A jardinista e apresentadora Carol Costa compartilha seus erros e acertos no cultivo de orquídeas 

– Por Carol Costa | Fotos Valerio Romahn

“Essa é a mesma orquídea que eu te dei no Natal passado? Não é outra planta?”. Eu segurava pasma um vaso de Phalaenopsis tão carregado de flores que a haste envergava suavemente com o peso da florada. “É exatamente o mesmo vaso”, assentiu minha sogra. “E aquela que você trouxe no aniversário do Bininho continua com flor”.

Faltavam poucos dias para o começo de 2002 e eu me negava a acreditar em três coisas: que uma orquídea estivesse viva um ano depois; que florisse mais de uma vez por ano; e que uma única florada durasse dois meses in-tei-ri-nhos. Se a orquídea nas minhas mãos falasse, sussurraria: “Carol, sua mirim…”.

Veja bem, eu não era uma completa ignorante no mundo das plantas. Tinha crescido numa casa com um enorme quintal visitado por gatos, passarinhos e uma ou outra galinha perdida do vizinho. Gostava de ver como o feijão crescia vigoroso à primeira chuva, a forma bizarra das flores de maracujá e a mania curiosa de minha mãe plantar dois chuchus juntinhos, “macho e fêmea, pra vingar”.

Já tinha plantado com sucesso tomates em uma jardineira e, quando me mudei para São Paulo, colhido morangos, alecrins e salsinhas cultivados na janela da minha quitinete. Não, definitivamente o problema eram as orquídeas, não eu!

Toda vez que passava pelo km 72 da Rodovia Castelo Branco, meu coração palpitava. Dentro de um posto na estrada, um pequeno orquidário guardava as plantas mais espetaculares que eu já tinha visto. E não falo só de Cattleya bicolores, perfumadas, repolhudas, não! Num cantinho sombreado de uma grande floricultura, entre a minifazendinha e uma loja de jeans, cresciam Brassia que pareciam grandes aranhas brancas; Oncidium delicadíssimos que era preciso ver de perto de tão pequenos; Bulbophyllum cheios de pelos que imitavam animais mortos. Era como se uma impressora 3D tivesse materializado os desenhos mais bizarros de flores feitos por crianças. Nem a Disney poderia ser tão legal quanto passar alguns minutos no Orquidário Shirozu.

Assim, toda visita a meus sogros envolvia uma parada obrigatória no posto de Itu. E eu saía da loja carregada de vasos e recomendações, na esperança de agradar minha sogra e, ao mesmo tempo, ter uma planta bonita em casa. Comprava tudo de parzinho: uma Phalaenopsis pra ela, outra para mim. Ao chegar para mais uma festa ou reunião familiar, encontrava os vasos da sogra lindos e carregados de flores enquanto, em casa, minhas orquídeas malemá me davam folhas.

Aquilo era quase um insulto! Depois de meses dando água e luz para as plantas, elas se negavam a florir. Muitas perdiam folhas e enormes manchas amarelas ou pequenas pintas pretas surgiam como um aviso. Eu mudava o vaso de lugar, diminuía as regas, acendia vela, dava bronca e nada! Ao jogar a planta morimbunda no lixo, às vezes descobria uma piscina dentro do cachepô daquele vaso que eu molhava a conta-gotas.

Enquanto isso, em Laranjal Paulista, as orquídeas da minha sogra tomavam sol e chuva o tempo todo e floresciam como chuchu na cerca. Será que eu era tão má jardineira ou as orquídeas tinham feito um complô contra mim?

Quatorze anos mais tarde, posso dizer que as orquídeas da minha sogra continuam espetaculares. E as minhas também! Nesse tempo, fiz muitos cursos, montei uma biblioteca com mais de 200 livros e, depois de muita tentativa e erro, fiz as pazes com essas flores. De vez em quando, ainda perco uma planta, mas tento investigar o que não funcionou para corrigir no futuro. Nessas páginas, compartilho algumas dicas para você também se entender com as orquídeas e apresento algumas espécies de encher os olhos de ideias para quem está começando uma coleção. Boa sorte!

 DICAS PARA INICIAR UMA COLEÇÃO

• Prefira orquídeas baratas e de fácil cultivo
• Não tenha mais vasos do que você consegue cuidar
• Resista à tentação de comprar plantas sem flor
• Fiscalize o verso das folhas atrás de pragas
• Tire as plantas de vidros, cachepôs e embalagens
• Deixe o sonho da vanda para quando tiver mais experiência
• Registre num caderno o que acontece com as plantas
• Evite insistir num gênero que não deu certo na sua casa

BOAS PARA QUEM ESTÁ COMEÇANDO

Doritis pulcherrima

Não é porque você é iniciante que só vai ter Phalaenopsis híbridas em casa. Que tal uma Doritis, prima-irmã da orquídea-borboleta e de cultivo tão fácil quanto ela? Há variedades de flores rosa-claro e branco-rosado, mas minha preferida é esta pink vibrante. A espécie floresce de forma sequencial, então, você terá flores por muitos meses no ano.

 

Foto: Sergio Oyama Junior

Ornithophora radicans
Foi a primeira orquídea que sobreviveu na minha mão. Comprei numa placa de xaxim e a mantive ao lado de uma janela com muita claridade. Uma vez por semana, coloco a placa num balde com água até encharcar, então, escorro e devolvo para a parede. Nativa da Mata Atlântica, ela floresce até três vezes por ano.

Polystachya neobenthamia
Conheci esta planta por seu nome popular – buquê-de-noiva – sem saber que era uma orquídea. Pudera, ela é uma espécie terrestre, uma completa novidade para quem iniciava na orquidofilia como eu! Muitos a chamam de Neobenthamia gracilis, seu antigo nome científico. A espécie gosta de sol fraco, solo leve e produz flores várias vezes ao ano.

Vanda tricolor
Todo orquidófilo sonha em ter uma caríssima Vanda de flores enormes, duráveis e de cores vibrantes – e perde muito dinheiro e horas sem dormir tentando adaptar a planta ao clima brasileiro. Quer ser feliz? Experimente a Vanda tricolor: essa graciosa espécie tem flores bem menores do que as das vandas híbridas, mas igualmente duráveis, e é bem mais fácil de cultivar.

 

Dendrobium loddigesii
Vem da Ásia essa orquídea capaz de arrancar suspiros e garantir selfies em tudo quanto é exposição. Pudera! Ela entouceira e, na primavera, forma uma massa compacta de folhas e flores rosadas com o labelo ligeiramente franjado e manchado de amarelo-vivo. É uma planta resistente ao calor e à estiagem, e que vai bem presa a tocos de madeira ou árvores.


Carol Costa é jornalista, jardinista e idealizadora do blog Minhas Plantas (www.minhasplantas.com.br). Tem uma coluna na rádio BandNews FM e apresenta o programa “Mais cor, por favor” no canal GNT


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