Antes restrito a regiões de clima temperado, o mirtilo agora pode ser cultivado no jardim da sua casa, inclusive em vasos

TEXTO CHRISTIANE FENYÖ | FOTOS VALERIO ROMAHN

Houve uma época em que, para saborear o mirtilo, só mesmo viajando para a Europa ou para a América do Norte, onde o frio típico do clima temperado oferece as condições ideais para o crescimento da espécie. Os pesquisadores, no entanto, deram um jeito de desenvolver cultivares mais resistentes ao calor, que vão muito bem em clima subtropical. Graças a isso, hoje quem mora no Brasil pode encontrar o mirtilo facilmente em tudo quanto é supermercado e – por que não? – até ter um pezinho no jardim de casa.

A frutífera, que muitos preferem chamar de blueberry, como ela é conhecida nos países de língua inglesa, é um arbusto compacto ideal para pequenos espaços. Cresce, inclusive, em vasos e jardineiras. Alguns cultivares podem chegar aos 4 m de altura em sua região de origem, mas segundo o produtor Edilson Giacon, da Ciprest Mudas e Plantas (www. ciprest.com.br), as mudas vendidas por aqui, por serem produzidas a partir de estacas, raramente passam de 1,70 m de altura. “Por conta desse porte compacto, o mirtilo é ótimo para formar renques delimitando o pomar ou outros espaços no jardim. Também fica lindo quando plantado em grupos de três, com as mudas dispostas em forma de triângulo, com 50 cm de espaçamento”, diz o produtor.

Os frutinhos, que despontam a partir do segundo ano de cultivo, podem ser consumidos in natura ou usados em receitas

Outra opção é cultivar a espécie em vasos ou em jardineiras. “O recipiente não precisa ser muito alto, pois as raízes da planta não passam dos 40 cm de profundidade, mas uma boa largura é essencial, já que o mirtilo tem a tendência de emitir brotações laterais”, alerta Edilson. Segundo ele, em uma jardineira de 1,20 m de comprimento e 40 cm de largura é possível plantar até quatro pés do arbusto.

Solo ácido: o segredo do sucesso

Por não requerer podas ou adubações frequentes, o mirtilo é considerado uma planta pouco exigente. O sucesso, no entanto, está diretamente ligado à qualidade do solo. “A espécie gosta de substrato bem ácido, e por isso jamais deve ser cultivada em terrenos que receberam calcário ou gesso para a correção do pH”, salienta Edilson Giacon. Para o plantio direto no solo, a recomendação do produtor é abrir um berço com o dobro do tamanho do torrão e misturar à terra do local 50% de serragem. “O solo brasileiro é naturalmente ácido e a serragem, além de garantir uma boa drenagem, contribui para melhorar a acidez conforme vai se decompondo”, explica. Já para o plantio em vaso, vale investir em uma mistura de 50% de serragem, 20% de húmus e 30% de terra vegetal.

O porte do mirtilo varia conforme o cultivar, mas no Brasil o arbusto não costuma passar de 1,70 m

Regue a planta três vezes por semana, para manter o substrato sempre úmido, e adube-a uma vez ao ano, no inverno, com 200 g de torta de mamona. As podas resumem-se apenas ao corte de ramos fracos, conforme a necessidade.

Ornamentais por conta do tom verde-azulado, as folhas do mirtilo costumam mudar de cor no outono: ficam avermelhadas para depois caírem no inverno. As pequenas florzinhas brancas, que parecem feitas de parafina, surgem logo em seguida, amontoadas em cachos. A partir de setembro, dão lugar aos pequenos frutinhos de sabor ácido e adocicado, que despontam até janeiro.

As florzinhas brancas despontam na primavera e parecem feitas de parafina

A primeira frutificação acontece cerca de dois anos após o plantio da muda, e a dica de Edilson Giacon para aumentar o tamanho dos frutinhos é fazer o desbaste quando eles começarem a se formar. “É só arrancar cerca de metade dos frutos para que os demais tenham espaço para crescer mais”, explica.

As mudas de mirtilo são fáceis de encontrar. Na Ciprest Mudas e Plantas, exemplares com cerca de 30 cm são vendidos por R$ 28.

Mirtilo em detalhes

  • Nomes populares: mirtilo, blueberry
  • Nome científico: plantas do gênero Vaccinium
  • Família: Ericáceas
  • Origem: América do Norte
  • Características: frutífera arbustiva que, conforme o cultivar, pode medir de 1 m a 4 m de altura. Pode ser plantada isolada, em grupos ou em pequenos renques
  • Folhas: delicadas e ornamentais, medem entre 5 cm e 10 cm de comprimento. Geralmente são azuladas, mas ficam alaranjadas no outono, antes de caírem, no início do inverno
  • Flores: pequenas e brancas, parecem feitas de parafina. Despontam do final do inverno até meados da primavera agrupadas em cachos
  • Frutos: bagas de até 2 cm de diâmetro com casca azul-arroxeada e polpa branco-amarelada. Despontam de setembro a janeiro e têm sabor ácido e adocicado
  • Luz: sol pleno
  • Solo: úmido, bem drenado e ácido (o pH ideal é entre 2,5 e 4,5)
  • Clima: no Brasil, o cultivo é indicado principalmente em regiões subtropicais
  • Plantio: para o cultivo direto no solo, abra um berço com o dobro do tamanho do torrão e prepare o substrato misturando a terra do local com 50% de serragem. Já para o plantio em vaso, escolha um recipiente de pelo menos 20 litros – o ideal é que ele seja baixo e largo. Prepare a camada drenante com argila expandida e manta geotêxtil e depois acrescente o substrato, composto pela mistura de 50% de serragem, 20% de húmus de minhoca e 30% de terra vegetal
  • Regas: três vezes por semana
  • Adubação: no primeiro ano, aplicar 200 g de torta de mamona no início do inverno e repetir o procedimento quando os frutos começarem a surgir. Nos demais anos, acrescentar à torta de mamona uma colher de café rasa de ureia
  • Poda: consiste apenas na remoção dos ramos sem vigor
  • Reprodução: por sementes ou estaquia
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