Acompanhe a fabulosa trajetória do nosso especialista que foi fulminado na juventude pela paixão das orquídeas e passou toda a sua vida envolvido por elas

Texto Erwin Bohnke

Penso que sou um predestinado. Só isso explica a paixão que senti a primeira vez que entrei em uma exposição de orquídeas em Riacho Grande, São Bernardo do Campo, SP. Foi uma emoção tão fulminante que nunca mais esqueci o impacto que me causaram aquelas espécies como Cattleya, Sophronitis, Oncidium, entre muitas outras. De todas, a de que mais gostei foi uma Ionopsis utricularioides, que não consegui comprar pra levar pra casa. Mas, sem dúvida, foi o meu amor primeiro, o exemplar que eu nunca tive, mas que jamais esqueci.

Na época, recém-casado e com recursos limitados, eu sentia uma tremenda compulsão pra comprar muitas orquídeas. A primeira compra foi um Cymbidium em uma feira. Mas eu sonhava ter orquídeas, muitas orquídeas. Até que tive a sorte de encontrar um amigo que estava indo morar na Europa e vendia uma pequena coleção, com cerca de 10 orquídeas, mas que encheram meus olhos. E, o melhor, pedia um preço bem baratinho que eu podia pagar.

Minha alegria durou pouco. Tive de me mudar para o Nordeste e não havia como levar todas as minhas lindinhas. O jeito foi ficar só com uma e presentear com as outras uma tia querida, a quem fiz milhares de recomendações. Quando meu casamento acabou em 1989, voltei pra São Paulo, dessa vez, decidido a montar a minha sonhada coleção de orquídeas.

Louco de paixão, comprava todas que encontrava pela frente, sem nenhum critério ou conhecimento sobre elas. Misturava Cattleya, Encyclia, Epidendrum, Phalaenopsis e outras que gostam de calor com Masdevallia, Dracula, Cymbidium e outras que preferem temperaturas mais amenas. Misturava aquelas que gostavam de muita água com as que detestavam, sem falar da insolação, que era a mais errada possível.

A primeira paixão de Erwin foi uma Ionopsis utricularioides (foto maior e ilustração) com longos cachos arqueados, que agrupam dezenas de pequenas flores de aspecto delicado e podem durar até 20 dias – Ilustração: Van Houte, L. B. / Flores des serres et des jardin del’Europe (1845-1880)

Digamos que para cada 100 orquídeas eu matava 80. Quase não regava, não adubava… Mas como bom “alemão” era teimoso. A cada fracasso eu agregava novos conhecimentos, a cada acerto eu repetia os cuidados com as do mesmo gênero.

O principal é que eu insistia e comprava mais. Bastava que a orquídea “desse uma piscadinha” pra mim que já comprava e a incluía no meu orquidário. Era uma época sem internet, de poucos livros, mas de intensa comunicação entre os orquidófilos de quem, a cada exposição, a cada conversa, eu ficava mais amigo e que, generosamente, compartilhavam o conhecimento que tinham comigo. Não tenho dúvidas que meu conhecimento veio deles, por isso serei eternamente grato.

Me especializei, fiz das orquídeas meu ganha-pão e produzia pra vender. Mas uma nova reviravolta aconteceu em minha vida. Ao voltar pra Sergipe, em 2017, larguei tudo em São Paulo, depois vendi minhas — então muitas — orquídeas bem barato pra um amigo e recomecei. Dessa vez, eu seria bem mais criterioso nas minhas escolhas. Aqui, procuro o lugar certo pra cada grupo de plantas.

E ainda sonho em construir uma estufa fechada úmida e fria, pra cultivar microorquídeas, como Masdevallia e Pleurothallis. Agora, se eu pudesse ensinar alguma coisa aos que estão começando, é não sair na loucura comprando qualquer orquídea como eu fiz, e jamais confiar em informações chutadas de internet. Busque informações de qualidade, como a coleção Mestre das Orquídeas, publicada pela Editora Europa. Se eu puder ajudar diretamente também é sempre um prazer. Nós, apaixonados pelas orquídeas, temos uma qualidade que não se aplica a muitos outros casos: adoramos compartilhar o objeto de nosso amor.

Muitas décadas de vivência depois com orquídeas, Erwin agora quer fazer uma estufa úmida e fria, único jeito de cultivar orquídeas como a Masdevallia estradae – Foto: Quimbaya – Flickr

O ESPECIALISTA

ERWIN BOHNKE foi um grande orquidólogo durante mais de 40 anos, deu palestras e cursos sobre orquídeas no Brasil e no exterior. Morava em Aracaju, onde manteve uma pequena produção de orquídeas e foi presidente da Orquidófilos Associados de Sergipe (OASE).

Essa reportagem foi publicada na edição 425 da Revista Natureza. Para adquirir, clique aqui.