“O cultivo de espécies nativas vai muito além do aspecto ornamental. Ele é importante, é verdade, mas usar plantas apenas pela sua beleza é ficar num plano superficial”

– Por Toni Backes

Tem muita gente acha que planta nativa é sinônimo de mato. Não fazem a menor ideia de como estão enganadas. Recorrer a espécies locais e fazer um paisagismo ecológico sustentável e – por que não? – que demanda menos manutenção, menos adubos e menos agrotóxicos.

As plantas nativas, como o próprio nome diz, são as que nasceram em uma determinada região, passaram séculos evoluindo e desenvolvendo mecanismos e adaptações fisiológicas para sobreviver àquele local, que pode ser quente e seco, como os desertos, ou sombrio e úmido, como no interior de grandes florestas. O homem, é claro, deu um jeito de levá-as para outros cantos e algumas se adaptaram. Entretanto, crescer em um clima que não é o seu demanda um esforço enorme por parte da planta e pode ter como consequência o desenvolvimento atrofiado, a ausência de flores e a frutificação tardia ou má-formação dos frutos. Isso sem falar no próprio apodrecimento e morte.

Para criar um paisagismo sustentável, não basta pegar uma lista de plantas nativas do Brasil ou do seu estado e correr para o primeiro viveiro em busca das escolhidas. É importante que as espécies selecionadas sejam originárias do micro-clima, micro-região ou micro-bacia onde será implantado o jardim. E isso, muitas vezes, significa deixar de lado os produtores comerciais e bater na porta de quem vive na região.

Eu, por exemplo, ao fazer um jardim, aproveito algumas que já estavam crescendo por lá naturalmente, às vezes replantando ou mudando de lugar. É impressionante a quantidade de espécies silvestres que a gente descobre quando começa a observar as plantas silvestres do lugar onde vivemos. E todas elas crescem bem sozinhas, sem necessidade de regas, fertilizantes ou agrotóxicos. Conseguir mudas de nativas nos viveiros é uma tarefa de pesquisa e demorada, assim, opto em produzir várias espécies em meu viveiro, onde atualmente tenho mais de 70 espécies em produção. Muitas delas reproduzo através de sementes e estacas obtidas de instituições de pesquisa, viveiros públicos ou particulares.

Nos cursos de paisagismo que promovo, gosto muito de incentivar os alunos a explorar as espécies locais. Um de meus exercícios preferidos é pedir para que eles elaborem um projeto usando exclusivamente plantas nativas de sua região. O resultado são trabalhos como esse: um jardim num pequeno pátio de fundos de uma casa hipotética. Pode-se observar uma diversidade botânica com espécies arbóreas, arbustivas, folhagens e forrações nativas da Mata Atlântica do Sul do Brasil.

Como deu para notar, o cultivo de espécies nativas vai muito além do aspecto ornamental. Ele é importante, é verdade, mas usar plantas apenas pela sua beleza é ficar num plano superficial. A realidade, no entanto, tem profundidade e altura.

Neste jardim hipotético, à esquerda, projetado por Toni Backes, entre forrações, arbustos, trepadeiras e árvores, foram usadas 24 espécies nativas da Mata Atlântica do sul do Brasil. Tem banana-do-mato (Bromelia antiacantha) (3), filodendro-rasteiro (Philodendron renauxii) (5), begônia-asa-de-anjo (Begonia coccinea) (9), palmeira-de-bengala (Geonoma elegans) (16), babosa-de-árvore (Philodendron martianum) (17) e begônia-teia-de-aranha (Begonia paulensis) (19), entre outras

Capim-dos-Pampas (Cortaderia selloana), planta nativa da região dos pampas, principalmente no sul do Brasil | Foto: Valerio Romahn


Toni Backes é engenheiro agronômo, paisagista, fundador da Escola de Paisagismo Perau do Encanto e tem mais de 30 anos de experiência em paisagismo ecológico


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