Texto Ana Vazzola | Fotos Valerio Romahn
Por conta de seu contato íntimo com a Natureza, os índios já conheciam, lá no século 16, as propriedades do urucum (Bixa orellana), planta que hoje é muito valorizada por indústrias dos mais diversos segmentos: do alimentício ao de cosméticos.
Só que, além de útil, a arvoreta nativa da América Tropical é muito bonita e faz sucesso nos jardins como planta ornamental. Isolada nos canteiros, em vasos ou formando cercas vivas, ela cria um visual e tanto quando se enche de frutos vermelhos que mais parecem pompons, com a casca totalmente tomada por espinhos flexíveis. Foi a cor dos deles, aliás, que rendeu à espécie o nome popular – em tupi, urucum significa vermelho.
Quando os frutos começam a despontar, no verão, é um deslumbre. Como a planta de até 5 m ainda exibe os cachos cheios de flores rosadas, o que se vê é uma mistura de verde, vermelho e rosa na copa. Conforme vão amadurecendo, porém, os frutos perdem a cor – ficam marrons, sinal de que estão prontos para serem colhidos.
É no interior deles, no entanto, que o urucum guarda seu verdadeiro tesouro: cerca de 50 sementes avermelhadas que as tribos do Brasil e do Peru usavam para produzir uma tinta vermelha – ela servia tanto para pintar o corpo em rituais religiosos quanto para proteger a pele do sol e das picadas de inseto. E não é que os nativos sabiam das coisas? Hoje essas propriedades do urucum estão mais do que comprovadas e o óleo extraído dessas sementes é muito valorizado pela indústria cosmética – entra na receita de cremes, loções e protetores solares para dar um tom dourado à pele.
Para a indústria alimentícia, o que interessa mesmo é o colorau, o pozinho vermelho obtido a partir das sementes trituradas da planta. Como não altera o sabor dos alimentos – nem tem os efeitos prejudiciais dos corantes artificiais –, ele é amplamente usado e ainda traz como bônus seu elevado teor de vitamina C e carotenoides – substância que auxilia no emagrecimento e na redução do colesterol.
FRUTOS TODO O VERÃO
Típico de clima tropical, o urucunzeiro pode ser cultivado em todo o Brasil e dá bons frutos por até seis anos. Segundo o produtor Edilson Giacon, a espécie se adapta melhor ao clima das regiões Norte e Nordeste, mas é possível plantá-la mesmo em lugares de clima mais frio. “A dica é transplantar a muda para o solo assim que o inverno acabar. Dessa forma, ela terá tempo de se fortalecer até a próxima queda de temperatura”, indica.
Para um plantio bem-sucedido, abra um berço de 40 cm x 40 cm x 40 cm, e misture à terra local
500 g de torta de mamona ou 10 litros esterco de curral. Acomode a muda e cubra o torrão com a mistura. Quem preferir cultivar o urucum em vaso deve usar um recipiente de no mínimo 30 litros preenchido com terra vegetal de boa qualidade.
Apesar de a espécie ser bastante resistente à falta d’água, nos primeiros 30 dias após o plantio, Giacon recomenda irrigar a muda diariamente. Passado esse período, ela pode ser molhada uma vez por semana, se estiver em canteiro, ou em dias alternados, caso seja cultivada em vaso.
A adubação também não tem mistério: nos meses de agosto, novembro e fevereiro, aplique 200 g de torta de mamona ou 100 g de adubo químico NPK 4-14-8. O produtor alerta que, no caso dos exemplares em vaso, é melhor dar preferência à adubação orgânica, pois o adubo químico faz a planta crescer muito e exigir maior quantidade de água.
A colheita dos frutos do urucum acontece sempre durante o verão, cerca de 90 dias depois da floração. “Assim que o primeiro fruto do cacho começar a secar e mudar de cor, o cacho todo já pode ser colhido”, conta o produtor. O corte do ramo deve ser feito com uma tesoura de poda, canivete ou faca, 20 cm abaixo de onde surgem os primeiros frutos.
As podas, executadas sempre após o período de frutificação, servem para controlar o formato da planta e estimular o surgimento de novos brotos, bem como eliminar os ramos doentes e malformados.
No que se refere às pragas, as que mais afetam o urucum são as cochonilhas e pulgões, combatidos com a aplicação de óleo mineral ou vegetal agrícola na folhas. Giacon também alerta para a incidência de brocas nos ramos, que acabam perdendo a força e quebrando.
Nesse caso, o melhor a fazer é podá-los 10 cm antes do local afetado.
Mudas de urucum com 50 cm podem ser encontradas na Ciprest Viveiro de Mudas e Plantas por R$ 15.
URUCUM EM DETALHES
• Nome científico: Bixa orellana
• Nomes populares: urucum, urucuzeiro e açafroa
• Família: Bixáceas
• Origem: América Tropical
• Características: arvoreta rústica, de crescimento rápido, que atinge até 5 m de altura
• Folhas: verde-claras, chegam a medir 15 cm de comprimento
• Flores: rosadas, com 7 cm de diâmetro e muitos estames. Surgem nas pontas dos ramos durante a primavera e início do verão
• Solo: arenoargiloso e bem drenado
• Frutos: se formam em cachos nas pontas dos ramos durante o verão. Apresentam casca vermelho intenso e cheia de espinhos flexíveis. Quando maturam, ficam marrons e liberam suas sementes, que são avermelhadas e servem de matéria-prima para o colorau
• Luz: sol pleno
• Clima: tropical
• Regas: molhe as plantas em canteiros uma vez por semana, e as em vasos, em dias alternados
• Plantio: abra berços de 40 cm x 40 cm x 40 cm e misture à terra local 500 g de torta de mamona ou 10 litros de esterco de curral. No caso do plantio em vasos, use recipientes de no mínimo 30 litros e preencha-os com terra vegetal de boa qualidade. Independentemente de as mudas estarem em canteiros ou vasos, regue-as diariamente nos primeiros 30 dias após o plantio
• Adubação: nos meses de agosto, novembro e fevereiro, aplique 200 g de torta de mamona ou 100 g de NPK 4-14-8
• Podas: de formação, podem ser feitas sempre após a frutificação. Com a tesoura de poda, elimine os ramos doentes e malformados
• Reprodução: por sementes
Consultoria: Edilson Giacon (produtor da Ciprest Viveiro de Mudas e Plantas), www.ciprest.com.br; Mônica Vitorino (nutricionista), nutricionistamonicavitorino@gmail.com