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O bambu é uma das plantas mais antigas do planeta e tem tantas histórias quanto utilidades práticas

TEXTO JANETE TIR | FOTOS VALÉRIO ROMAHN

Pouca gente sabe, mas aquela graminha rasteira que cobre o seu jardim e os altos bambus pertencem à mesma família: as gramíneas. Mais curioso ainda é que o bambu é uma planta tão antiga que reinava na Terra bem antes da própria humanidade. Segundo estudos de paleontologia, essa gramínea serviu de alimento para dinossauros do período Cretáceo, entre 65 e 136 milhões de anos.
Disponível em grande quantidade sem a necessidade de cultivo, resistente e durável, o bambu era facilmente transformado em tudo o que o homem primitivo necessitava. Foi usado para construir casas, pontes e utensílios domésticos (como tigelas e cumbucas); para servir alimentos e transportar água; na confecção de móveis, sandálias, chapéus, cestas, ferramentas…

Bambusa ventricosa: entouceirante com entrenós verdes que formam “barrigas”. Ornamental, tem porte de 20 m

Para os indianos, o bambu simboliza a amizade. Na China, está ligado à longevidade. Já os japoneses acreditam que uma barreira de bambus é sagrada e protege contra o mal. Os vietnamitas, por sua vez, comparam a propagação do bambu à renovação de gerações, porque de onde é cortada uma planta, logo nascem várias, com rapidez impressionante. Os asiáticos também usam lendas ligadas ao bambu para explicar o surgimento do ser humano na Terra. Segundo eles, o primeiro homem e a primeira mulher nasceram do colmo (nós) de um bambu.

A explicação etimológica da palavra “bambu” é um enigma que até hoje não foi solucionado. Uma teoria é de que a planta era chamada de mambu ou samambu em marata, uma língua oficial da Índia, e que, por um erro de pronúncia, virou “bambu”.

No mundo existem 1.200 espécies de bambu, sendo que 470 estão nas Américas. As espécies nativas ocorrem nas matas, porém as mais encontradas em sítios e fazendas geralmente são exóticas oriundas do oriente (China e Índia). As mais frequentes no Brasil são a Bambusa tuldoides, a Bambusa vulgaris (ambas provenientes da Índia e com porte médio de 30 m de altura) e os guaduas (nativos da região equatorial e com porte de 30 m). Mas tanto existem espécies gigantes (com mais 40 m de altura e 50 cm de diâmetro) quanto outras que não passam de 15 cm. E, cada vez mais, o mercado brasileiro começa a receber novas opções. Basta ver os curiosos bambus mostrados ao longo dessas páginas.

O florescimento deles é igual ao de todas as gramíneas, mas muito raro. Há bambus que demoram até 120 anos para florescer.

Guadua angustifolia: é entouceirante e atinge 30 m de altura. Apresenta cor verde intensa e faixa branca nos entrenós

MADEIRA DO FUTURO

O bambu entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, porque o Dendrocalamus giganteus tem o crescimento mais rápido do mundo: 1 m por dia. Devido a esse desenvolvimento acelerado, as plantas são consideradas uma boa alternativa à madeira em algumas indústrias. A de papel é um exemplo. Segundo especialistas, o papel obtido a partir do bambu é tão bom quando o extraído da madeira e ainda tem a vantagem de ser mais barato. Também é útil nas indústria de pisos laminados e na de construção de casas, uma vez que é muito resistente. Mas ainda falta matéria-prima – ou seja, a tradição de se criar plantações profissionais bambu – que impulsione a sua industrialização.

Dendrocalamus giganteus: o maior bambu existente. Entouceirante, ele atinge até 40 m de altura e 50 cm de diâmetro

“No Brasil não temos uma área vultosa de bambu para uso industrial. São apenas 40 mil hectares no Maranhão, usados por uma empresa que produz papel”, diz Marco Antonio dos Reis Pereira, engenheiro agrônomo e coautor do livro Bambu de Corpo e Alma. “No Acre existem 5 milhões de hectares de bambu nativo, mas como ele está misturado à floresta, é praticamente inacessível”, complementa. Os produtos industrializados à venda no mercado são caros porque são importados da China. “Mas poderiam ser barateados se houvesse investimento nesse mercado”, afirma o engenheiro agrônomo.

O mercado de paisagismo tem recebido diversos tipos de bambus ornamentais. “Sua utilização no jardim é vasta. Nos últimos anos, passamos de três espécies para 13 em nossa lista de produtos”, explica Ricardo Carvalho Neuding, viveirista do Sítio da Mata, que vende bambus há mais de 12 anos.

 

AJUDA AO PLANETA

O bambu também está na mira de ambientalistas que estudam possibilidade de usá-lo na despoluição do ar. Como ele sequestra dióxido de carbono do ar com tanta eficiência quanto uma árvore, foi incluído no Protocolo de Kyoto como uma das medidas para a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. “Como os colmos do bambu brotam e crescem depressa, usam mais carbono da atmosfera”, diz Marco Antonio dos Reis Pereira.

