Capaz de se adaptar a diferentes ambientes, o funcho tem cheiro e gosto que lembram o da erva-doce e ainda enfeita o jardim com suas delicadas florzinhas amarelas

Texto Laura Doubek |Fotos Valerio Romahn

Talvez você nem desconfie, mas é bem provável que o o funcho (Foeniculum vulgare) já tenha dado as caras na sua cozinha. É que as sementes da espécie, muito usadas no preparo de chás e outras receitas, são tão parecidas com as da erva-doce (Pimpinella anisum) que muita gente troca uma pela outra sem nem se dar conta. Sorte que a semelhança não se limita ao visual: como ambas têm sabor anisado, a substituição involuntária não oferece risco às receitas.

As sementes, no entanto, são apenas uma das partes comestíveis dessa espécie, da qual praticamente tudo – do talo às folhas, passando pelo caule – se aproveita na culinária. E, como ela ainda tem propriedades fitoterápicas, motivos não faltam para abrir um espaço para ela na horta ou no jardim.

O funcho faz bonito no paisagismo com suas pequenas flores amarelo-vivo e suavemente perfumadas que nascem agrupadas em buquês nos meses de julho e agosto. “Elas são muito parecidas com as da erva-doce, mas podem ser diferenciadas pela cor, uma vez que as da erva-doce são brancas”, diz a bióloga e especialista em ervas aromáticas Gabriela Pastro. Observar o porte das espécies também ajuda a evitar confusão: enquanto o funcho pode chegar aos 80 cm, a erva-doce não passa dos 30 cm.

Embora seja perene na região do Mediterrâneo e no norte da África, de onde é nativo, quando plantado em outras áreas, o funcho tem ciclo bianual. “Ele prefere as temperaturas amenas, mas também se adapta às mais quentes”, ressalta Gabriela.

Até o talo do funcho é muito parecido com o da erva-doce. Evite plantá-lo perto do coentro para não comprometer seu sabor

CULTIVO DESCOMPLICADO

O funcho é plantado a partir de sementes e pode ser cultivado tanto em canteiros quanto em vasos. O ideal é acomodar as sementes direto no local definitivo, mas caso você prefira usar um recipiente menor para a semeadura e depois transplantar as mudas para o local definitivo, certifique-se de fazer isso enquanto elas estiverem jovens, com no máximo quatro folhas e de 10 cm a 15 cm de altura.

Para o plantio em canteiros, prepare o solo misturando duas partes de terra para jardim com uma parte de húmus de minhoca ou composto orgânico e distribua as sementes em pequenos berços com espaçamento de 25 cm a 30 cm entre eles. Se a opção for pelo cultivo em vaso, escolha um recipiente com
pelo menos 30 cm de profundidade para que as raízes profundas da espécie
tenham espaço para crescer.

Tanto nos canteiros quanto em vasos, procure manter o funcho bem longe de plantas como o coentro e o aneto. Dessa forma, você reduz as chances de polinização cruzada, que acaba tendo como consequência plantas com aroma e sabor mais fracos.

Regue o canteiro ou vaso logo após o plantio e sempre que o solo estiver seco, mas sem exageros, pois o funcho não tolera encharcamento. Já as adubações com húmus de minhoca ou composto orgânico devem ser feitas a cada 30 ou 40 dias para as plantas em vasos, e a cada 60 ou 90 dias para as que estiverem em canteiros. Distribua uma camada de mais ou menos 1 cm de espessura do produto por toda a superfície do solo e depois cubra com terra.

No que se refere às pragas, as principais ameaças ao funcho são os pulgões, que podem ser combatidos com a aplicação de óleo de nim.

A planta, que quando cultivada tem ciclo bianual, floresce nos meses de julho e agosto. Quase todas suas partes são comestíveis

BENEFÍCIOS NO JARDIM DE CASA

Do funcho, quase tudo se aproveita na cozinha: as sementes servem para o preparo de chás e infusões; as folhas são usadas como tempero e até mesmo ingeridas cruas, na forma de salada; os talos podem ser consumidos como o aipo, acompanhados de molhos ou sopas; e o bulbo ou cabeça fica uma delícia quando tostado na frigideira – além de ser ingrediente de várias outras receitas.

Seja qual for a parte da planta consumida, o organismo só tem a agradecer, já que o funcho é uma boa fonte de vitaminas A, B e C, minerais, e ainda auxilia no combate da ansiedade e no bom funcionamento do sistema digestivo. Só não vale exagerar na dose, sob o risco de desenvolver alergias.

Doses moderadas de chá de funcho são indicadas inclusive para mulheres que estão amamentando para estimular a lactação – com a vantagem de os benefícios da planta serem automaticamente transmitidos para o bebê.

As sementes do funcho rendem um chá saboroso, parecido com o de erva-doce. Em doses moderadas, faz bem até às lactantes

FUNCHO EM DETALHES

• Nome científico: Foeniculum vulgare

• Nomes populares: funcho, falso-anis e erva-doce-de-cabeça

• Família: Apiáceas

• Origem: região do Mediterrâneo e norte da África

• Características: herbácea ereta de até 80 cm de altura. Apresenta múltiplos caules de coloração verde intensa. É perene em sua região de origem e de ciclo bianual quando cultivada fora do seu hábitat

• Folhas: verde-escuras, são longas – medem até 40 cm de comprimento – e filiformes

• Flores: amarelas, medem cerca de 5 mm de diâmetro e reúnem-se em inflorescências umbeliformes – em formato de guarda-chuva – com até 15 cm de diâmetro

• Frutos: são cápsulas finas e secas que envolvem sementes únicas. Têm coloração cinza-escura e, quando maduros, ficam pardos. São comestíveis e possuem forte aroma anisado. É principalmente neles que se concentra o óleo essencial da planta

• Luz: sol pleno ou meia-sombra

• Solo: bem drenado, fértil e acrescido de matéria orgânica, de preferência com pH não muito ácido

• Clima: o funcho pode ser cultivado em climas bem variados, mas se adapta melhor aos amenos ou moderadamente quentes, como o subtropical árido

• Plantio: para os canteiros, prepare o substrato misturando duas partes de
terra com uma de húmus de minhoca ou composto orgânico. Depois, distribua as sementes a intervalos de 25 cm a 30 cm. Para o plantio em vaso, escolha um recipiente com 30 cm de profundidade

• Regas: apenas quando o solo estiver seco

• Adubação: aplique húmus de minhoca ou composto orgânico a cada 30 ou 40 dias nas plantas em vasos, e a cada 60 ou 90 dias nas cultivadas em canteiros

• Podas: não são necessárias. Remova apenas as folhas secas

• Reprodução: por sementes

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