Colorido, exuberante e saboroso, o maracujá não nega as origens tropicais e representa o gingado brasileiro

– Por Laura Neaime | Fotos Valerio Romahn 

Se existe uma espécie que tem uma bossa tropical, é o maracujá. O sabor azedinho, a coloração forte, o aroma escandaloso e a beleza exuberante das flores, além de uma verdadeira fixação pelo sol – a trepadeira precisa de, ao menos, 11 horas diárias de luz para florescer –, fazem dessa frutífera uma embaixadora brasileira na Natureza.

Há maracujás para todos os gostos: desde espécies “meramente” ornamentais – caso da Passiflora coccinea e da Passiflora trintae –, usadas para enfeitar arquinhos e caramanchões com suas flores exuberantes, até os deliciosos maracujá-azedo (Passiflora edulis f. flavicarpa), maracujá-roxo (Passiflora edulis) e maracujá-doce (Passiflora alata), que produzem os frutos que os brasileiros conhecem tão bem. E bota bem nisso! Afinal, o País é o maior produtor mundial da fruta – só não é o principal exportador porque grande parte da produção é consumida por aqui mesmo.

Existem cerca de 500 espécies de maracujá pelo mundo, das quais aproximadamente 150 são nativas da América Tropical. O nome da frutífera em português reforça suas origens: maracujá vem do tupi mara kuya, que pode ser traduzido como alimento da cuia, uma referência ao formato do fruto quando cortado ao meio. Em inglês, seu nome é passion fruit, ou fruto da paixão. Já seu nome científico Passiflora – que quer dizer flor-da-paixão – é atribuído ao Padre Giovanni Battista Ferrari, que assim chamou a espécie em sua obra De florum cultura, publicada em 1833.

Fruto do maracujá-roxo, espécie que se adapta bem a regiões de altitude e subtropicais

AZEDINHO BOM

A espécie Passiflora edulis compreende dois tipos de maracujás: o azedo ou amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa), amplamente cultivado no Brasil, e o roxo (Passiflora edulis), que é sucesso principalmente na Europa.

O sabor acidulado faz do maracujá-azedo um ingrediente de peso na culinária – é usado no preparo de sucos, sobremesas, sorvetes, caldas e molhos. Seu formato também é bem diferente do maracujá-doce: ele é arredondado e sua casca enruga à medida que o fruto amadurece.

As duas variedades de Passiflora edulis são vigorosas e extremamente ornamentais. Suas flores, com até 8 cm, são conhecidas não apenas pela beleza – elas mesclam as cores roxo e branca –, mas também pelo aroma agradável. Cultivadas sob sol pleno, as trepadeiras são ideais para cobrir caramanchões, cercas e treliças, pois florescem durante quase todo o ano – dependendo apenas da incidência da luz solar. Por se adaptar melhor ao clima frio, o maracujá-roxo é uma boa opção para quem quer cultivar a frutífera, mas mora em regiões de altitude e de clima subtropical.

Maracujá-doce (Passiflora alata)

DOCE SABOR

Difícil de encontrar nas feiras e mercados, mas muito comum nos jardins, o maracujá-doce (Passiflora alata) conquista não apenas pelo sabor adocicado de seus frutos, mas também pela beleza de suas flores. Dotadas de uma coroa de filamentos coloridos e perfumados, elas usam todo seu charme para atrair os insetos polinizadores.

Os frutos saborosos são perfeitos para o consumo in natura, com semente e tudo. A polpa, aliás, pode ser saboreada direto da casca, que depois é utilizada para a produção de doces tipo compota. Já as folhas da espécie contêm passiflorina, um elemento com potencial calmante muito utilizado na composição de medicamentos e chás.

Durante muito tempo, o único jeito de saborear o maracujá-doce era cultivando-o em casa – a produção comercial teve início apenas há 30 anos e, ainda hoje, é pequena. Assim como os demais maracujazeiros, a Passiflora alata precisa de ao menos 11 horas diárias de sol para florescer. Por isso, seu período de florada e frutificação varia conforme a região de cultivo. No Nordeste do Brasil, ela floresce e frutifica praticamente o ano todo. Já no Sudeste, onde faz menos sol, a produção se concentra no período mais quente, entre os meses de outubro e maio.

