– Por Eduardo Gonçalves

Em 1961, o astronauta russo Yuri anunciou ao mundo que a Terra era azul. E é mesmo, especialmente quando vista do alto. Mas esse não é o ponto de vista mais familiar a quem vive com os pés no chão. Aos olhos do homem, que colonizou cada canto desse planeta, quase tudo que a vista alcança é um imenso tapete vegetal.
É essa cobertura viva que serve de cenário para as principais etapas da nossa vida, já que usamos parte dessa camada como comida, abrigo ou até remédio. E decidimos chamar de “planta” cada unidade ou fio que tece esse grande tapete verde.

Por que verde? A luz que vem do sol traz todas as cores, mas cada coisa nesse mundo é capaz de absorver determinadas cores e refletir outras. Algo nos vegetais faz com que apenas a luz verde seja refletida de volta e, por isso, vista pelas pessoas. Desde 1817, sabe-se que essa substância é uma molécula chamada clorofila, mas só algumas décadas depois se percebeu que ela é a peça central na incrível capacidade que as plantas têm de converter a luz do sol em energia química. Chamamos isso de fotossíntese, e dela vem a energia que nos mantém vivos. O verde desse mundo não é só beleza, afinal.

Pode até parecer, mas a cor não está em toda a planta. Se puder cortar um vegetal em fatias muito finas, você perceberá que quase todos os tecidos vegetais são transparentes ou esbranquiçados. Apenas algumas células trazem dentro de si uma ou várias unidades verdes chamadas cloroplastos, onde toda a fotossíntese acontece. E as plantas gerenciam de perto seu uso: se ficam sem luz, desligam os cloroplastos, perdendo o verde; quando a luz volta, o verde volta também. Se colocar uma batata em um lugar ensolarado, em dois ou três dias ela fica verdinha, mostrando que percebeu a necessidade e “ligou” seus cloroplastos. E você achando que as plantas não percebiam nada.

E as plantas roxas, avermelhadas ou em outros tons? Nesses casos, a clorofila ainda está lá, mas foi mascarada por outros pigmentos com funções diversas. Alguns absorvem o excesso de luz solar, evitando danos ao cloroplasto, como um filtro solar. Outros fazem o contrário: absorvem luzes de outras cores, passando essa energia à fotossíntese e complementando o que a clorofila não faz. Mas o verde está sempre por lá!

Para uns, o verde é a cor da esperança. Para outros, é a própria cor da vida. Quanto mais o verde é suprimido do planeta, menores ficam as chances de sobrevivência do homem no futuro, e pior a qualidade de vida no presente. Na dúvida, seja mais um dos que acreditam que podemos fazer a parte emersa dessa mundo voltar à sua cor original. Espalhe o verde.

O verde desse mundo não é só beleza, mas a energia que nos mantêm vivos | Foto: Valerio Romahn


Eduardo Gomes Gonçalves é paisagista, doutor em Botânica, autor do livro Se não fugir, é planta! e escreve sobre curiosidades do mundo da biologia