Responsáveis pelo perfume das plantas, eles ficam escondidos em flores e folhas e fazem bem às pessoas

Texto Laura Doubek

Pode ser que tenha sido por vaidade. Ou por um pouquinho de inveja das plantas, que conseguiam se fazer notar apenas pelo aroma. O fato é que o homem deu um jeito de aprisionar em frascos aqueles cheiros deliciosos que só elas tinham e passou a usá-los como perfume, em tratamentos médicos, na aromatização de cosméticos e até de alimentos. O método usado para tanto? A extração dos óleos essenciais, substâncias produzidas pelas plantas e que, conforme a espécie, ficam armazenadas em pequenas bolsas nas flores, folhas, frutos e até nas raízes. Receberam esse nome, aliás, por conterem o perfume especial de cada espécie.

Engana-se, no entanto, quem pensa que as plantas produzem essas substâncias para ficar mais atraentes. “O óleo essencial é, na verdade, um repelente contra insetos e pragas, e a produção é bem mais intensa durante a floração justamente para afastar possíveis invasores no período mais importante de sua vida, que é a fase de reprodução”, explica o doutor em botânica e paisagista Eduardo Gonçalves. Só não contavam que esses óleos virassem um chamariz para as pessoas, que hoje recorrem à destilação, compressão e várias outras técnicas só para extraí-los.

CHEIRINHO DE FLOR

Com apenas 2 cm de diâmetro, as flores do jasmim ficam mais perfumadas à noite e produzem um óleo essencial que é uma delícia

Em plantas como o jasmim (Jasminum grandiflorum) (1), a camomila (Chamaemelum nobile) (2) e o ylang ylang (Cananga odorata) (3), o óleo essencial é obtido das flores, justamente a parte mais ornamental dessas espécies. As do jasmim são pequenininhas – não passam dos 2 cm de diâmetro –, brancas e estreladas, mas têm um cheiro tão intenso que, na Índia, a trepadeira ganhou o apelido de “rainha da noite”, uma referência ao horário em que seu perfume é mais forte.

Velhas conhecidas por conta de seu uso no preparo de chás, as flores da camomila também são ricas em óleo essencial. Só que haja florzinhas para prepará-lo: são necessários cerca de 200 kg da espécie nativa da Europa para obter um único litro da essência.

Menos delicadas, as flores do ylang ylang chamam a atenção por seu aspecto exótico, que rendeu a ela esse nome popular – no idioma malaio: ylang ylang quer dizer “a flor das flores”. Suas pétalas longas e aromáticas são totalmente amarelas, e o óleo extraído delas é um dos mais utilizados na indústria cosmética não só por conta do cheirinho bom, mas também por ajudar no relaxamento.

VERDE ESSENCIAL

Famosa por suas inflorescências em forma de pompom, que dão a sensação de que a planta foi coberta por flocos de neve, e pelo tronco que parece de papelão, a melaleuca (Melaleuca alternifolia) (4) guarda seu óleo essencial em uma parte que passa quase despercebida por quem aprecia apenas os aspectos ornamentais da espécie: nas folhas. Estreitas e com cerca de 3 cm de comprimento, elas secretam a substância que é considerada um excelente antibactericida natural.

O patchouli (Pogostemon cablin) (5) é outro que escolheu as folhas para armazenar seu precioso óleo aromático. Da mesma família da lavanda, a planta nativa da Ásia se assemelha de sua parente tanto pelo tom arroxeado das flores quanto pelas propriedades de seu óleo, que ajuda no equilíbrio emocional.

Nem nas inflorescências em forma de pompom, nem no caule que parece de
papelão: na melaleuca, o óleo essencial fica escondido nas folhas finas e curtas

Conhecido por ajudar o equilíbrio emocional, o óleo do patchouli é outro que é obtido a partir das folhas da planta

AROMA DISTRIBUÍDO

Figurinhas carimbadas no jardim e na horta, a lavanda (Lavandula angustifolia) (6), que faz sucesso com suas inflorescências arroxeadas de até 8 cm de comprimento; e o alecrim (Rosmarinus officinalis) (7), usado para temperar muitas receitas, resolveram não concentrar seu perfume em uma única estrutura. “Nessas espécies, a extração do óleo essencial é feita a partir de toda a parte aérea, que envolve as folhas e também as inflorescências”, explica o produtor de óleos essenciais Wagner Azambuja.

Considerado um poderoso calmante, o óleo de lavanda tem muitos outros usos, inclusive como repelente de insetos e no combate de dores de cabeça e enxaquecas. Já o óleo do alecrim é famoso por suas propriedades antissépticas e analgésicas.

Extrair o óleo dessas e outras plantas não é tarefa para qualquer um e, na prática, acaba sendo mais prático comprá-los prontos em lojas especializadas. Ainda assim, vale a pena cultivar as espécies no jardim, seja para desfrutar de sua beleza, seja para se lembrar que, um dia, esses cheiros tão especiais foram exclusividade delas.

No alecrim (acima) e na lavanda (abaixo), o óleo essencial fica concentrado em toda a parte aérea

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