PARA ENFEITAR O JARDIM

Se os maracujazeiros fossem pessoas, a Passiflora coccinea seria daquelas que fazem questão de ser notadas em todo lugar. Conhecida como maracujazeiro-poranga ou maracujá-de-flor-vermelha, a espécie é muito vigorosa e tem uma florada extremamente exuberante: suas flores, que surgem na primavera e no verão, são grandes e exibem um colorido vermelho-vibrante impressionante.

Apesar de preferir sol pleno, a espécie também pode ser cultivada sob meia-sombra. Porém, nessas condições, a florada é menos intensa e o colorido das pétalas mais discreto. Nativo da Amazônia, o maracujá-poranga é muito usado no paisagismo e com fins apenas ornamentais, já que seus frutos ácidos são pouco apreciados. Laura Meletti, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas, diz que, por se tratar de uma trepadeira muito robusta, é importante investir em uma estrutura sólida para sustentar seus ramos. “Ela é tão vigorosa que pode servir como cerca viva conduzida em alambrados”, complementa.

Rico em vitaminas e sais minerais, o maracujá faz bem à saúde e é consumido com sementes

MARACUJÁ DE COLEÇÃO

Originária da Bahia, a Passiflora trintae não produz frutos comestíveis e é cultivada apenas por colecionadores, atraídos pela beleza de suas flores ornamentais, cujas pétalas exibem um colorido que varia entre o roxo e o rosa. Em seu hábitat, a trepadeira pode ser encontrada crescendo na beirada de ruas e estradas, mas no cultivo doméstico é um pouco mais “chata”: como suas sementes não germinam bem, sua propagação requer dedicação.

O primeiro passo para obter uma muda é, quando a planta estiver em estado vegetativo, cortar um ramo da espessura de uma caneta com 10 cm de comprimento com duas gemas e duas folhas. Em um terreno arenoso, enterre apenas uma das gemas, deixando a outra para fora. Corte as folhas ao meio e regue diariamente até o enraizamento, que demora de 70 a 80 dias.

A SAÚDE AGRADECE

O fruto do maracujá é um prato cheio para a saúde. Fonte de sais minerais como ferro, sódio, cálcio e fósforo, além das vitaminas A, C e do complexo B, ele é um aliado contra o envelhecimento, por conta de seu potencial antioxidante.

A nutricionista Roberta de Lucena Ferretti, coordenadora do Ambulatório de Nutrição Geral e Obesidade da Unifesp, ressalta que, do maracujá, aproveita-se desde as sementes até a casca. As sementes atuam como vermífugo no organismo. Já a casca é um trunfo para quem quer perder peso, pois a pectina presente nela diminui a absorção de carboidratos no estômago e proporciona sensação de saciedade.


MARACUJÁ EM DETALHES

• Nomes populares e científicos: Maracujá-doce (Passiflora alata), maracujá-azedo ou maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa), maracujá-roxo (Passiflora edulis), maracujá-poranga ou maracujá-de-flor-vermelha (Passiflora coccinea) e Passiflora trintae
• Família: passifloráceas
• Origem: América Tropical
• Características: trepadeiras herbáceas vigorosas e frutíferas
• Folhas: sem valor ornamental, são medianas e verde-escuras
• Flores: medem até 8 cm de diâmetro e são muito ornamentais. A coloração varia conforme a espécie (podem ser brancas, roxas, vermelhas ou rosa). A planta precisa de pelo menos 11 horas de exposição ao sol para florescer e o período de florada depende do local de cultivo
• Frutos: variam conforme a espécie, mas, em geral, são arredondados. A polpa amarela ou laranja envolve as pequenas sementes pretas
• Luz: sol pleno
• Solo: arenoargiloso, rico em matéria orgânica e bem drenado
• Clima: tropical ou subtropical
• Plantio: abra berços de 40 cm x 40 cm x 40 cm e preencha-os com partes iguais de terra do local e esterco, acrescidos de 500 g de superfosfato simples. Após o plantio, regue sempre até surgir a primeira folha nova. Laura Meletti, do IAC, diz que, em regiões de clima tropical, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano. Já em regiões de clima subtropical evite o plantio nos meses frios – a melhor época é o início da primavera
• Regas: o maracujá não suporta encharcamento. Por isso, só deve ser regado quando o solo estiver seco
• Adubação: aplique NPK 20-5-20 mensalmente
• Podas: devem ser evitadas
• Reprodução: por sementes. A exceção é a Passiflora trintae, que se reproduz por estaquia

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