Opções para curtir o dia ao ar livre e muito verde permeiam todos os cantinhos desta área externa

Texto Marina Gabai | Fotos André Fortes | Arquitetura Marcelo Novaes | Paisagismo Flavio Tonico

O jardim desta casa no interior de São Paulo é um convite e tanto para curtir a vida ao ar livre. Com cerca de 400 m² no total, o espaço criado pelo arquiteto paisagista Marcelo Novaes com paisagismo do arquiteto paisagista Flávio Tonico reúne tudo o que se pode querer em um ambiente externo: tem sala de estar protegida sob a sombra do pergolado, mesa de refeições, solário para aproveitar o sol, spa para curtir os dias quentes, fogo de chão para aquecer as noites frias e até um corredor que mais parece um pátio. Tudo cercado de muito verde.

As espécies usadas para dar vida aos ambientes são bem diversas e, embora o verde seja o tom predominante, a monotonia não tem vez, pois elas contrastam entre si tanto no porte quanto na textura. Destaque para o pândano (Pandanus utilis) (1), planta escultural que rouba a cena em um dos canteiros.

Embora apareçam em menor quantidade, as floríferas também têm vez e pontuam a paisagem com cor na época de sua florada. As inflorescências rosa-vibrante da primavera (Bougainvillea spectabilis) (2), por exemplo, dão as caras durante boa parte do ano.

JARDIM DE POSSIBILIDADES

A mesa de refeições ocupa o centro da área externa: foi disposta sobre o piso de porcelanato, próximo ao jardim vertical e ao spa

Atendendo a pedidos da proprietária, que gosta de receber os amigos, Flávio Tonico concentrou as principais opções de lazer – caramanchão com sala de estar, mesa de refeições e spa – em uma mesma porção do jardim. Já as plantas, requisitadas em abundância, foram acomodadas de modo a não interferir na circulação: ocupam, em sua maioria, canteiros nas margens dos ambientes e o grande jardim vertical.

Em breve, o teto do pergolado será totalmente encoberto pela ramagem vigorosa da trepadeira congeia. Foto: Valério Romahn

O caramanchão é de madeira cumaru, e a cobertura tem caibros distribuídos ora na horizontal, ora na vertical. Como desde a concepção do projeto a ideia era que a estrutura servisse de suporte para a trepadeira congeia (Congea tomentosa) (3), Tonico preferiu usar tubos de aço em lugar de madeira para formar o ripado, reduzindo assim o custo de construção. “Como a congeia é vigorosa e vai encobrir toda a estrutura, o teto nem será notado”, explica. Principalmente na primavera, época da exuberante florada da espécie.

Na primavera, a congeia é tomada por inflorescências cor-de-rosa. Foto: Valério Romahn

Sob a cobertura, cadeiras e bancos abraçados pelo renque de murtas (Murraya paniculata(4) convidam à contemplação, enquanto as primaveras (2) em vaso pontuam com cor os quatro cantos do espaço.

Foto: Valerio Romahn; fogo de chão: Coifa e Cia, tel.: (19) 3241-6872, www.coifaecia.com.br

Se a ocasião pedir uma refeição, a mesa com tampo de vidro está a postos para acolher os convidados, com direito a vista para o jardim vertical com rípsalis (Rhipsalis baccifera) (5) e russélias (Russelia equisetiformis) (6), e trilha sonora das bicas desaguando no espelho-d’água.

Atrações de lazer não faltam: o jardim conta com fogo de chão, spa e bicas que desaguam no espelho-d’água

O spa garante o relaxamento de quem quer se refrescar, enquanto o fogo de chão bordado pelo canteiro de alho-social (Tulbaghia violacea) (7) aplaca o frio no inverno.

