Rico em nutrientes, o peixinho incrementa o paisagismo e ainda serve de base para deliciosos petiscos
TEXTO HELOÍSA CESTARI | FOTOS VALERIO ROMAHN
PRODUÇÃO AIDA LIMA
Nos canteiros e vasos, o peixinho (Stachys byzantina) encanta com o tom prateado e a textura aveludada de suas folhas ornamentais, que formam maciços capazes de criar contrastes incríveis na paisagem. Mas os motivos para cultivá-lo vão muito além da estética.
Para os adeptos das PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais –, ele tem lugar garantido na horta, uma vez que pode ser usado em uma boa variedade de receitas e ainda é fonte de proteínas, fibras, minerais e fenólicos. Os vegetarianos, por sua vez, encontraram nas folhas da espécie um substituto perfeito para o peixe: depois de empanadas e fritas, elas ficam parecendo filés de pescada à milanesa – daí a planta ser chamada de peixinho e de lambari-da-horta. Há ainda quem prefira apelidá-la de orelha-de-lebre, outra alusão às folhas alongadas e peludas da espécie.
Rústico, o peixinho não exige grandes cuidados e resiste bem a pragas, doenças e baixas temperaturas. “Desde que plantado sob sol pleno, em solo rico em matéria orgânica e úmido, ele se espalha com facilidade por hortas e canteiros, formando uma linda forração comestível de até 40 cm de altura, explica a bióloga Débora Morato, da Sabor de Fazenda. “Para o plantio em vaso, dê preferência a jardineiras ou recipientes do tipo bacia. Assim, a planta terá espaço suficiente para emitir novos brotos”, explica. No paisagismo, ele pode ser cultivado em canteiros como planta isolada, agrupado com outras espécies, entre pedras ou como bordadura.
Húmus de minhoca: um grande aliado
Depois de plantadas, as mudas de peixinho devem ser regadas com moderação a cada um ou dois dias, ou sempre que o solo estiver seco. “Verifique com a ponta dos dedos se a rega é necessária e, para evitar o ressecamento excessivo do solo, utilize uma cobertura morta, como aparas de grama, casca de pínus ou palha de arroz carbonizada”, sugere Débora. As adubações, por sua vez, que devem ser trimestrais nos canteiros e mensais nos vasos, se resumem à aplicação de húmus de minhoca ou composto orgânico. Com esses pequenos cuidados, a colheita de folhas viçosas e suculentas é garantida.
Na hora de cortar as folhas para uso na culinária, a dica é retirar sempre as mais externas primeiro, a fim de preservar a folhagem jovem do “miolo” da touceira – e tomando cuidado para não arrancar junto as delicadas inflorescências, de tom arroxeado, que surgem no fim da primavera e durante todo o verão.
Receita clássica
Para quem nunca experimentou o peixinho, a sugestão de Débora é começar com a receita clássica, à milanesa, que imita a manjubinha. Basta lavar as folhas e enxugá-las. Depois, em uma tigela, misture ½ xícara de farinha de trigo, ½ xícara de água gelada, 1 colher de sopa de maisena, ¼ de colher de chá de fermento em pó e uma pitada de sal. Mergulhe as folhinhas na massa e depois frite-as em óleo quente. Polvilhe sal por cima e sirva. Elas ficam bem sequinhas e crocantes.
Outras opções são incorporar a folha picada e refogada ao molho da macarronada, ou usá-la no preparo de um chá, que ajuda a acalmar a tosse e alivia a irritação da garganta.
As mudas de peixinho são facilmente encontradas em feiras orgânicas, viveiros e garden centers. Na Sabor de Fazenda (www.sabordefazenda.com.br), elas custam R$ 7,50.
Eu provei e gostei
O cheiro de fritura que vinha da cozinha era irresistível. A aparência dos filezinhos empanados distribuídos no prato também não deixava dúvidas: o peixinho era realmente idêntico ao peixe frito. Dei a primeira mordida já esperando sentir o gosto familiar, mas não foi bem assim. Era bom, não havia dúvidas, mas, salvo pela crosta crocante e bem temperada, nada ali remetia ao tradicional pescado. Ainda assim, o sabor suave daquela folha verdinha e carnuda me conquistou. Comi uma e depois outra, e, quando me disseram que também fica uma delícia na lasanha, já comecei a planejar a próxima receita.
Christiane Fenyö, editora da Revista Natureza
Peixinho em detalhes
- Nomes populares: peixinho, orelha-de-lebre, lambari-da-horta, pulmonária
- Nome científico: Stachys byzantina
- Família: asteráceas
- Origem: norte da Turquia, sudoeste da Ásia e região do Cáucaso
- Características: herbácea perene, ramificada e entouceirada, de até 50 cm de altura
- Folhas: são espessas, suculentas e cobertas por uma pelugem esbranquiçada, de textura aveludada. Com até 15 cm de comprimento, têm formato estreito e pontiagudo
- Flores: tubulares e arroxeadas, são envoltas por brácteas no mesmo tom da folhagem e se agrupam em inflorescências espigadas que se formam na ponta dos caules. Despontam no fim da primavera e durante todo o verão
- Luz: sol pleno
- Solo: rico em matéria orgânica, bem drenado e mantido úmido
- Clima: por ser resistente Às baixas temperaturas – inclusive à geada – e não tolerar o calor excessivo, a espécie é indicada principalmente para regiões subtropicais de altitude
- Plantio: para o plantio em canteiros ou na horta, prepare o solo misturando partes iguais de terra retirada do local, areia e composta orgânico ou húmus de minhoca. Acomode as mudas com espaçamento de 25 cm e depois cubra o solo com aparas de grama, casca de pínus ou palha de arroz carbonizada para reter a umidade. Já para o plantio em vaso, escolha um recipiente do tipo bacia, com pelo menos 30 cm de diâmetro, e preencha-o com uma mistura de partes iguais de substrato próprio para plantio, areia e composto orgânico para só então acomodar a muda. O plantio pode ser feito em qualquer época do ano – evite apenas os dias mais quentes
- Regas: diárias no verão e a cada dois dias no inverno
- Adubação: nos vasos, acrescentar húmus de minhoca a cada 30 dias. Nos canteiros, a cada três meses
- Poda: consiste apenas na remoção de folhas secas ou atacadas por pragas. O procedimento pode ser feito em qualquer época do ano
- Reprodução: por sementes ou divisão de touceira