Como ter um elefante que não coma seu jardim? A topiaria tem a solução

– Por Eduardo Gonçalves

Muito se fala sobre o poder que o jardim tem sobre as pessoas. Mas e as pessoas, qual é o poder delas sobre o jardim? Já vi lugares que, de tão geometricamente alinhados, arrancariam palmas dos perfeccionistas, enquanto outros levam tão a sério o direito das plantas de ir e vir que deixam dúvidas sobre se em meio àquela selva realmente existe um jardim. Os demais ficam em algum lugar entre esses dois extremos.

Escolher entre ter mais ou menos controle é uma questão de gosto – influenciado pela cultura predominante e, é claro, pelas ondas da moda. As plantas sempre farão o que sabem fazer melhor: crescer aproveitando os recursos do local. Da sua parte, a opção por controle envolve três estratégias: a escolha das espécies, o local de plantio e o controle de quais partes poderão ou não crescer, algo resolvido na tesourada. Esse controle da forma pelo corte é chamado de topiaria.

Desde o Império Romano, a arte e a técnica de controlar as plantas com podas – ou opus topiarium – conquista adeptos entusiasmados. Ao longo dos séculos, fez a felicidade de muitos donos de jardim e despertou a ira de muitos outros. As plantas viraram muros, cercas, estátuas e toda a sorte de figuras. Pelo menos na forma, o jardim submeteu-se ao poder do jardineiro.

Tal poder sobre a forma não vem sem grandes responsabilidades. Quanto mais preciso forem os desenhos, mais energia deverá ser gasta no direcionamento das plantas. Isso é mais intenso em países tropicais, como o Brasil, onde as plantas crescem mais rápido e ao longo do ano todo. Em alguns casos, bastam dias para a forma começar a se perder. Por isso, escolha sempre espécies cuja velocidade de crescimento seja compatível com a manutenção disponível.

O buxinho (Buxus sempervirens) é uma das plantas mais lentas e pode ser podado a cada duas semanas. O pingo-de-ouro (Duranta repens), uma das mais rápidas, pede podas quase semanais. A armadilha para os desavisados está no preço: espécies de crescimento rápido custam menos, mas demandam cortes tão frequentes que, em dois ou três anos, os gastos se equiparam. É, o barato acaba saindo caro!

Escolher uma planta de crescimento lento e demorar demais para podar também tem seus riscos: os ramos crescem e engrossam e a poda gera buracos na estrutura. Pronto, lá se vai toda a perfeição e sua obra fica parecida com um queijo-suíço! Ao optar pela topiaria, tenha em mente que o principal custo de ter um jardim totalmente sob controle é que as pessoas precisam trabalhar quase tanto quanto as plantas. Se o esforço extra não for um problema para você, arrume uma tesoura e divirta-se ao melhor estilo romano. Carpe diem!

Foto: Shutterstock


Eduardo Gomes Gonçalves é paisagista, doutor em Botânica, autor do livro Se não fugir, é planta! e escreve sobre curiosidades do mundo da biologia


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