Conheça as espécies que surpreendem com floradas em cores inusitadas, como verde e preto

Texto Laura Neaime | Fotos Valério Romahn

A Natureza não se contenta com o óbvio.Cansada das orquídeas cor-de-rosa, brancas e amarelas, velhas conhecidas dos jardinistas, ela decidiu apostar em floradas marrons, verdes e até mesmo negras para surpreender seus apreciadores. São espécies que esbanjam beleza e são capazes de valorizar qualquer cantinho.
As plantas que fogem do lugar-comum na coloração também abusam da criatividade no quesito forma. Há opções para todos os gostos: desde as diminutas e crispadas flores da gomesa (Gomesa praetexta) até exemplares do gênero Phragmipedium, aquele do sapatinho.

SOMBRIAS- MAS NEM TANTO

Dentre a paleta multicolorida da Natureza, o preto é um dos pigmentos menos comuns. Normalmente reservada para detalhes de pétalas estriadas ou pintadas, a tonalidade densa chama atenção quando cobre boa parte da flor e dá ares de mistério à planta. É o que acontece, por exemplo, com a orquídea Catasetum tenebrosum (1), que carrega no nome científico o estigma de sombria – tenebrosum, em latim, significa “escuro”. A espécie latino-americana floresce da primavera ao outono e deve ser cultivada sob meia-sombra.


O curioso é que, embora leve a alcunha de negro, o Catasetum tenebrosum não tem pétalas pretas de verdade, e sim cor de vinho. Porém, seu tom é tão escuro que acaba sendo confundido com o preto. O mesmo acontece com a Brasiliorchis schunkeana (2), outra orquídea popularmente conhecida como negra. Com pétalas e sépalas vináceas, quase pretas, ela é nativa de Mata Atlântica e tem flores de até 2 cm de diâmetro que surgem durante todo o ano desde que a espécie seja cultivada sob meia-sombra.

 

VERDE QUE TE QUERO VERDE

Topar com folhagens que parecem imitar as flores, em tons de vermelho e com formatos semelhantes ao de pétalas,
não é novidade para os jardinistas. O contrário, porém, não é tão recorrente e as orquídeas de flores verdes podem causar certa surpresa. Tal coloração se deve à concentração de clorofila nas pétalas, o que permite que não apenas as folhas mas também as flores dessas plantas realizem fotossíntese.
Na gomesa (Gomesa crispa) (3), as flores perfumadas que surgem durante a primavera lembram as folhas não apenas na coloração, mas também pelo formato: elas são pequenas e crispadas e ficam dispostas ao longo de hastes compridas.

Já a orquídea-sapatinho (Phragmipedium boissierianum), nativa do Peru e Equador, segue o padrão das demais espécies do gênero, com formato arredondado, mas se diferencia pelo tom verde intenso da florada. Quem deseja tê-la na coleção deve estar ciente de seus caprichos: ela só pode ser regada com água mineral ou das chuvas e pede fertilizações anuais com adubos orgânicos. A planta de clima tropical de altitude aprecia ampla variação térmica durante o dia.

As flores da gomesa imitam folhagens tanto no formato quanto na coloração verde-clara

CASTANHAS E BELAS

Elementos marrons na Natureza não causam surpresa: a cor está presente na terra, nos troncos e caules das plantas. Entretanto, quando a tonalidade tinge as flores, a espécie chama a atenção.
A Gomesa praetexta, também conhecida popularmente por gomesa, é um exemplo disso. Suas flores outonais, que surgem ao longo de uma haste de 1 m de comprimento, combinam a coloração terrosa com amarelo. Elas merecem destaque, ainda, por seu formato, similar ao de uma cruz. A planta aprecia meia-sombra, irrigações diárias ou em dias alternados e adubação semanal com NPK 20-20-20.
No caso da catleia (Cattleya bicolor), a mistura de marrom e verde-escuro gera um efeito acobreado nas flores. A espécie epífita nativa do Centro-Oeste e Sudeste floresce no verão e, assim como a gomesa, aprecia ambientes sombreados e regas constantes.
Se você quer ampliar a sua coleção ou simplesmente é apaixonado por certas extravagâncias da Natureza, arrisque-se no universo das orquídeas “diferentonas”. Pretas, marrons ou verdes, elas merecem um espaço no seu jardim.

Consultoria: Erwin Bohnke (orquidólogo), e-mail: eborquideas@gmail.com; Gilberto Kerbauy (professor titular do Departamento de Biologia da USP)

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