– Por Toni Backes

Não é à toa que o paisagismo é uma das mais nobres das artes: além de mexer com todos os sentidos das pessoas, ele interage com as forças do tempo em todas as suas acepções: o tempo climático, regido pelas estações do ano – que em particular aqui na região Sul, onde eu moro, é bem variável e pode causar certo estresse em quem lida com as plantas–; e o tempo cronológico, determinante para a evolução da paisagem.

Quando se trata de jardins, o imediatismo não tem vez. É preciso respeitar o tempo das plantas, o tempo da decomposição da matéria orgânica, o tempo da recuperação do solo, o tempo das sucessões biológicas, o tempo da evolução da paisagem. Aliás, a evolução do que acontece ao longo dos dias, meses e anos é a chave para entender o paisagismo naturalista, do qual sou adepto.

É fato que o jardim pressupõe a intervenção humana, mas, para intervir, é preciso entender como a paisagem é moldada pela ação de seus componentes. Deve-se deixar de lado a visão mecanicista, sempre baseada no tempo cronológico, marcado em segundos, minutos, horas e dias.

O planejamento do jardim não pode ser algo rígido, cronometrado – o tempo das plantas é diferente do nosso. Com exceção das espécies lenhosas, que são mais lentas, todas as outras sofrem variações significativas com o passar dos anos. Não adianta querer que um canteiro se mantenha estático: ele sofre alterações, muitas delas causadas por fatores imprevisíveis como, por exemplo, o surgimento de espécies que brotam espontaneamente. Cabe a nós saber jogar com isso e conciliar as espécies que já estavam no local, as que brotam sozinhas e as que implantamos ali. Afinal, como já dizia o mestre Burle Marx, um jardim não tem apenas duas ou três dimensões: tem também uma quarta, que é o tempo necessário para se observar o espaço.

Somente com o exercício da contemplação e sem maiores intervenções, levando em conta o que está por vir, já ocorrem modificações significativas na composição da vegetação, do formato dos canteiros, da interação com a fauna macro e microbiana.

Pode parecer difícil num primeiro momento, mas, aos poucos, esse processo de aguçar a percepção do que acontece no jardim torna-se um exercício prazeroso e ainda contribui para acabar com a nossa obsessão de querer controlar tudo, inclusive as pragas que surgem volta e meia.

Para quem duvida que isso seja possível, gosto de citar como exemplo o jardim que rodeia o Perau do Encanto, minha escola de paisagismo em Nova Petrópolis, RS: lá existem mais de 500 espécies distintas, todas crescendo bem sem que eu precise me preocupar com doenças, adubações ou grandes manutenções.

Quando aquela vontade de controlar tudo de repente aparecer, lembre-se de que o jardim não precisa ser feito ou analisado todo de uma vez, e dê uma chance para o ambiente expressar sua vontade. Você certamente vai se surpreender!


Toni Backes é engenheiro agronômo, paisagista, fundador da Escola de Paisagismo Perau do Encanto e tem mais de 30 anos de experiência em paisagismo ecológico

[wpcs id=9559]