TEXTO: Luiz Mors Cabral 

Eles começaram para cultivo de plantas medicinais e hoje dividem espaços de lazer com estudos científicos de espécies de todo o mundo

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Kioto, no Japão, tem um dos mais belos jardins botânicos, especialmente
quando florescem simultaneamente as cerejeiras e as tulipas

Ouro, especiarias e remédios têm sido, ao longo da história, os principais motores da aventura humana. Foi a partir das necessidades universais do homem pelas especiarias e remédios, que foram fundados os jardins botânicos. E eles são muito mais do que simples jardins. Devem necessariamente possuir plantas aclimatadas, que vieram de outras regiões, devem ter uma coleção organizada, reunir plantas de interesse econômico e medicinal, além de possuir um corpo de pesquisadores capazes de gerar conhecimento sobre sua coleção. Por isso, mais do que jardins, são instituições de pesquisa.

A base do conhecimento humano sobre a classificação das plantas vem dos gregos. Esses primeiros botânicos foram importantes na coleta de plantas de todas as fontes disponíveis e na elaboração Eles começaram para cultivo de plantas medicinais e hoje dividem espaços de lazer com estudos científicos de espécies de todo o mundo de descrições precisas.

No entanto, eles parecem ter tido pouco interesse em cultivar as plantas que tão cuidadosamente descreviam. O único registro da existência de qualquer coisa da natureza de um jardim botânico na Grécia antiga é a menção ao “Jardim de Aristóteles” em Atenas, que ele legou a Teofrasto por volta do ano 300 a.C.

Não há dúvida entre os historiadores de que foi nesse jardim que Teofrasto obteve a maior parte do seu conhecimento sobre as plantas, e que resultaria nos magníficos Historia plantarum (História das plantas), e De causis plantarum (Sobre as causas das plantas).

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Os chineses começaram a fazer jardins botânicos 28 séculos antes de Cristo.
E continuam fazendo, como esse fundado em 1956 na cidade de Hangzhou

Um pouco antes dos gregos, por volta do ano 1.000 a.C., Nekht, jardineiro-chefe dos jardins anexos
ao Templo de Karnak no Egito antigo, recebeu a ordem de organizar o “Jardim Real de Thotmes”. Este
Jardim, de contorno retangular, com uma pérgula de vinha e jardineiras de lótus, foi provavelmente
o primeiro jardim que possuía uma dupla função: era destinado ao lazer, além de possuir plantas
de interesse medicinal. No entanto, não havia a intenção declarada de aclimatizar plantas exógenas,
aumentando a coleção de plantas reais.


São os chineses que devem ser creditados como fundadores do primeiro jardim botânico da história, sendo os verdadeiros fundadores da ideia de jardins botânicos modernos. O mítico imperador Shen Nung, do século 28 a.C., considerado pai da medicina, enviava exploradores em viagens longuíssimas, com a função explícita de trazer de volta para seu jardim real plantas de interesse econômico, e especialmente medicinal.


Esse jardim servia como local de aclimatação dessas plantas, para que depois fossem utilizadas na saúde e na alimentação do povo chinês. Graças a essa iniciativa, foram introduzidos na economia chinesa a videira, a romã, o açafrão e muitas outras plantas.

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As estufas de Kew Gardens, em Londres, Inglaterra, são famosas pelas plantas
tropicais trazidas de todo o mundo por mais de 250 anos

O estabelecimento de jardins no México merece destaque, já que tudo indica que foi uma iniciativa anterior ao contato com os europeus. O historiador William Prescott, em seu livro seminal A conquista do México, conta que Montezuma tinha extensos jardins repletos de arbustos e flores, e principalmente com plantas medicinais.

Essas plantas eram estudadas pelos astecas, que são creditados como possuidores de uma avançada ciência botânica médica. Não à toa, a América Central forneceu mais espécies importantes de medicamentos fitoterápicos do que qualquer outra parte do mundo. Os jardins em Iztapalan e Chalco foram abastecidos com árvores e plantas cientificamente arranjadas, e foram preservados por Hernan Cortez após a conquista do México.

Todos esses jardins tiveram importância em suas épocas, e culminaram nos jardins botânicos modernos. A história que eles contam tem a ver com dominação e poder, mas também são testemunhas da bela e complexa relação entre homens e plantas.

O ESPECIALISTA

LUIZ MORS CABRAL é biomédico com pós-doutorado na Bélgica e professor na Universidade Federal Fluminense, onde faz pesquisas para identificar os genes envolvidos no desenvolvimento vegetal. Também realiza projetos de divulgação científica sobre a domesticação das plantas, sempre usando uma linguagem cativante.

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