esses materiais ajudam a reter o calor e favorecem o desenvolvimento da planta”. A preferência pelo calor retido por esses materiais explica por que é tão comum os mamoeiros crescerem espontaneamente próximo a calçadas e muros.

No Brasil, os mamões mais conhecidos são o papaia, menor e mais doce, e o formosa, que é maior e alongado. Ambos podem ser consumidos in natura
e em receitas diversas

O jeito mais fácil de se cultivar o pé de mamão é a partir de mudas com cerca de 40 cm de altura, que devem ser plantadas preferencialmente na primavera e no verão. O único inconveniente é que, como elas são acomodadas no solo ainda jovens, antes mesmo do florescimento, não há como saber se o exemplar escolhido é macho, fêmea ou hermafrodita. Abra berços de 30 cm x 30 cm, misture à terra retirada 1 kg de húmus e encaixe a muda – é importante cobri-la 2 cm acima do torrão.

Crédito: Shutterstock

Quem preferir pode obter o pé de mamão a partir de sementes, e Giacon ensina como aumentar as chances de se obter plantas femininas ou hermafroditas: corte o mamão ao meio na tansversal e descarte as sementes da parte superior – a que estava presa ao mamoeiro –, pois ali a concentração de grãos masculinos é maior. Lave as demais sementes em água corrente, coloque-as sobre uma folha de jornal e deixe-as secar por sete a dez dias. Deposite até 15 sementes em um berço previamente preenchido com substrato e regue. Proteja as sementes da luz solar direta cobrindo-as com folhas ou um pouco de palha.

O mamoeiro gosta de lugares quentes e pode brotar espontaneamente junto a muros e calçadas. O retratado à esquerda nasceu em uma fenda na parede. As folhas, flores e frutos se concentram no ápice da planta

Quando as mudas brotarem e alcançarem os 20 cm de altura é hora de fazer o desbaste: selecione as três melhores e descarte as demais.

MAMÃO EM DETALHES

• Nome científico:  Carica papaya

• Nomes populares: mamão, mamoeiro, papaia

• Família: Caricáceas

• Origem: sul do México e América Central

• Características: semi-herbácea de até 3 m de altura de caule esverdeado, não ramificado e que produz seiva leitosa. Dá frutos de grande qualidade por até três anos. Depois continua frutificando por alguns anos, mas os frutos perdem o vigor

• Folhas: com cerca de 60 cm de diâmetro e profundamente recortadas, nascem apenas no topo da planta

• Flores: por ser uma espécie dioica, existem mamoeiros com flores masculinas, femininas e hermafroditas. As femininas são maiores e nascem bem próximas ao caule da planta; as hermafroditas também se formam junto ao caule, porém são menores; e as masculinas surgem em grupos nas extremidades de longos pedúnculos

• Frutos: de colorido amarelo, alaranjado ou laranja-avermelhado, têm polpa carnosa, suculenta e de sabor adocicado. Quando abertos, revelam uma cavidade interna tomada por uma grande quantidade de sementes tenras e pretas. Os que surgem de flores femininas são arredondados, os de flores hermafroditas, alongados, e os de flores masculinas, deformados e, portanto, não indicados para a comercialização

• Luz: sol pleno

• Solo: arenoargiloso, rico em matéria orgânica e bem drenado

• Clima: tropical quente, tolerante ao frio subtropical de baixa altitude em regiões não sujeitas a geadas

• Plantio: para o plantio de mudas, abra berços de 30 cm x 30 cm e misture à terra local 1 kg de húmus. Acomode a planta de modo a cobrir o torrão com 2 cm de terra. Em regiões frias, o berço deve ter 60 cm x 60 cm e ser preenchido com partes iguais de terra do local acrescida de 1 kg de húmus e uma mistura de pedaços de telha, tijolo e madeira – materiais que ajudam a reter o calor. Para o plantio por sementes, o preparo do solo é o mesmo. As sementes, porém, devem ser retiradas do fruto, lavadas em água corrente e deixadas para secar à sombra por um período de sete a dez dias. Espalhe 15 delas sobre o substrato e, quando as mudas estiverem com 20 cm de altura, faça o desbaste deixando apenas as três mais fortes. Quando as mudas florescerem, será possível identificar o sexo delas. Se uma delas for hermafrodita, as demais podem ser descartadas. Caso contrário, será preciso manter pelo menos uma planta masculina e uma feminina para que haja a polinização cruzada e a formação dos frutos

• Regas: três vezes por semana até a planta atingir 1 m
de altura. Depois, podem ser semanais

• Adubação: deve ser iniciada 90 dias após o plantio e consiste na aplicação de 5 litros de húmus de minhoca nos meses de agosto e dezembro. Se o substrato usado no plantio tiver sido acrescido de tijolo, telha e madeira, aumente a quantidade de húmus para 10 litros

• Reprodução: por sementes ou estaquia

MOUSSE DE MAMÃO

Ingredientes
1 mamão papaia cortado em cubos
1/2 xícara de açúcar mascavo
15 g de gelatina sem sabor dissolvida em água
4 claras em neve
2 colheres de requeijão light
2 colheres (sopa) de nibs de cacau ou raspas de chocolate

Modo de preparo
Coloque o mamão e o açúcar mascavo em uma panela e leve ao fogo baixo. Mexa até o mamão começar a desmanchar. Acrescente a gelatina sem sabor dissolvida em água de acordo com as orientações da embalagem e mexa por 4 minutos. Retire do fogo e aguarde esfriar. Enquanto isso, bata as claras em neve com uma pitada de sal, até obter uma consistência firme. No liquidificador, bata a mistura da panela com o requeijão light, até obter um creme liso. Reserve um pouco para enfeitar no final. Ao restante, incorpore as claras em neve, mexendo devagar para não tirar o ar das claras. Divida a mousse em taças e leve para a geladeira por uma hora até ficar firme. Para servir, coloque um pouco do creme reservado por cima e salpique nibs de cacau ou raspas de chocolate.

Receita:  Malu Lobo (chef especializada em gastronomia natural e funcional), www.nutrasaudenacozinha.com.br

Consultoria: Edilson Giacon (produtor da Ciprest Viveiro de Mudas e Plantas), tel.: (19) 3451-5824; Ângela Konig (produtora da Arvoria), tel.: (19) 98179-5802, www.arvoria.com.br; Luis Bacher (produtor da Fazenda Citra), tel.: (19) 3451-1221

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