Muita água, pedras e o uso de arbustos com folhagens coloridas são as marcas deste paisagismo

TEXTO CHRISTIANE FENYÖ | FOTOS VALERIO ROMAHN
PROJETO KAZUYUKI ISHIHARA | CHELSEA FLOWER SHOW 2013

Se tem uma coisa curiosa sobre os jardins japoneses é que eles dispensam explicação. As pessoas batem o olho e sabem que aquele é um paisagismo oriental. Bem diferente do que acontece com os jardins feitos na maior parte do mundo.

Este pequeno espaço é um bom exemplo. Mesmo sem a presença das tradicionais sakuras – as cerejeiras que os japoneses tanto veneram –, ele deixa claro sua origem. Palmeiras exuberantes, herbáceas anuais multicoloridas, espécies de crescimento rápido, nada disso tem espaço por aqui. Para os orientais, a relação com o jardim está mais ligada à filosofia e à religião que à beleza. Ele deve ter vida longa e passar de pai para filho. Daí a predominância de espécies perenes e, na maioria, desprovidas de flores.

O colorido, os japoneses obtêm usando folhagens de tons contrastantes. Áceres vermelhos, como o Acer palmatum (1), são presença praticamente obrigatória. Também não podem faltar coníferas, como o pinheiro-da-escócia (Pinus sylvestris) (2), que, embora cultivadas no jardim, são podadas e conduzidas como se fossem bonsais. As flores, quando surgem, são delicadas como as do Enkianthus campanulatus (3).

Água e pedras

Por menor que seja, todo jardim japonês tem que ter água – para os orientais, ela é o símbolo da vida –, seja na forma de um lago de carpas ou de um pequeno córrego. Neste curso d’água em patamares, a água desce formando pequenos lagos. A estrutura foi construída com muitas pedras – outro elemento indispensável nos jardins japoneses – e teve o fundo dos laguinhos coberto por cascalho. É uma recriação tão realista que muitas pedras foram, inclusive, cobertas por musgo-branco-pequeno (Leucobrium juniperoideum) (1).

Nas margens do córrego, áceres com folhas de cores variadas compõem um pano de fundo delicado. Também chamam a atenção as pequenas flores do pieris (Pieris japonica) (2), cultivado junto ao portal que leva ao tokonoma – um cômodo especial nas casas japonesas e que só é usado em ocasiões muito importantes.

Entre as pedras do lago, plantas aquáticas, como a cavalinha (Equisetum japonicum) (3) e a íris-siberiana (Iris sibirica ‘Tropic Nigh’) (4), crescem saudáveis. Ambas as espécies contam com folhas espigadas, que trazem verticalidade ao projeto. A íris ainda tem a vantagem de enfeitar o laguinho com suas flores arroxeadas, que surgem na primavera e no início do verão.

Harmonia com a Natureza

Minuciosos em tudo que fazem, os japoneses impressionam pela atenção a pequenos detalhes. Se na Natureza eles erguem palafitas para que as estruturas construídas junto aos rios interfiram o mínimo possível no ecossistema, nada mais natural que fazer isso nos jardins, mesmo que eles sejam construídos do zero. Repare, por exemplo, como as colunas de madeira que sustentam a tokonoma foram cuidadosamente apoiadas sobre pedras, sem tocar nenhuma planta, e como a água do riacho avança sob a construção.

Outro detalhe que merece destaque é o uso de telhados verdes para encobrir a tokonoma e portal de entrada. A cobertura de suculentas – umas das espécies usadas foi a estrelinha-gorda (Sedum acre) (1) – ameniza a temperatura e deixa este cantinho ainda mais em sintonia com a Natureza.

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