Conheça algumas flores discretas, minúsculas ou exóticas que parecem não ter pegado a mesma senha que roseiras e jasmineiros
É aqui a fila da flor?
– É sim, meu filho. No que posso ajudar?
– Olha, eu tô muito precisado da sua ajuda. Tem uma moça que eu tô amarradão, quero umas flores pra chamar a atenção dela. Grandes, perfumadas, de pétalas macias. Ah, e bem coloridas!
– Como é seu nome, rapaz?
– Filodendro, Senhor.
– Eu não tenho mais senha pra flores grandes, o hibisco veio e pegou tudo. Pétalas macias ficaram com a rosa, e o perfume foi pro jasmim. E, como os manacás não se decidiam pela cor das flores, eu mandei logo três pra cada um. Negócio não está fácil pro seu lado, não.
– Pô, mas as moças só querem saber de flor. Tô lascado…
– Se ainda tivesse a caixa de lápis de cor, tentava colocar uns vermelhos aí, mas depois que eu fiz o arco-íris, as araras e a Rita Lee, só sobraram uns toquinhos de lápis. Tem bastante verde ainda, serve?
– Aí o Senhor me complica, né?! Como vou declarar meu amor pras minas sendo uma folhagem verde e sem flor?
– Hmmmm, peraí que eu tive uma ideia divina!
Tenho certeza de que foi esse o papo do Philodendron gloriosum com Deus. Só assim pra explicar aquelas folhas verdes e aveludadas terem formato de corações gigantes. O Jardineiro mandou também flores, mas à moda guaimbê, digamos assim, com a inflorescência no formato de espiga envolvida por bráctea que tanta fama trouxe ao antúrio.
Mais difícil foi a solução dada ao curculigo. Pensa num rapaz tímido? Daqueles realmente discretos, mas com o coração bom, capaz de acolher em seus braços – digo, folhas – quem pede abrigo e proteção? Pois é, o moço conseguiu a senha da flor lá no céu, mas ficou com tanta vergonha que deixou o buquê amarelo e pequenino escondido onde só os olhares mais sensíveis conseguem alcançar.
Peperômias não tiveram a mesma sorte e vieram pra Terra com inflorescências do tipo “rabinho de rato com caspa”, enquanto as do papiro parecem um asterisco – será que Deus espirrou enquanto estava fazendo essas flores? Tamanho, evidentemente, não é o cerne da questão, que o diga a estapelia, cujas flores enormes exalam odor de carniça. E, antes que você comece a pensar que o Cara lá de Cima tem muito bom humor, lembre-se da tiririca ou da mãe-de-mil, plantas que todo mundo quer exterminar, mas que produzem flores lindas e duráveis. #naotemlogica
A coisa não para por aí, não. Até a família das flores mais aristocráticas tem lá suas preteridas. Enquanto há milhões de colecionadores de catleias, falenópsis e dendróbios, dá pra contar nos dedos os orquidófilos que se derretem de elogios pelas Pleurothallis, com suas flores solitárias, do tamanho de cabeças de cotonetes, firmemente agarradas às folhas. Barbosella e Stellis também produzem orquídeas tão insignificantes que são chamadas de “matinhos” pelos especialistas, bem menos bullying do que “monstrinhas”, como foram batizadas as flores dos gêneros Stanhopea ou Coryanthes. Que nome melhor dar pra aquele amaçarocado de pétalas de onde despontam um labelo em concha e uma sépala fálica, assim, #tudojuntomisturado? Sorte a nossa ter tanta flor no mundo. Dá pra atender a todos os gostos, até aqueles que são menos de floradas espetaculares e mais de folhagens exuberantes, como eu. 😉
Carol Costa é jornalista, jardinista e idealizadora do blog Minhas Plantas (www.minhasplantas.com.br). Tem uma coluna na rádio BandNews FM e apresenta o programa “Mais cor, por favor” no canal GNT