Há mais de 30 anos a jardinista Graciella D’Ávila coleciona plantas em um sítio que mistura espécies raras e nativas

TEXTO MARINA  GABAI | PRODUÇÃO AIDA LIMA | FOTOS VALERIO ROMAHN

As plantas dispostas em camadas envolvem os ambientes de estar ao ar livre e fazem uma transição suave para a mata

Localizado em meio à Mata Atlântica, na divisa entre os municípios de São Roque e Araçariguama, no interior de São Paulo, o sítio da jardinista Graciella D’Ávila é o lar de uma coleção de plantas de dar inveja a qualquer apaixonado por jardinagem. Acumuladas ao longo de mais de 30 anos, as espécies contam um pouco da história da proprietária que não entendia nada do assunto, mas hoje fala com propriedade sobre muitas plantas desconhecidas dos brasileiros. O jardim foi criado aos poucos, misturando plantas nativas com outras trazidas de viagens. Uma caminhada pela propriedade revela arbustos, trepadeiras e herbáceas de encher os olhos, que tomam conta não apenas da área externa, mas também da varanda e do pátio da residência.

PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA

Acostumada com a vida na cidade grande, Graciella começou a se interessar por jardins depois de visitar a casa de campo da cunhada, que ficava em uma área de mata nativa. Decidiu comprar um sítio ladeado por um córrego e uma nascente e o batizou de Canto das Águas. O passo seguinte foi entrar para o Clube Paulista de Jardinagem, onde começou a aprender sobre as plantas e a viajar para visitar jardins.

INTEGRAÇÃO COM A MATA NATIVA

A riqueza da Mata Atlântica que cerca o terreno de Graciella não poderia ser ignorada. Por isso, ao elaborar o jardim, ela procurou integrar as espécies nativas às plantadas. A inspiração veio dos antigos palácios ingleses, cujos jardins valorizam a paisagem natural e parecem crescer sem muita intervenção humana.

No laguinho, alimentado pela nascente do terreno, crescem aquáticas como a flor-de-lótus (Nelumbo
nucifera) (5). O arremate no paisagismo fica por conta da ponte de madeira.

SHOW DE RARIDADES

Com as amigas do Clube Paulista de Jardinagem, Graciella viajou o mundo para conhecer jardins famosos e trouxe, de cada um dos destinos, mudas para plantar no Canto das Águas. Dessa forma, ao longo dos anos, ela acumulou uma coleção única de plantas exuberantes.

A bétula (direita) e a rainha-das-árvores (esquerda) são duas árvores difíceis de encontrar no Brasil. Trazidas de viagens, elas estão entre as preferidas de Graciella

 

 

Entre as raridades “importadas” por ela estão árvores como a bétula (Betula nigra) (1), nativa das regiões central e leste dos Estados Unidos; e a rainha-das-árvores (Amherstia nobilis) (2), originária da Índia e de Mianmar. Ambas ocupam posição de destaque no jardim. Também têm lugar no grupo das preferidas de Graciella floríferas coloridas como o lírio-trepadeira (Gloriosa superba) (3) e a planta-Mickey- Mouse (Ochna serrulata) (4); e a delicada lantana-branca (Lantana undulata) (5), que dá graça ao cantinho com banco de madeira reaproveitada.

Apesar de grande parte das espécies trazidas pela jardinista serem de clima temperado – seus destinos preferidos são a Europa, os Estados Unidos e o sul do Brasil –, elas se adaptaram bem às temperaturas não tão amenas do interior paulista.

Delicadas ou exuberantes, floríferas como o lírio-trepadeira (esquerda) e a lantana-branca (à direita) dão cor ao jardim

INFLUÊNCIA ESPANHOLA

Nem mesmo o pátio em estilo espanhol, que interliga os cômodos da casa, escapou da “invasão” verde: para se fundir visualmente com a mata nativa e ganhar um ar mais acolhedor, o espaço acabou se transformando em um viveiro de mudas. É lá que a jardinista acompanha de perto o desenvolvimento de novas plantas, todas cultivadas em vasos.

Para compor um paisagismo agradável, os recipientes foram distribuídos pelo chão, dispostos sobre móveis, em pedestais, prateleiras, e até pendurados na parede. Um banco de madeira feito a partir do tronco de uma árvore que caiu no sítio, por exemplo, serve de apoio para vasinhos e ferramentas.

O charme final é dado por objetos com ar antigo, como o espelho oval pendurado na parede; e as cadeiras de ferro pintadas de branco para contrastar com o piso de cerâmica vermelha.

Para a decoração do espaço foram usados troncos de árvores que caíram no terreno e objetos com jeito antigo

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