“A sobrevivência do jardim vertical, no entanto, está mais relacionada a questões botânicas do que à tecnologia propriamente dita”

– Por Eduardo Gonçalves

O segredo do sucesso dos jardins verticais está na escolha das espécies: nem todas conseguem viver bem com pouca terra

Os jardins verticais vieram para ficar. Seja por embelezar locais quase sem espaço para canteiros ou vasos, ou apenas pelo prazer de olhar uma parede coberta de plantas, é quase certo que você já tenha considerado acrescentar essa ideia na sua casa ou empresa. Também é possível que tenha desanimado quando ouviu dizer que as plantas morrem facilmente e que não se pode mantê-las sem irrigação automática de alta tecnologia.

A sobrevivência do jardim vertical, no entanto, está mais relacionada a questões botânicas do que à tecnologia propriamente dita. A maior parte das plantas precisa de terra para hospedar suas raízes, pois é de lá que elas tiram boa parte da água e os sais necessários para seu crescimento. Daí, do nada, nós decidimos praticamente pendurá-las como roupas em um varal e ainda reclamamos que elas secaram rápido. Não estamos exigindo demais?

Existem diferentes tecnologias para jardins verticais, que usam desde a simples elevação de vasos com terra até peças de feltro com bolsos para acomodar as plantas. No primeiro caso, as espécies continuam conseguindo retirar só nutrientes do substrato, já que a única diferença em relação ao tradicional cultivo em vasos é a disposição dos recipientes. Já no segundo, a terra muitas vezes é eliminada e a planta passa a se alimentar da água e dos nutrientes retirados pela bolsa de feltro, e nem todas se adaptam facilmente a isso.

Há a questão também da insolação: no jartim vertical, a luz do sol é essencialmente lateral e pode não alcançar muito bem as plantas. Para evitar erros, minha sugestão é seguir estas oito dicas simples:

  1. Nada dará certo se a luz que chega na parede do jardim não for adequada para as plantas que escolheu, então, observe isso;
  2. Jardins verticais em feltros funcionam melhor para plantas epífitas – aquelas que crescem sobre outras plantas, como antúrios, orquídeas, samambaias e bromélias;
  3. Jardins feitos a partir de vasos com terra pendurados precisam de menos regas, mas não impedem que as plantas sequem rápido se o sol bater sobre elas ou se o vento for muito forte. Portanto, não descuide;
  4. Molhar uma parede verde todos os dias é demandante e um único esquecimento pode “fritar” jardins inteiros. Pense muito bem nisso antes de dispensar a irrigação automática;
  5. A água se move por gravidade, então as plantas do alto ficam menos tempo molhadas que as plantas de baixo. Assim, coloque as espécies mais resistentes no topo;
  6. O uso de gel para plantio nos vasos ou bolsos de feltro pode ajudar a reter a água;
  7. Plantas fertilizadas são mais resistentes ao ressecamento, portanto, não esqueça de fertilizar as suas;
  8. Sempre que puder, teste diferentes espécies da flora brasileira em seu jardim vertical. Quem sabe você não encontra novas campeãs nesta modalidade?

Eduardo Gomes Gonçalves é paisagista, doutor em Botânica, autor do livro Se não fugir, é planta! e escreve sobre curiosidades do mundo da biologia


[wpcs id=9559]