BOAS-VINDAS COM ESTILO

O talude acentuado era o grande desafio no entorno da casa, e, para suavizá-lo, Flávio Tonico recorreu a alguns “truques”. A primeira medida foi bordar a base do desnível com jasmins-do-cabo (Gardenia jasminoide) (8). Assim, tem-se a sensação de que a diferença de altura é menor. Depois, a vasta área gramada foi pontuada pelas nobres palmeiras-rabo-de-raposa (Wodyetia bifurcata) (9), que garantem a verticalidade da composição, e cássias-baianas (Senna polyphylla(10), de ramos pendentes que ficam encobertos por pequenas flores amarelas.

Plantados na base do terreno, os jasmins-do-cabo contribuem para “encurtar” a extensão do talude

A folhagem ornamental e marrom-avermelhada do capim-do-Texas-rubro (Pennisetum setaceum ‘Rubrum’) (11) dá acabamento à porção mais alta do talude e ainda serve de bordadura para o corredor lateral, com piso de paralelepípedo. Pela textura, porte e colorido, ela é um contraponto interessante para as palmeiras-ráfis (Raphis excelsa) (12) enfileiradas do outro lado do caminho para incorporar a fachada da casa ao paisagismo.

As palmeiras enfileiradas entre a casa e o caminho quebram o impacto do concreto e contrastam com a folhagem vistosa do capim-do-Texas-rubro

Quem percorre o trajeto chega a um espaço mais reservado, voltado aos banhos de sol. Lá, a boa é se refastelar nas espreguiçadeiras ou desfrutar do belo jardim a partir do banco de madeira cumaru.

Muito da sofisticação do ambiente se deve ao acabamento em aço cortén das “jardineiras” onde crescem plantas como a jabuticabeira (Plinia cauliflora) (13) forrada por barba-de-serpente-variegada (Ophiopogon jaburan ‘Vittatus’) (14), camélias (Camelia japonica) (15) e as delicadas florzinhas rosadas do tapete-inglês (Persicaria capitata) (16). Quem olha nem desconfia de que as espécies são cultivadas direto no solo – as caixas sem fundo de aço cortén foram instaladas posteriormente para deixar as composições mais elegantes.

Caixas de aço cortén delimitam os canteiros onde crescem frutíferas como a jabuticabeira e floríferas como a camélia. Não dá nem para notar que as espécies são cultivadas direto no solo, e não em jardineiras

Para garantir proteção sem interferir na visão que se tem do lado de fora, o guarda-corpo que cerca toda a área foi feito em vidro.

Foto: Valério Romahn

CORREDOR BEM APROVEITADO 

Tonico se inspirou nos pátios europeus para elaborar o paisagismo do corredor que ladeia os dormitórios e ao qual todos eles têm acesso.

Bancos azuis e o rosa das inflorescências das primaveras deixam o corredor mais vistoso

O primeiro passo para convidar as pessoas a sair do quarto e desfrutar do espaço foi colocar bancos em frente aos aposentos. Pintados com um tom vivo de azul, eles contrastam com o cor-de-rosa da primavera (Bougainvillea spectabilis) (2), cultivada em vasos de barro para não comprometer a circulação no espaço – são apenas 2,85 m de largura.

Os ciprestes italianos e os ripsális disfarçam o muro, enquanto a camélia enfeita o ambiente com suas graciosas flores brancas

A palmeira-ráfis (Raphis excelsa) (17) é outra que cresce em vaso. Os canteiros estreitos foram reservados para poucas espécies, caso da camélia (Camellia japonica) (18) e dos ciprestes-italianos (Cupressus sempervirens – Stricta Group) (19) – esses últimos estrategicamente plantados junto ao muro para quebrar a aridez da alvenaria. Na área com bancos, cabe aos vasos suspensos com ripsális (Rhipsalis sp.) (20) a missão de suavizar o paredão alto.

Projeto: Marcelo Novaes (arquiteto paisagista), tel.: (19) 3296-4455, www.marcelonovaes.com, Flávio Tonico (arquiteto paisagista), tel.: (19) 98130-2161, www. ojardinista.com.br e Ricardo Crivelaro (engenheiro da Arquitetura 4), tel.: (19) 3231-1793

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