Lembradas em diversas culturas, as flores brancas iluminam o paisagismo com texturas, formatos e tonalidades atraentes

TEXTO ANA LUÍSA VIEIRA | FOTOS VALERIO ROMAHN

São diversas as histórias e lendas que envolvem a beleza singular das flores brancas. As rosas deste tipo, por exemplo, são consideradas símbolos da paz. Os lírios brancos, segundo a cultura cristã, representam a ressurreição de Jesus – e são comumente vistos em celebrações religiosas. Já os crisântemos, para a tradição asiática, estão relacionados ao luto.

Nos jardins da vida real, entretanto, a aplicação das flores brancas é de ordem prática: elas formam pontos de luz na paisagem e, com diferentes texturas, formatos e até tonalidades, esta cintilância jamais cai na monotonia.

A florada elegante da dália (Dahlia hybrid) (1) é uma das que ganha papel de destaque em qualquer composição. As flores da espécie formam pompons que parecem ter sido cuidadosamente colocados no topo dos ramos longos e eretos. Ali em cima, as bolinhas brancas reinam soberanas sobre a folhagem. O bom é que, como a planta conta com variedades em outras cores – e o branco combina com todas elas – dá para criar combinações incríveis.

Ainda na ala dos pompons, as inflorescências da justícia-branca (Justicia carnea ‘Alba’) (2) merecem ser lembradas. Suas flores, que parecem ter sido depositadas uma a uma ao redor do miolo, despertam o interesse dos beija-flores, que aproveitam ao máximo esse encontro: como a planta é rara na Natureza, são poucas as chances de eles apreciarem sua beleza e degustarem seu néctar.

Rara na Natureza, a justícia-branca atrai beija-flores por conta de suas inflorescências chamativas

Casamento no jardim

Como a pureza é associada ao branco, não é raro ver a cor presente nos ramalhetes de flores empunhados pelas noivas no dia de seu enlace – quando o que elas mais querem é rodear-se de tudo o que equilibra encanto e inocência.

Entre as preferidas para este tipo de arranjo estão as camélias brancas (Camellia japonica) (1). Quando não estão sozinhas no ramalhete, suas flores de pétalas sobrepostas são combinadas com outras de tons avermelhados, como as rosas. O contraste fica lindo. No jardim, por sua vez, a espécie vai muito bem em canteiros – especialmente no outono e no inverno, época em que ela floresce. A beleza se completa quando as pétalas caem e criam manchas luminosas pelo chão.

O prestígio das flores brancas em buquês de noivas é tanto que mesmo as floríferas desta cor que não são usadas nos arranjos acabaram rotuladas com referências ao casamento. Uma delas é a Spiraea cantoniensis var. lanceata (2), popularmente chamada de buquê-de-noiva. Suas flores – que não ultrapassam 5 mm de diâmetro – são pequenas demais para, sozinhas, fazer jus à alcunha. Porém, unidas, compõem grupos densos e redondos na ponta dos ramos da planta que mais parecem arranjos em miniatura. Na primavera, o arbusto fica parecendo uma festa, com inúmeros micro-buquês pontilhando a folhagem verde e cinza.

O buquê-de-noiva é formado por minúsculas flores que lembram as rosas. Elas se juntam em uma inflorescência redonda que forma um buquê em miniatura

Branquelas australianas

Quem vê a Melaleuca linariifolia (1) no ápice da floração pode apostar que são flocos de neve os pontos brancos espalhados sobre sua copa. As regiões de clima subtropical onde a planta se desenvolve, entretanto, denunciam: a manta clara que encobre as folhas é, na verdade, formada por suas inflorescências. Elas são compostas por finíssimas flores de aparência felpuda que nascem na ponta dos ramos da espécie. Além de floco-de-neve, a árvore é chamada popularmente de nuvem-branca – alcunha mais adequada especialmente nas porções quentes da Austrália, de onde ela é nativa.

Do mesmo país, aliás, vem a Buckinghamia celcissima (2). Embora o nome popular “cacho-de-marfim” seja justo – as inflorescências têm mesmo formato de cachos daquela cor branca e opaca típica do marfim –, chamar a espécie de escova-de-mamadeira não seria exagero: suas finíssimas flores tubulares se passam tranquilamente por cerdas de fibra sintética. Com uma alcunha ou outra, o fato é que, por serem levemente perfumadas e esbanjarem néctar, as estruturas floridas chamam a atenção das abelhas.

Levemente perfumado e cheio de néctar, o cacho-de-marfim (abaixo e à esquerda) é queridinho entre as abelhas

Branco para pintar e bordar

É a ciência que diz: o branco é a única cor que reflete todas as outras. Por isso, é fácil combiná-la com qualquer tom – inclusive no jardim, onde as flores brancas realçam a beleza das coloridas. Mas bom mesmo é quando a Natureza se encarrega do trabalho e une branco e outra cor na mesma flor – como no caso da mandevila-branca (Mandevilla boliviensis) (1).

As flores da espécie são compostas por pétalas que se dispõem como em um cata-vento, com o centro pintado em um tom bem vivo de amarelo. A flor da trepadeira-de-arco (Pandorea jasminoides) (2) segue a linha no que diz respeito ao colorido: enquanto o miolo é róseo-arroxeado, o entorno das pétalas é branco e tem uma textura cheia de ranhuras. Ambas as espécies são trepadeiras e costumam envolver arquinhos e treliças no jardim.

Quando a intenção é pintar de branco pérgolas e caramanchões, a glicínia-branca (Wisteria floribunda ‘Alba’) (3) é uma das que melhor cumprem o papel: cada inflorescência, do tipo pendente e carregada de flores atinge até 60 cm de comprimento. Pena que tamanha beleza tenha prazo de validade: o conjunto dura cerca de 20 dias.

Encobrindo arquinhos, pérgolas ou caramanchões, há trepadeiras de flores brancas para todos os gostos
[wpcs id=9559]