Em vez de espécies comerciais, eles cultivam plantas alimentícias que quase ninguém planta, garantindo a perpetuação delas

Se você é do tipo que se impressiona com a variedade de frutas, verduras e legumes que encontra nos grandes mercados Brasil afora é porque nunca conversou com um guardião de sementes. Curiosos e, acima de tudo, preocupados em assegurar a prevalência da biodiversidade na natureza, eles se dedicam ao cultivo de plantas comestíveis raras e à proteção das chamadas sementes crioulas, sementes de espécies que já foram comuns no passado mas que, com o cultivo comercial de novas variedades, acabaram perdendo espaço e até caindo no esquecimento.

O milho-roxo-peruano é um dos preferidos da agricultora Izacel Oliveira, que tem um banco de sementes crioulas com mais de 200 variedades de plantas

Izacel Oliveira, agricultora nativa de Goioxim, PR, é uma guardiã e tem um banco com mais de 200 variedades. Amante das plantas e dedicada à horta desde pequena, ela conta que quando começou a cultivar e produzir seus próprios alimentos ficou espantada com a pouca diversidade que encontrou, e associou a falta de opções à monocultura. Assim, começou a entrar em contato com guardiões de sementes através de grupos no Facebook, e, pouco a pouco, foi adquirindo raridades para cultivar em seu sítio. São plantas como o tomate-cesta-de-cogumelo (Solanum lycopersicum ‘Mushroom Basket’), que dá grandes frutos carnudos e doces; a couve-escarlate (Brassica oleracea ‘Scarlet’), raríssima e com tons de verde escuro e púrpura; e a melancia-de-casca-amarela (Citrullus lanatus ‘Golden Midget’), uma variedade menor porém muito suculenta. “Das melancias que já plantei, a Golden Midget é a mais interessante e saborosa”, conta Izacel. Seu maior xodó, no entanto, é o milho-roxo-peruano (Zea mays subsp. mays), um cultivar de cor roxoescuro muito nutritivo e saboroso.

A melanciade-casca-amarela é uma das plantas desconhecidas cultivadas por Izacel

A agricultora e ativista Verônica Bruch é outra guardiã. Para ela, ter uma semente crioula nas mãos é segurar a herança e o conhecimento dos antepassados. Por isso, quando regressou ao Brasil depois de 34 anos vivendo na Europa, fez questão de trazer consigo uma série de cultivares crioulos. Hoje, cultiva no Sítio Simbalina, em Rolândia, PR, uma variedade enorme de plantas alimentícias não convencionais estrangeiras e brasileiras, dentre as quais o chuchu-de-vento (Cyclanthera pedata), uma trepadeira originária da América do Sul, cujo fruto faz

Verônica Bruch, uma guardiã de sementes

Segundo as guardiãs, a monocultura de alimentos transgênicos é uma das grandes ameaças às sementes crioulas, que podem, por meio da polinização, acabar sendo contaminadas pela variedade modificada artificialmente. Por isso esse trabalho de preservação é tão importante. E como o objetivo delas e de todos os guardiões é disseminar as sementes crioulas, ambas vendem sementes coletadas de suas produções a quem estiver disposto a cultivá-las. O contato com Izacel é através da sua página no Facebook (https://bit.ly/2DZPV1p); e com Verônica, pelo site www.sambalinasementes.com.br.

O contato com Izacel pode ser feito através de sua página no Facebook
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