Estudos mostram que certas espécies de bambu captam até três vezes mais carbono do que as árvores e, com isso, devolvem ao ar uma quantidade maior de oxigênio. Além disso, a planta contribui para a melhora do clima pois absorve muita água e também para a contenção de encostas de rios, já que apresenta muitas raízes.

A utilização do bambu em paisagismo também é ampla. Aqui, o Bambusa metake ‘Variegata’ aparece formando uma moita muito escultural no jardim. O destaque é o desenho de sua folhagem

COMO CULTIVAR

Os bambus seguem basicamente dois comportamentos. Há os que apresentam rizomas leptomorfos que são alastrantes e os com rizomas paquimorfos que formam moitas localizadas. Esse último tipo, os entouceirantes, tem colmos bem unidos e não provocam invasões. Dois exemplos são o Dendrocalamus giganteus e o Bambusa vulgaris. Para conter o crescimento dos bambus alastrantes é preciso criar barreiras com 50 cm de profundidade. Um exemplo de bambu alastrante é o bambu-mossô (Phyllostachys pubescens).

Por se tratar de uma gramínea, tem sistema radicular muito resistente e preparado para sucessivos cortes na parte aérea. “Para se ter uma ideia de sua capacidade de regeneração, o único ser vivo no epicentro da bomba de Hiroshima que, depois de 15 dias da explosão, deu sinal de vida foi uma touceira de bambus recém-brotada”, conta Danilo Candia, engenheiro agrônomo da empresa Bambu Carbono Zero.

A reprodução do bambu é feita por propagação vegetativa com as partes aéreas (colmos ou ramos laterais), subterrâneas (rizomas) ou com as duas juntas, dependendo da espécie. A planta não é muito exigente quanto ao solo. O plantio normalmente é feito em covas de 40 cm de profundidade com uma mistura de 300 g de calcário dolomítico, 150 g de superfosfato simples, 150 g de cloreto de potássio e 20 litros de esterco de curral curtido por cova.

As regas devem ser diárias até o pegamento e, para conservar a umidade do solo, é bom cobrir a cova com palha seca. O espaçamento entre mudas varia conforme a espécie. Se for um bambu de pequeno porte, é preciso deixar 1 m entre uma muda e outra. Para as espécies gigantes, são recomendados entre 1 m e 3 m.

A adubação deve ser anual. “Em solos pouco férteis pode-se usar NPK 20-20-20 duas vezes ao ano na base de 200 g por m². Outra dica é acrescentar 20 kg esterco de gado por m² ao ano”, ensina Candia. A época de retirada dos colmos depende do uso que se pretende dar ao bambu. Quem planeja saborear iguarias com brotos de bambu deve colher com 30 dias. Se a intenção é fabricar cestas, o corte deve acontecer entre seis meses e um ano após o plantio. Já as esteiras ou ripas são feitas com colmos de dois anos. Para a construção de casas, telhados e para a indústria de pisos laminados, o bambu só deve ser cortado depois de maduro, com três anos ou mais.

A forma de cortar é decisiva para saúde da touceira. Segundo o livro Bambu de Corpo e Alma, as espécies alastrantes, com rizomas protegidos pela terra, podem ser cortadas rentes. As entouceiradas devem ser cortadas a 20 cm do solo e logo acima de um nó, para evitar o acúmulo de água na parte que ficou do colmo e o consequente apodrecimento. Esses cuidados ajudam na colheita do bambu e no bom desenvolvimento da planta.

O Bambusa gracilis é uma espécie muito ornamental e fica bem formando maciços próximos a muros

BAMBU EM DETALHES

  •  Nomes populares: bambu (português, espanhol e italiano); bambus (alemão); bambou (francês); bamboo, common bamboo (inglês); bans, kapura, magar (hindu), chuk-kwangchukan, k’u-chu, t’ien-chu-nuang, t’ien-chu-yuen (chinês)
  • Família: gramíneas (poáceas)
  • Origem: quase o mundo todo, em especial na China, Índia e Japão, com exceção da Europa
  • Flores: são raras e algumas demoram mais de 100 anos para aparecer. Determinadas espécies consomem tantaenergia para a floração que podem morrer.
  • Folhas: são formadas em ramificações laterais dos colmos e podem viver por até dois anos.
  • Plantio: em covas de 50 cm de profundidade com uma mistura de 300 g de calcário dolomítico, 150 g de superfosfato simples, 150 g de cloreto de potássio e 20 litros de esterco de curral curtido
  • Luz: sol pleno
  • Solo: suporta todos os tipos
  • Clima: tropical, subtropical e temperado
  • Regas: frequentes
  • Podas: depende do fim a que se destina. Para comer, os brotos devem ser cortados após 30 dias. Já o bambu usado na indústria só pode ser cortado após os três anos.
  • Adubação: NPK 20-20-20 e sulfato de amônia duas vezes ao ano; esterco de gado uma vez ao ano.
  • Propagação: estaquia, divisão de touceiras ou rizomas.
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