Belas e de aspecto delicado, as orquídeas desse gênero realçam o jardim com cores intensas, perfume e labelos finamente desfiados

TEXTO HELOÍSA CESTARI | FOTOS VALERIO ROMAHN

Rústicos, marcantes e ao mesmo tempo delicados, os dendróbios encantam os orquidófilos com suas inflorescências fartas, que chegam a dar mais de uma centena de flores em cachos, quase sempre pendentes. Não à toa, esse gênero de orquídea é um dos mais numerosos e populares no mundo, somando cerca de 1.200 espécies. Mas somente algumas delas apresentam uma característica peculiar, que as torna ainda mais especiais: franjas no labelo.

Em alguns casos essa pilosidade aparece na própria superfície do labelo ou das pétalas. Em outros, desponta nas bordas como se fosse uma fazenda desfiada, finamente recortada pelas mãos de algum artesão ou rendeira. É o caso da orquídea popularmente conhecida como olho-de-boneca (Dendrobium fimbriatum var. oculatum). Originária da Ásia como a maioria dos dendróbios, ela chama a atenção não só por causa do tom amarelo-ouro de suas flores, que contrasta com a mácula escura do miolo, e pelo comprimento de suas hastes (pseudobulbos), que chegam a 1,5 m, mas principalmente pelo delicado recorte na borda de seu labelo, que confere uma aparência única à planta.

Conhecido como orquídea olho-de-boneca, o Dendrobium fimbriatum var. oculatum tem bordas finamente recortadas

Sol, umidade e ventilação

O nome dendróbio vem da união de duas palavras gregas: dendron, que significa árvore, e bios, vida, em referência à Natureza epífita das orquídeas desse gênero, cujo hábitat é o tronco das árvores. Mas elas também se adaptam bem em vasos e até podem ser usadas no paisagismo, desde que o ambiente tenha sol e boa ventilação. “O vento ajuda a não queimar as folhas e evita o aparecimento de pragas”, explica o orquidófilo Erwin Bohnke, da EB Orquídeas, lembrando que os dendróbios são plantas de clima tropical de altitude. Isso significa que eles vão bem em locais com grande diferença de temperatura ao longo do dia, com manhãs ensolaradas, noites frias e ventos fortes. “Esse choque térmico favorece a floração.”

O Dendrobium thyrsiflorum forma belíssimos cachos de flores brancas com o labelo franjado amarelo, semelhante a uma gema de ovo

Um exemplo é o Dendrobium thyrsiflorum. Nativo das montanhas do Himalaia, ele apresenta uma haste floral longa, que forma belíssimos cachos pendentes de flores brancas com o labelo amarelo e todo franjado nas bordas.

Elas saem da lateral do pseudobulbo através de gemas que servem tanto para emitir flores como também para a brotação de keikes – bebês, em havaiano –, que podem originar novas mudas. Bohnke adverte, no entanto, que esses keikes não devem ser retirados de imediato da planta. “Eles precisam chegar à fase adulta primeiro, para ter um sistema radicular eficiente.” A melhor época para fazer essa reprodução e replantar o dendróbio, seja em vaso, seja amarrado ao tronco de uma árvore, é logo após a floração, quando as flores já tiverem secado e os brotos começarem a aparecer.

A semelhança com uma gema de ovo é notável

Normalmente, as flores surgem uma vez por ano e duram entre cinco e dez dias. O Dendrobium chrysotoxum, por exemplo, floresce na primavera e suas flores amarelas duram um pouquinho mais, chegando a 15 dias. Contudo, como as hastes florais nem sempre se abrem ao mesmo tempo, pode-se desfrutar do perfume e da beleza dos dendróbios-franjados por um mês ou mais.

Para que o plantio seja bem-sucedido e a planta floresça no ano seguinte, é importante que o vaso disponha de espaço suficiente para o desenvolvimento das raízes e tenha furos para drenar o substrato, que deve ser composto de carvão, casca de pínus, pedra e esfagno. Também é possível plantar no chão, desde que o berço tenha esses elementos, pH neutro e areia, para manter a umidade. “Os dendróbios têm raízes densas e finas, que secam muito rápido. Por isso, é necessário reter um pouco de umidade no substrato. E apesar de serem rústicos, eles não toleram excesso de sais, de alcalinidade nem de acidez”, diz Bohnke.

O Dendrobium fimbriatum produz flores amarelas e perfumadas, que duram entre cinco e dez dias, conferindo um contraste especial ao paisagismo

Como cuidar da planta

Embora sejam rústicos, os dendróbios se desenvolvem melhor se forem adubados semanalmente com adubos equilibrados como NPK 20-20-20 ou NPK 10-10-10. O fertilizante deve ser colocado direto no substrato, após a rega.

Independentemente disso, como os dendróbios precisam de cálcio e magnésio, também se deve adubá-los a cada um ou dois meses com bokashi – um composto natural produzido por bactérias específicas, com liberação mais lenta. “O cálcio entra na formação da parede celular e melhora a qualidade do parênquima da folha, deixando-a menos atrativa para os insetos. Mas os adubos químicos geralmente não levam cálcio e magnésio na composição”, explica o orquidófilo.

Em períodos secos ou quentes, a rega deve ser diária, preferencialmente pela manhã. “Se regar no fim da tarde, o sistema foliar delicado do dendróbio pode ficar úmido demais e causar uma infecção bacteriana ou atrair pragas, como a cochonilha”, esclarece Bohnke.

Com essas dicas, o dendróbio-franjado presenteará o seu jardim com um espetáculo anual de cor e perfume. O preço de uma muda costuma variar entre R$ 15 e R$ 50, conforme a espécie, o tamanho e o número de hastes.

Dendróbio-franjado em detalhes

Nome do gênero: Dendrobium
Nome popular: dendróbio- franjado
Família: orquidáceas
Origem: Ásia tropical e subtropical, estendendo-se por Nova Guiné, Bornéu, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia
Características: o principal diferencial desse tipo de dendróbio está no labelo, que tem as bordas franjadas
Folhas: espécies de clima mais seco, como o Dendrobium chrysotoxum, têm as folhas duras e brilhantes. Já as de clima úmido, como o Dendrobium fimbriatum, têm folhas mais macias
Flores: a maioria das espécies forma cachos com inflorescências amarelas, mas também é possível encontrar dendróbios-franjados de coloração rosa ou lilás. Além das franjas ou pelos no labelo, algumas espécies apresentam uma mancha magenta, amarela ou marrom no centro, como as populares orquídeas olho-de-boneca
Luz: pelo menos duas horas de luz direta na primavera e verão e de quatro a seis horas no outono e inverno, evitando sempre o sol do meio-dia
Clima: tropical de altitude e subtropical
Plantio: após a floração, prenda a orquídea em um tronco de árvore ou replante-a em um vaso com substrato úmido e bem drenado, composto de carvão, casca de pínus, pedra e esfagno
Regas: diárias, de preferência pela manhã
Adubação: aplique NPK 20-20-20 ou NPK 10-10-10 direto no substrato uma vez por semana, e bokashi a cada um ou dois meses
Poda: consiste apenas na remoção de folhas secas
Reprodução: por divisão de touceira e keikes

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