– Por Toni Backes

Não é de hoje que o homem tenta imitar a natureza e criar jardins sem uma ordem lógica na disposição das espécies. Os chineses fazem isso há séculos e os cottage gardens ingleses estão entre os principais expoentes dessa linguagem.

Nos últimos anos, porém, inspirados pelo trabalho do holandês Piet Oudolf – ele é aclamado mundialmente por sua criatividade e assinou, entre outros importantes jardins, o High Line, de Nova York –, paisagistas dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil também têm elevado o naturalismo a um outro patamar. Em uma tentativa de recriar os cenários das pradarias, eles usam gramíneas, herbáceas e outras plantas de pequeno porte para moldar paisagens onde nenhuma vegetação passa dos 60 cm de altura. A manutenção é baixíssima e o cenário muda constantemente, junto com as estações do ano. Até mesmo plantas secas e que já pereceram podem fazer parte das composições, pontuando e dando ritmo. Em regiões de clima mais frio, não é raro capins secos e ramos mortos ficarem à vista por um período, para só então o terreno ser roçado e a vida rebrotar espontaneamente na primavera.

No Brasil, onde a diferença de clima entre as estações do ano não é tão marcante, as nuances do jardim ao longo do ciclo são mais sutis, mas as regras para se criar uma composição naturalista permanecem as mesmas:

  • Apostar em uma boa variedade de formas, flores e frutos para elaborar uma paisagem harmônica. Diferentes texturas de folhas contribuem para a constante variação e chamam atenção aos detalhes integrando-os novamente à paisagem;
  • Dar preferência às planta selvagens – ou o mais próximo possível a suas ancestrais – em relação às híbridas. Além de ter um visual mais natural, elas são mais rústicas e demandam menos cuidados;
  • Investir nas gramíneas para integrar o jardim com a paisagem do entorno. Plantas como capim-dos-pampas, o capim-do-Texas e o capim-chorão se adaptam bem ao clima brasileiro e tendem a mudar de cor com as estações. De quebra, elas se movem com o vento, dando movimento ao jardim. Evite apenas plantar duas gramíneas lado a lado para o ambiente não cair na monotonia;
  • Tente não variar demais nas cores. Observe como espécies perenes coloridas e gramíneas se alternam na Natureza e procure reproduzir isso. Repetir uma espécie de destaque em particular também auxilia no ritmo da composição.

De resto, é usar a criatividade e o bom senso para criar jardins cada vez mais distantes do formalismo e mais próximos do que a natureza “planeja” para espaços onde abunda a vida vegetal.

Foto: Shutterstock


Toni Backes é engenheiro agronômo, paisagista, fundador da Escola de Paisagismo Perau do Encanto e tem mais de 30 anos de experiência em paisagismo ecológico


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