Conheça as plantas que encantam pelo visual, mas podem causar sérios problemas aos seres vivos

Texto Laura Doubek

Fotos Valério Romahn

 

Donas de uma beleza exuberante ou singular, algumas plantas escondem um segredo: princípios ativos poderosos, capazes de causar intoxicação em animais e até nos seres humanos. São as chamadas plantas tóxicas, espécies assim denominadas ou porque o seu contato com a pele causa alergias; ou porque sua ingestão pode levar a problemas digestivos, cardíacos e até no sistema nervoso.

O efeito, é claro, depende do composto químico em questão e da quantidade ingerida. Plantas como a cicuta, por exemplo, podem ser fatais mesmo em doses mínimas, enquanto a azaleia, que também é considerada tóxica, precisa ser ingerida em grande quantidade para gerar desconfortos mínimos. A diversidade de espécies é enorme, e pode até ser que algumas tóxicas estejam aí no seu jardim.

Das plantas que todo mundo já viu às que podem ser fatais, conheça algumas dessas belezuras perigosas.

O PERIGO MORA AO LADO

Quem diria que a lantana (Lantana camara) (1), aquele arbusto cheio de florzinhas coloridas, que aparece em tudo quanto é jardim, é uma planta tóxica? As flores propriamente ditas não oferecem qualquer risco, mas as folhas, se ingeridas por animais, podem causar vermelhidão na pele e até dificultar a alimentação. Para as pessoas, os vilões são os futinhos, que provocam náusea, desregulam o intestino e podem até levar a óbito quando consumidos em doses elevadas.

Se para os animais o perigo da lantana são as folhas, para os seres humanos o risco está nos frutos

Tão vistosa quanto a lantana, a azaleia (Rhododendron hybrid – Southern Indica Hybrid Group) (2) é outra  Figurinha carimbada nos canteiros que pode fazer mal para animais domésticos. Se comerem qualquer parte do arbusto, cães e gatos correm o risco de ter convulsões e até problemas nos sistemas nervoso e respiratório. Nenhuma parte da planta, no entanto, é tão tóxica quanto as folhas. Se você tem bichinhos de estimação, talvez seja melhor abrir mão da beleza das flores dessa espécie.

Encontradas em tudo quanto é jardim, a azaleia e alamanda são duas espécies que devem ficar longe do alcance de cães, gatos e crianças

Na alamanda (Allamanda cathartica) (3), o problema está no látex venenoso que a planta secreta. Do mesmo jeito que é tiro e queda no combate aos pulgões e cochonilhas que tentam atacá-la – ao se alimentarem da alamanda esses insetos acabam se intoxicando –, ele pode fazer um estrago quando consumido por crianças e animais. No corpo humano, os sintomas mais frequentes são sede, febre e cólica, no caso da ingestão; e dermatite, no contato com a pele. É, por trás das delicadas flores,  essa trepadeira arbustiva nativa da América tropical esconde uma ameaça em potencial.

AS SUPERTÓXICAS

Algumas espécies são tão perigosas que, por menor que seja a quantidade ingerida, quem entra em contato com elas precisa de cuidados médicos imediatos. É o caso, por exemplo, do oleando (Nerium oleander) (4), um arbusto nativo da região do Mediterrâneo muito comum nos jardins. O grau de toxicidade de suas flores róseas é tão alto que quem as consome pode apresentar alteração nos batimentos cardíacos e na pressão, sonolência e até entrar em coma. Com ele, todo cuidado é pouco.

O mesmo vale para a arebenta-boi (Hippobroma longiflora) (5). Ao ver suas flores delicadas, quase ninguém desconfia que o nome popular da espécie se deve justamente aos danos que ela é capaz de causar tanto em seres humanos quanto em animais. Todas as partes dessa herbácea perene podem provocar fortes disfunções no organismo se comidas e, no caso do simples contato, erupções na pele.

Na América do Norte, não existe planta mais mortal que a cicuta. É provar um pedacinho e correr para o hospital

Quando se trata de fazer estrago no organismo, no entanto, nenhuma espécie é páreo para a cicuta (Cicuta maculata) (6). Com porte máximo de 1,5 m de altura, ela é tão tóxica que na América do Norte, sua região de origem, não há planta que mate mais do que ela. Basta ingerir um pedacinho – qualquer que seja ele – para entrar em convulsão. Se a parte escolhida for a raiz, a coisa fica pior ainda: há até o risco de amnésia a longo prazo. Por via das dúvidas, é melhor manter distância.

EFEITOS FORA DO COMUM

De todos os efeitos provocados pelo consumo de plantas como a papoula-dormideira (Papaver somniferum) (7), o peiote (Lophophora williamsii) (8) e a trombeta-de-anjo (Brugmansia suaveolens) (9), o mal-estar é o menor.  Alucinações, alterações de pensamento, humor e consciência fazem parte do rol de sintomas. Dá até para entender por que algumas pessoas recorrem a essas espécies em rituais religiosos.

Da papoula-dormideira são obtidos o ópio e ingredientes para a produção de soníferos analgésicos

No visual, a papoula-dormideira é quase igual à papoula-oriental (Papaver orientale), uma planta que entra em muitas dietas saudáveis por conta do alto teor nutritivo de suas sementes. Mas nem pense em trocar uma pela outra: a dormideira é tão tóxica que a partir dela é produzido o ópio – uma droga ilegal que provoca euforia e dependência química – e poderosos soníferos analgésicos.

Nativo do México, o peiote é um pequeno cacto que demora cerca de dez anos para produzir sua primeira flor. O efeito psicodélico que ele provoca, no entanto, pode vir bem antes, já que a substância tóxica da espécie não está nas pétalas e sim no caule. Com apenas 12 cm de altura e desprovido de espinhos, o cacto tem uso não apenas em rituais religiosos, mas também na medicina alternativa, que tira proveito de suas propriedades para tratar picadas de cobra e queimaduras.

Tanto o peiote quanto a trombeta-de-anjo provocam alucinações e, por isso, são usados em rituais religiosos

Cultivada por conta de suas flores brancas e perfumadas de até 30 cm de comprimento, a trombeta-de-anjo secreta substâncias tóxicas narcóticas em todas suas partes. O resultado da ingestão? Alucinações, náuseas e alterações cardíacas. Mesmo com todos os riscos, pode valer a pena investir nessas espécies para deixar o paisagismo mais bonito. Desde que você não tenha crianças ou animais em casa, por que não?

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