De árvores que começam a produzir em tempo recorde às que dão jabuticabas de casca verde, a variedade de jabuticabeiras é enorme. E uma coisa é certa: seus frutos são sempre deliciosos
Texto Marina Gabai | Fotos Valerio Romahn | Produção Aida Lima
Quando o assunto é saborear o fruto colhido direto do pé, poucas plantas são páreo para a jabuticabeira. Ou vai dizer que existe prazer maior que o de sentir a polpa adocicada explodindo na boca no exato momento em que a casca firme se rompe?
Famosa por seu fruto de casca preta e tamanho que lembra uma bola de gude, a frutífera tipicamente brasileira é adorada nos quatro cantos do país. Só que a maior parte das pessoas conhece apenas a Plinia cauliflora, a mais tradicional das jabuticabeiras. Nem desconfia que existem cerca de 40 espécies diferentes que se distinguem entre si pela cor, tamanho, sabor e cor das jabuticabas. Elas podem ser vermelhas, verdes, rajadas, ter a casca aveludada. Há até jabuticabeiras rápidas na frutificação, ideais para os mais apressados.
ESCOLHA A SUA
Quem quer ter o estoque de jabuticabas sempre cheio pode apostar na jabuticaba-escarlate (Plinia phitrantha × P. cauliflora), uma espécie híbrida que dá frutos praticamente o ano todo – os intervalos entre uma frutificação e outra são bem curtos e, quando somados, não chegam a três meses. A espécie também é recordista na velocidade de frutificação: seus frutos de casca vermelha e sabor que equilibra o doce e o ácido começam a despontar apenas três anos após o plantio da semente. “O sabor é similar ao da jabuticabeira tradicional mas, como a casca é mais fina, eles são mais perecíveis”, explica o produtor Fernando Grando.
No quesito visual curioso, no entanto, ela não consegue fazer frente à jabuticaba-branca (Plinia phitrantha). Também conhecida como ibatinga – “fruta branca” em tupi guarani –, a planta produz frutos que se diferenciam justamente por ir contra a principal característica das jabuticabas: a cor escura da casca. Eles não chegam a ser brancos, como o nome dá a entender, mas permanecem com a coloração verde mesmo quando maduros – o que pode dificultar a tarefa de descobrir se estão no ponto para o consumo. A dica do engenheiro agrônomo e produtor Adhemar Gomes é observar a textura da casca. “Quando ela estiver aveludada, é hora de colher”, explica. De sabor bem doce, a espécie ocorre naturalmente em uma área pequena dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, e faz bonito no jardim: além de encantar durante o período da florada e frutificação, seu tronco descama e ganha diversas tonalidades, o que cria um efeito interessante no paisagismo.
Se a ideia é cultivar a frutífera em uma região de clima mais ameno, aposte na jabuticaba-de-cabinho-rajada-Unesp (Plinia peruviana). Nativa da Mata Atlântica e da Mata dos Pinhais, ela ocorre em uma faixa que vai de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul e se dá muito bem em áreas subtropicais. Sua maior particularidade é o fato de os frutos doces e rajados de vermelho e verde não nascerem colados ao tronco da árvore, mas sustentados por cabinhos compridos. Depois de colhidos, eles até lembram as cerejas.
Para regiões secas, a pedida é a jabuticaba-do-Mucuri (Plinia sp.nov), nativa das proximidades do Rio Mucuri, em Minas Gerais. Seus frutos chamam a atenção por conta da casca aveludada, como a do pêssego. Já o tamanho – 3 cm – e a cor – preta – são os mesmos da jabuticaba tradicional.
Quem é chegado a exageros vai adorar a jabuticaba-vermelha-Esalq (Plinia phitrantha ‘Vermelha Esalq’), que foi desenvolvida pela universidade paulista. Seu fruto vermelho intenso é um dos maiores do gênero: pode chegar a 4 cm de diâmetro. As folhas seguem a linha: medem de 8 cm a 12 cm de comprimento.
CULTIVO RÚSTICO
Diferentes na aparência, as jabuticabeiras são todas rústicas e requerem os mesmos cuidados no cultivo. Para plantar a muda diretamente no solo abra um berço de 50 cm x 50 cm x 50 cm, preencha-o com uma mistura de terra do local, 200 g de adubo fosfatado e 5 litros de matéria orgânica. Acomode a planta e em seguida molhe bastante. Já para o plantio em vaso, escolha um recipiente proporcional ao tamanho da muda – espécies como a jabuticaba-branca, a jabuticaba-escarlate e a jabuticaba-do-Mucuri precisam de vasos de até 100 litros, enquanto as demais se adaptam bem aos de 15 ou 20 litros. Preencha-o com substrato para frutíferas e encaixe a espécie.
Regue apenas quando o substrato estiver seco – em regiões onde a umidade é baixa podem ser necessárias irrigações diárias –, e adube quatro vezes ao ano com NPK 10-10-10, ou duas vezes ao ano com um adubo de liberação lenta.
No Viveiro Frutas Raras (www.frutasraras.com) é possível encontrar todas as variedades de jabuticaba apresentadas nesta reportagem a preços que variam entre R$ 6 e R$ 500 conforme a espécie. Quem preferir também pode adquirir a jabuticaba-branca, jabuticaba-vermelha-Esalq, jabuticaba-escarlate e a jabuticaba-de-cabinho-rajada-Unesp no viveiro Jabuticabeira (www.jabuticabeira.com.br).
JABUTICABEIRAS EM DETALHES
• Nome popular: jabuticabeira
• Família: Mitáceas
• Origem: Brasil
• Características: árvores semidecíduas com tronco ramificado. A altura varia conforme a espécie e pode ir de 3 m até 12 m
• Folhas: são longas e lanceoladas. O tom de verde pode variar de acordo com a espécie, assim como o comprimento, que vai de 4 cm a 12 cm
• Flores: brancas e delicadas, nascem ao longo de todo o tronco e ramos da árvore. Dependendo da espécie podem ser um pouco menores ou maiores, mas em média medem 0,5 cm
• Frutos: nascem grudados no tronco e nos ramos – exceto os da jabuticaba-de-cabinho, que são sustentados por cabinhos compridos. O colorido da casca varia e a polpa é doce, levemente ácida. Conforme a espécie, podem medir de
2 cm a 4 cm de diâmetro. Em geral, surgem do final do inverno até o verão. Algumas espécies, entretanto – a jabuticaba-escarlate é uma delas –, podem frutificar por mais tempo
• Luz: sol pleno
• Solo: arenoargiloso, acrescido de matéria orgânica
• Clima: tropical, mas algumas espécies toleram bem o subtropical
• Regas: sempre que o solo estiver seco. Em regiões onde a umidade é baixa, podem ser necessárias irrigações diárias
• Plantio: para o cultivo direto no solo abra um berço de 50 cm x 50 cm x
50 cm e misture à terra retirada 200 g de adubo fosfatado e 5 litros de matéria orgânica. Acomode a muda e regue em abundância. O plantio em vaso deve ser feito em um recipiente proporcional ao tamanho da muda, preenchido com substrato para frutíferas
• Adubação: Aplique NPK 10-10-10 quatro vezes ao ano
• Podas: nas plantas cultivadas no solo, remova apenas os ramos secos para facilitar a entrada de luz na copa. Nas em vaso, faça a poda de formação antes do inverno para controlar o tamanho da jabuticabeira e evitar que a copa fique muito grande
• Propagação: por sementes