Pouco atrativo por fora, o kiwi conquista pela beleza de sua polpa esverdeada e pelo sabor que combina doçura e acidez

– Por Ana Luísa Vieira

 

As aparências enganam. Quem olha pela primeira vez para um kiwi (Actinidia deliciosa) marrom e felpudo nem imagina a mescla vibrante de verde, amarelo e branco que se esconde sob sua casca. O sabor também surpreende: de gosto cítrico, une doçura com um toque de acidez. A suculência discreta da polpa ainda garante refrescância na dose certa.
Acrescente a isso propriedades nutricionais e medicinais como abundância em vitamina C e presença de fibras que ajudam a manter o mau colesterol longe e está pronta a receita desse sucesso que, embora intimide à primeira vista, não precisa de mais do que poucas mordidas para conquistar um novo fã.

DA CHINA PARA O MUNDO

Originário da China, até o início do século 20, o kiwi teve seu cultivo concentrado nas regiões altas e úmidas do vale do rio Yang-Tzé, na porção norte do país. Considerada uma iguaria, a fruta era muito apreciada pelos Grandes Khan, membros da dinastia Yan – uma das mais importantes do Império Mongol. Em 1904, um grupo de botânicos neozelandeses descobriu a delícia e levou algumas sementes para sua terra natal – onde a espécie passou a ser cultivada em larga escala. No início, os produtores chamavam a fruta de “groselha da China”, para recordar sua região de origem. Porém, na década de 1930, quando passou a ser exportada para os Estados Unidos e países da Europa, ela ganhou a alcunha de kiwifruit – uma homenagem ao kiwi, pássaro símbolo da fauna neozelandeza, cujo formato e coloração do corpo são similares aos do fruto.

COM SABOR DE NOVO

No Brasil, o kiwi ainda tem gostinho de novidade: só chegou ao país em 1971. “No início foram trazidas sementes da França e, depois, sementes e estacas vindas da Nova Zelândia”, explica Samar Velho, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho que estuda frutíferas de clima temperado.

Ainda são poucas as fazendas e os sítios no País que produzem a espécie em larga escala, e a maioria delas está situada na região sul, onde as baixas temperaturas favorecem a frutificação. Por esse motivo, 70% dos kiwis vendidos em frutarias e supermercados ainda vêm de países como Itália, Nova Zelândia e Chile.

Nos pomares caseiros, a espécie é cultivada em estruturas vigorosas, já que tem caules lenhosos, hábito trepadeiro e precisa de sustentação para crescer saudável. Como sua folhagem densa proporciona boa sombra – ela só cai no inverno –, o kiwizeiro é muito usado para cobrir pergolados.

POLPA DO BEM

Segundo Samar Velho, entre as variedades de kiwi de polpa verde mais consumidas pelos brasileiros estão Abbott, Allison, Bruno, Hayward e Monty. A intensidade da coloração da parte carnosa do fruto varia conforme a concentração de clorofila em cada cultivar: quanto maior a quantidade de pigmento, mais esverdeada ela é.
Entre os kiwis de polpa amarela, os mais conhecidos são o Golden King, Yellow Queen, MG06 e Farroupilha. É importante ressaltar, no entanto, que essas variedades pertencem a outra espécie: a Actinidia chinensis. Além de doses consideráveis de clorofila, a polpa do kiwi – que tem cerca de 60 calorias – é uma verdadeira reunião de substâncias que fazem bem à saúde, a começar pela vitamina C. Uma porção de 100 g da fruta pode conter até 140 mg da substância. A título de comparação, a mesma quantidade de laranja inclui pouco mais de 40 mg do mesmo ácido ascórbico – que tem ação antioxidante e protege as células contra os radicais livres, evitando o envelhecimento precoce. Ácido fólico (vitamina B9), potássio, cálcio e fósforo também marcam presença. Mas lugar de destaque mesmo quem ocupa é a pectina – fibra que auxilia no controle dos níveis de colesterol no sangue. Combinados, todos os nutrientes formam um poderoso aliado da imunidade corporal.

DO JARDIM À COZINHA

Na culinária, o kiwi é ingrediente de saladas, geleias, sucos e drinques. Mas a maior parte das pessoas gosta mesmo é de consumi-lo in natura – condição que preserva sua riqueza em vitamina C. Em vez de descascar a fruta e comê-la em fatias, alguns preferem cortá-la ao meio e – sem se desfazer da pele – comer sua polpa a colheradas.

Embora pegar frutos do pé e consumi-los ainda frescos não seja privilégio de todos no Brasil – o clima frio de que o kiwizeiro tanto gosta definitivamente não é o forte do território nacional –, vale tentar em casa o cultivo da variedade Bruno: “Seu fruto é mais alongado e menor, mas ela é menos exigente em relação ao frio e requer a metade do tempo sob baixas temperaturas que cultivares como o Hayward”, explica Samar Velho.

Como tem hábito trepadeiro, o kiwizeiro depende do apoio de estruturas vigorosas para crescer


KIWI EM DETALHES

• Nome científico: Actinidia deliciosa
• Nomes populares: kiwizeiro, kiwi
• Família: actinidiáceas
• Origem: sudeste da China
• Características: trepadeira semilenhosa e vigorosa que apresenta flores femininas e masculinas em plantas diferentes
• Folhas: têm textura de couro e são ásperas na parte superior. O diâmetro varia entre 14 cm e 21 cm
• Flores: pequeninas e de cor creme
• Frutos: têm formato elíptico, pele marrom e felpuda e polpa verde
• Luz: sol pleno
• Solo: descompactado, com pH em torno de 6. Deve ser mantido úmido e bem drenado
• Clima: temperado e subtropical frio
• Plantio: em um berço de 50 cm de lado e 50 cm de profundidade, incorpore cerca de 15 litros de esterco de curral bem curtido e acomode as sementes ou mudas. Separe uma estrutura para conduzir o crescimento da espécie, que tem hábito trepadeiro e exige sustentação para se desenvolver. É importante ter plantas macho e fêmea para a frutificação – o que pode se dar com o plantio de mudas individuais ou com o plantio de um exemplar feminino enxertado com um ramo masculino. Estabeleça uma distância mínima de 3 m entre as plantas e procure adquirir as mudas de um produtor confiável, que saiba dizer o sexo de cada exemplar
• Regas: três vezes por semana até as raízes se estabelecerem e diárias no período de estiagem. No resto do ano, são dispensáveis
• Adubação: anual, com 15 litros de esterco de curral bem curtido
• Podas: de limpeza no inverno, para renovar os ramos. Corte de duas a seis gemas por ramo
Reprodução: por sementes ou enxertia