Charmosas e ecológicas, as coberturas vegetais contribuem para um ambiente mais saudável dentro de casas e prédios

Texto Victória De Santi | Fotos Valerio Romahn

Bela união de paisagismo e arquitetura, os telhados verdes são uma opção bonita e ecológica para quem está construindo ou reformando, pois além de enfeitarem a casa ou prédio, oferecem uma série de vantagens em relação aos telhados convencionais. A primeira delas é recompor a parte da vegetação que deu lugar à construção, contribuindo para um ambiente mais verde. A presença das plantas sobre o telhado também facilita o escoamento de água – que é bastante otimizado quando comparado com o verificado em uma laje impermeabilizada –, e contribui para aumentar o isolamento acústico e o conforto térmico do ambiente, “o que significa menos gasto de energia a médio e longo prazo”, aponta o engenheiro agrônomo e paisagista Toni Backes.

Dependendo do tipo de telhado – inclinado ou plano –, o projeto pode se resumir a uma cobertura vegetal ou prever ambientes de lazer e estar adicionais para quem vive ou trabalha no imóvel. Em ambos os casos, é essencial que a estrutura que sustenta o telhado seja capaz de suportar o peso do substrato, plantas e outros elementos; e devidamente impermeabilizada para evitar infiltrações na construção. As técnicas de montagem da cobertura verde, no entanto, variam bastante de um profissional para outro.

Telhados verdes floridos demandam mais manutenção. Neste, as flores são substituídas a cada estação

INCLINADOS E FLORIDOS 

Espécies rústicas, como o azevém e o sedum, dispensam até mesmo as regas
e permitem que o telhado verde se mantenha bonito apenas com a água da chuva

Quando o telhado que vai receber a cobertura vegetal é inclinado, como o da pousada Villa do Arquiteto ou da Padaria Petrópolis (acima), ambos erguidos em Nova Petrópolis, RS, pelo arquiteto Carlos Menz e a paisagista Olir Menz, a montagem da cobertura é feita em camadas – são usados vários tipos de manta e outros materiais para assegurar a impermeabilização e a drenagem do excesso de água. Se a inclinação é suave – inferior a 20º –, basta acomodar o substrato e as plantas sobre todas essas camadas. Já se ela é mais intensa, torna-se necessário o uso de travas de contenção – geralmente em forma de escamas de peixe – para manter tudo no lugar.

Durante a reforma para receber a cobertura vegetal com bulbine-africano-amarelo (Bulbine frutescens), gramíneas e outras plantas de baixa manutenção, a pousada teve os sarrafos que sustentavam as telhas substituídos por tábuas resistentes. A calha que recolhe a água das chuvas também ganhou um sistema de escoamento com cascalho e brita leve.

Feito em parceria com o paisagista Francisco Benetti, o telhado da padaria é mais complexo: conta com travas de contenção e, como as floríferas são maioria, demanda a troca das espécies a cada estação. “Quando as plantas começam a perder flores, são substituídas para que a fachada se mantenha florida o ano todo”, explica Carlos Menz. A irrigação fica por conta de mangueiras com microfuros instaladas na cobertura – o acionamento da torneira, no entanto, é manual.

A cobertura verde da escola de paisagismo Perau do Encanto se integra à varanda no piso superior da construção

GRAMADO SUSPENSO

Para quem tem um telhado inclinado e não quer se preocupar com irrigação ou com a troca de plantas, a sugestão de José Francisco Benetti é cobri-lo com plantas nativas da região. Na casa de pedra, uma camada de 15 cm de substrato garante o desenvolvimento de espécies rasteiras locais, como o azevém (Lolium perenne); e de outras exóticas, como as suculentas sedum (Sedum hybrid). Essa combinação dispensa até mesmo as regas – a água da chuva é o suficiente para a irrigação.

Toni Backes, que também é adepto dos telhados mais rústicos, alerta para a importância de se usar uma boa biodiversidade de espécies: “Só assim a cobertura será útil à fauna local”. Para o telhado verde de sua escola de paisagismo Perau do Encanto, ele deu preferência às floríferas. “O espaço está integrado à varanda no piso superior, então usei quaresmeira-rasteira (Heterocentron elegans), rosinha-de-sol (Aptenia cordifolia) e margarida-do-Cabo (Osteospermum ecklonis hybrid) para deixar o cenário bem colorido”, revela.

O telhado verde com ambiente de estar é praticamente uma continuação do morro. As plantas se encarregam da integração

JARDIM NA LAJE

Quando o telhado verde é instalado em coberturas planas, como as lajes no topo de edifícios, as possibilidades são infinitas. Desde que a estrutura de sustentação seja projetada para suportar o peso de uma camada mais grossa de substrato, dá para plantar arbustos maiores, árvores, e até montar ambientes de convivência completos.

As paisagistas Daniela e Sonia Infante, por exemplo, lançaram mão da solução para integrar visualmente duas construções em um terreno montanhoso na região serrana do Rio de Janeiro. O maciço de azaleias (Rhododendron hybrid – Southern Indica Hybrid Group) começa no telhado verde e depois desce o morro que o ladeia, enquanto a russélia (Russelia equisetiformis) se encarrega de bordar toda a laje. Os bancos de madeira formam uma espécie de sala de estar ao ar livre, de onde dá para apreciar a bucólica paisagem serrana. Por questão de praticidade, a irrigação é automatizada, mas nada impediria que ela fosse manual, como em qualquer jardim cultivado direto no solo.

No telhado verde que Toni Backes implantou na laje do segundo piso de um edifício em Porto Alegre, RS, além de todas as questões relacionadas à sustentabilidade, havia uma preocupação adicional com a estética do espaço quando visto de cima para baixo – o prédio tem dez andares e muitas janelas voltadas para esta laje. O profissional distribuiu a folhagem marcante da trapoeraba-roxa (Tradescantia pallida ‘Purpurea’) e a mescla de folhas verde-claras e flores amarelas das estrelinhas-gordas (Sedum hybrid) de modo a formar um belo desenho. Depois foi só preencher o restante do espaço com grama e bordar toda a laje com o florífero bulbine-africano-amarelo.

Lambari-roxo e bulbine formam um belo desenho na laje do edifício. O efeito é agradável inclusive para quem observa de cima

DOIS SÉCULOS DE HISTÓRIA

Embora estejam se tornando mais comuns no Brasil a partir dos últimos anos, os telhados verdes passam longe de ser modismo. Eles surgiram na Europa há dois séculos, com a função de isolante térmico. Na época não existiam produtos industriais capazes de manter a temperatura estável dentro dos lares e a solução para fugir do gelado inverno europeu era cobrir as casas com camadas de terra e vegetação – algumas construções eram até enterradas.

Como o objetivo era apenas a climatização, não havia tanta preocupação com a estética desses telhados. No entanto, com o tempo, os projetos foram evoluindo, até se chegar aos sofisticados telhados verdes de hoje em dia.

 

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