Cultuado pelos indígenas por conta do sumo de seus frutos, que muda de cor, o jenipapo hoje é sinônimo de licor, doces e ainda serve de remédio para muita gente

TEXTO CHRISTIANE FENYÖ

Para os índios tupi e guarani era quase que um ritual: colher os frutos do jenipapo (Genipa americana) ainda verdes, extrair deles um sumo esbranquiçado e aplicá-lo na pele ou em objetos de cerâmica para que, como que por mágica, eles ficassem azulados, quase pretos. Por isso batizaram a espécie de iá-nipaba, ou fruta que serve para pintar. O efeito durava cerca de 15 dias e, hoje é sabido, é culpa da genipina, uma substância que, em contato com o ar, oxida e muda de cor.

Para quem vive no Norte e Nordeste do Brasil nos tempos atuais, no entanto, o ritual que segue a colheita é outro: transformar os frutos em doce, suco, geleia, sorvete, bala e, é claro, no famoso licor de jenipapo, aquele que todo mundo que visita a região faz questão de levar para casa como lembrança. Não que o jenipapo não possa ser consumido in natura – o sabor é adocicado com um toque de acidez. Só que, como o cheiro não é dos mais agradáveis, as pessoas acabam preferindo usá-lo em receitas.

Em contato com o ar, a polpa do fruto fica preta e pode ser usada para pintar a pele. O efeito dura 15 dias
(Adriano de Lavor/Radis/Fiocruz)

A popularidade da espécie por aquelas bandas é tão grande que, na Bahia, festa junina que se preze tem que ter licor de jenipapo – de preferência o produzido artesanalmente, que é mantido em infusão em tonéis por até um ano antes de ser envasado. Já no Pará, a planta é valorizada mesmo por suas propriedades medicinais: da raiz às folhas, passando pelos frutos, cada parte tem uma função: combater a anemia, tratar problemas digestivos, reduzir a retenção de líquidos e o colesterol… até o tronco branco e macio – o único que não entra nas tradicionais garrafadas – tem lá seu uso: é matéria-prima para a fabricação de móveis, esculturas e peças de xilogravura, bem como para as construções civil e naval.

Difícil mesmo é entender por que uma árvore tão importante quase não é vista em outras partes do País. O clima com certeza não é desculpa: tropical por natureza, o jenipapo é nativo da Amazônia, da Mata Atlântica e de outras áreas das Américas do Sul e Central. Cresce até em regiões encharcadas, o que torna possível seu cultivo em boa parte do território nacional. A dificuldade de inseri-lo no paisagismo também não é argumento: a espécie tem copa frondosa, dá uma sombra deliciosa e, como não passa dos 14 m de altura, pode ser usada sem problemas em jardins residenciais e até na arborização urbana. Chega à idade adulta em seis anos e surpreende na primavera, quando sua copa é tomada por pequenas flores brancas – mas que com o tempo ficam amareladas – muito perfumadas. Elas nascem amontoadinhas em inflorescências de até 10 cm de comprimento.

(Foto: Gustavo Giacon)

Os frutos começam a despontar nessa mesma época, e um dos fatos mais curiosos sobre a espécie talvez seja o fato de eles demorarem praticamente um ano para amadurecer. Durante a maior parte do tempo exibem a casca marrom-esverdeada, sinal de que ainda estão verdes. Quando ela finalmente muda para marrom-amarelado e começa a enrugar, indicando que estão no ponto para o consumo, novos frutos já estão se formando para repetir o ciclo. Isso quer dizer que a árvore jamais é vista sem frutos.

Se quiser experimentar e cultivar o jenipapo aí no seu jardim, saiba que a frutífera não é tão difícil de encontrar. Na Ciprest Mudas e Plantas, por exemplo, mudas com 50 cm custam R$ 8. Já na Dierberger, as com 80 cm saem por R$ 8 e as com 1,20 m, por R$ 10.