Aprenda a produzir mudas por enxertia para obter plantas mais resistentes
– Por Marina Gabai
Assim como as pessoas, as plantas também têm pontos fortes e fracos: enquanto algumas contam com flores vistosas e frutos saborosos, mas são suscetíveis ao ataque de pragas, outras são menos atraentes, porém resistem melhor às condições adversas. Para unir em um só exemplar o que há de melhor em duas espécies, foi desenvolvida a enxertia, uma técnica que consiste em implantar o ramo de uma planta – aquela de flores atraentes ou frutos saborosos – no caule de outra mais rústica.
A resistência, porém, é apenas uma das vantagens das mudas enxertadas. Como o ramo que dará origem às flores e aos frutos é retirado de uma planta adulta que já está produzindo, as mudas desenvolvidas a partir dessa técnica tendem a florescer e frutificar mais cedo. Daí esse ser o método de produção de mudas mais adotado pelos viveiros de frutíferas.
Existem duas formas diferentes de se produzir mudas enxertadas: a garfagem e a borbulhia. Veja como executar cada uma delas:
A ESCOLHA DAS ESPÉCIES
Para que a enxertia dê certo é preciso que as plantas usadas na produção da muda tenham algum parentesco. Elas podem ser duas variedades de uma mesma espécie – caso da carambola-comum (Averrhoa carambola) e da carambola ‘Fwang-Tung’ (Averrhoa carambola ‘Fwang-Tung’); do mesmo gênero, como a tangerina (Citrus reticulata) e o limão-cravo (Citrus × limonia); ou da mesma família, caso do Poncirus trifoliata e da laranja (Citrus sinensis).
A espécie mais resistente é plantada direto no solo ou em vaso – ela será o porta-enxerto ou cavalo – e serve de suporte para um ramo ou gema da planta que produzirá as flores e frutos.As duas técnicas de enxertia mais usadas são a garfagem e a borbulhia. Entenda a seguir como cada uma delas é feita:
COMO ENXERTAR
As duas técnicas de enxertia mais usadas são a garfagem e a borbulhia. Entenda a seguir como cada uma delas é feita:
Garfagem
Este método de produção de mudas consiste no encaixe do ramo de uma espécie no cavalo de outra. Funciona para frutíferas como a macieira, a pereira, o abacateiro e a mangueira, além dos cítricos. Ela também é indicada para hibiscos. “Começar enxertando hibiscos é uma boa ideia, pois o enxerto tem grande chances de dar certo, e a pessoa vai pegando a prática”, explica o produtor Edilson Giacon.
1. Escolha a planta que será o porta-enxerto. No caso dos hibiscos, Giacon recomenda o uso do hibisco-comum (Hibiscus rosa-sinensis), que é rústico e cresce rápido. O ideal é que a muda que será usada no procedimento tenha sido produzida por sementes, pois elas têm raízes mais fortes. Quando o caule estiver com diâmetro de uma ou duas canetas esferográficas, corte-o em linha reta para deixar a planta com 20 cm a 40 cm de altura. Depois, abra uma fenda de cerca de 3 cm de profundidade bem no meio da estaca. O porta-enxerto está pronto.
2. O próximo passo é escolher o ramo da planta que será enxertada. Busque um ramo que tenha florescido ou frutificado há mais tempo, pois ele estará mais próximo de brotar novamente. Corte um pedaço de 15 cm desse ramo e lasque a extremidade que estava mais próxima do caule – a ponta deve ficar com formato de estaca. Depois encaixe-a na abertura do cavalo. Cubra o ponto de união das duas plantas com uma fita plástica própria para enxertia – ela é vendida em lojas de jardinagem – para protegê-lo do ataque de bactérias. Algumas espécies precisam de um cuidado extra nessa fase: para não desidratar, o abacateiro, por exemplo, deve ter a parte acima do ponto de enxerto coberta por um saquinho plástico até que comece a brotar.
Borbulhia
A borbulhia é indicada principalmente para a enxertia de cítricos e, segundo Edilson Giacon, o limão-cravo (Citrus × limonia) pode ser usado como porta-enxerto para diversas variedades de laranja, tangerina e limão, pois é muito resistente e cresce rápido. Para dar origem à nova muda, uma gema – ou borbulha – de uma planta é inserida no caule de outra.
A enxertia pode ser feita em uma planta cultivada a partir de sementes – nesse caso é preciso esperar de seis a oito meses para que a muda possa receber a borbulha – ou de mudas compradas de viveiristas, que podem receber o enxerto imediatamente.
1. Escolha um ponto do caule cerca de 20 cm acima do solo e, com o canivete, faça um corte vertical e um horizontal, formando a letra T. É aí que a borbulha será encaixada. Tire todas as folhas e espinhos de uma área de 2 cm para cima e para baixo do T, para que a gema enxertada receba mais seiva da planta.
2. Na hora de escolher a gema que será enxertada, procure um ramo jovem – ele tem gemas triangulares, enquanto as dos mais antigos são arredondadas. Retire apenas a camada superficial da gema e encaixe no T do porta-enxerto. Para garantir que água ou doenças não estraguem o enxerto, cubra o ponto de junção com a fita plástica.
Depois que o enxerto estiver pronto, é preciso manter a planta hidratada. Regue-a todos os dias caso ela esteja em vaso e uma vez por semana se estiver direto no solo. Passados 20 dias, torça a parte do caule que está acima do enxerto e amarre-o para baixo. Aproveite para remover os novos brotos que tenham surgido. Assim, a seiva se concentrará na parte enxertada.
Cinco dias depois já será possível retirar o plástico que cobre a borbulhia e, em 15 dias, o broto começará a aparecer. Quando ele atingir 10 cm, corte a parte do cavalo que estava amarrada para baixo.