Misturando flores como se fossem tinta, um americano criou um ipê lindo, que quase ninguém conhece

TEXTO CHRISTIANE FENYÖ

Branco, amarelo, rosa, roxo, verde… são muitas as cores que a Natureza criou para os ipês, uma mais bonita que a outra. E para que todos tivessem a chance de brilhar, determinou que cada ipê floresceria por apenas alguns dias, mas em épocas diferentes, um após o outro.

Só que um americano chamado George Lewis queria mais. Tal qual um alquimista, deu um jeito de colocar o pólen do ipê-do-brejo (Handroanthus umbellatus), que tem flores amarelas, na flor do ipê-rosa (Handroanthus heptaphyllus). Algumas sementes produzidas a partir desse cruzamento vingaram e assim nasceu o ipê-bicolor-damasco (Handroanthus × lewisii).

De longe, parece que as flores dele são cor de damasco, mas elas ficam mais impressionantes mesmo é quando vistas de perto, pois, enquanto as pétalas são rosadas, o miolo da corola é amarelo, quase dourado. E o tom muda com o passar dos dias: as flores brotam amareladas e vão ficando cada vez mais rosadas. Continuam escurecendo mesmo depois de cair no chão.

A experiência de Lewis foi feita em 1970 e a primeira árvore plantada por ele, no Los Angeles Arboretum, na Califórina, hoje mede 15 m de altura. Existem outras iguais na mesma região e, por lá, todas elas se enchem de flores entre os meses de fevereiro e março, no final do inverno norte-americano.

Como não precisa de muita água e praticamente não é atacado por pragas, o ipê-bicolor- damasco é daquelas árvores que você planta e esquece – até ser surpreendido pela bela florada, é claro! E a floração começa com a planta ainda bem jovem, com 3 m a 5 m de altura.

Versão brasileira

No Brasil, o ipê-bicolor-damasco é extremamente raro. O produtor Edilson Giacon, da Ciprest Mudas de Plantas (www.ciprest.com.br), que vive em busca de plantas que fogem do comum, até hoje só viu um único exemplar, que deve ter cerca de 20 anos – mede 12 m de altura e 8 m de diâmetro. “Como ele está em uma área muito degradada, suspeito que se trate de um híbrido natural, e não de uma árvore plantada a partir de uma das sementes norte-americanas, e isso faz dela ainda mais especial”, diz ele.

Giacon explica que, como os ipês geralmente florescem em períodos diferentes, é muito difícil uma espécie ser fecundada com o pólen de outra sem a interferência do homem. E mesmo quando isso acontece, as chances de as sementes vingarem são mínimas. “É coisa de uma em 100 milhões”, justifica.

A “versão brasileira” do ipê-bicolor-damasco dá flores entre julho e agosto, e a florada dura cerca de 20 dias – é um pouco mais longa que a da maioria dos ipês. A planta está sendo multiplicada por Giacon e as primeiras mudas estarão à venda no final de 2019. Vale a pena esperar para ter no jardim uma árvore tão exclusiva.

Só de perto é que dá para ver que as flores, que duram cerca de 20 dias, têm as pétalas rosadas e o miolo amarelo quase dourado

Fotos: Gustavo Giacon

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