Muito consumido na forma de infusão, o capim-cidreira faz bem para a saúde e é perfeito para jardins rústicos e de baixa anutenção

Texto Laura Neaime

O capim-cidreira (Cymbopogon citratus) – também chamado de capim-santo – é daquelas plantas cheias de virtudes. Na cozinha, suas folhas viram chá desde os tempos da vovó e auxiliam no tratamento de inúmeros males, de dores de cabeça a insônia. Já no jardim, a espécie valoriza o paisagismo com suas touceiras rústicas e vigorosas, de até 1 m de altura, e inunda os ambientes com um delicioso perfume cítrico, que rendeu à espécie os apelidos de capim-limão e capim-cheiroso.

A espécie suporta geadas e estiagens curtas, mas, para ficar com as folhas verdinhas, requer solo úmido

A rusticidade, aliás, sempre foi um dos principais atrativos desse parente da grama-esmeralda (Zoysia japonica) e do bambu-mossô (Phyllostachys pubescens). Nos séculos 19 e 20, o capim-cidreira era utilizado ao longo de linhas férreas no Sudeste brasileiro para conter as encostas e evitar a erosão.

O capim-cidreira forma touceiras de até 1,5 m de altura e perfuma o jardim com o aroma característico de suas folhas

Mas o fato de ser resistente não significa que a planta possa ficar abandonada. Ela suporta geadas e curtos períodos de estiagem, porém, para manter suas folhas verdinhas, o ideal é regá-la de duas a três vezes por semana.

DOSE DE NATURALIDADE

Presença obrigatória em hortas e herbários, o capim-cidreira também faz bonito em outras áreas do jardim: em vasos, jardineiras ou canteiros, ele é perfeito para quem busca imprimir volume ao paisagismo. Quando cultivada diretamente no solo, a espécie pode formar maciços isolados ou bordar canteiros – a única recomendação, neste caso, é que a herbácea seja combinada com plantas de grande porte para que o efeito seja harmonioso. Ainda assim, é indicado reservar um bom espaço para ela: suas folhas, que medem até 90 cm de comprimento, se agrupam em touceiras de cerca de 50 cm de diâmetro e formam uma copa de até 1 m de diâmetro.

Espaçosa, a herbácea requer pelo menos 50 cm de distância entre uma muda e outra para crescer saudável

Para o cultivo em canteiros, recomenda-se o espaçamento de 50 cm entre as mudas. Já no caso dos vasos, a herborista Silvia Jeha indica o uso de recipientes com pelo menos 40 cm de diâmetro, já que nessas condições a touceira fica um pouco menor.
A espécie deve ser mantida sob sol pleno e em solo bem drenado. Para o preparo do substrato, Silvia sugere misturar três partes de terra com uma de adubo orgânico e uma de areia. A simplicidade no cultivo também se reflete nas regas: não são necessárias mais do que duas irrigações semanais, mesmo em períodos de estiagem.
Para garantir o vigor da planta, faça uma poda radical a 7 cm do colmo – estrutura caulinar localizada na base da touceira – a cada quatro ou seis meses. Já a colheita para consumo pode ser feita conforme a necessidade, com o corte das folhas uma a uma. O ponto de corte é o mesmo da poda: 7 cm acima do colmo, sempre tomando cuidado para não afetar a estrutura.

Mesmo no período de seca, as touceiras não precisam de mais do que duas regas semanais para se manter bonitas

Como as folhas do capim-cidreira apresentam superfície áspera e bordas cortantes, é imprescindível o uso de luvas no seu manuseio.

MUITAS UTILIDADES

O capim-cidreira é um ingrediente coringa. Com sabor suave e acidulado, é consumido principalmente na forma de chá, mas também pode ser utilizado no preparo de sucos, em pratos salgados e doces. Entretanto, vale redobrar a atenção ao incluir suas folhas cruas como ingrediente de sucos ou outros quitutes: suas partes cortantes podem causar desconforto intestinal. “Para evitar qualquer mal-estar, após bater o capim no liquidificador, coe o preparo duas ou três vezes antes de ingerir”, explica Silvia Jeha, do viveiro Sabor de Fazenda. No caso de infusões, os riscos são mínimos.

Para garantir a saúde da planta, uma vez ao ano faça uma poda radical, sempre preservando o colmo

Independentemente da forma como é incluída nas receitas – batida e coada ou em infusão em água quente –, a espécie tem valiosos benefícios para a saúde. As folhas são famosas pelas propriedades calmantes e por isso são associadas ao tratamento da insônia, além de terem efeitos analgésico, expectorante e serem capazes de estimular o funcionamento do sistema digestivo. O óleo essencial extraído delas também é considerado medicinal: tem propriedades bactericidas e pode ser usado para tratar ferimentos na forma de compressas ou unguentos.

CUIDADO COM A FERRUGEM

Apesar de muito rústico e resistente, o capim-cidreira tem um ponto fraco: é um alvo fácil para a ferrugem, fungo que também ataca as produções de cana. A praga deixa a folhagem da herbácea com manchas marrons e aspecto ressecado com o passar do tempo. Caso isso aconteça com o seu exemplar, remova as folhas danificadas e aplique diariamente óleo de nim em toda a planta, de baixo para cima, até que a infestação desapareça. Se optar pelo produto concentrado, dilua 100 ml em 30 litros de água.


Para manter o fungo longe do jardim, não exagere na frequência das regas e garanta uma boa circulação de ar no local. O replantio anual da muda é outra prática que evita o enfraquecimento das touceiras.

FONDUE DE CAPIM-SANTO

Receita: Morena Leite (chefe de cozinha e dona dos restaurantes Capim Santo e Santinho, em São Paulo, SP, e Santinho, em Trancoso, BA); foto: Renata D’Almeida/divulgação

Ingredientes

• 200 ml de leite
• 75 g de folha de capim-santo
• 500 g de chocolate branco
• 1 abacaxi cortado em cubos ou macarons
• 1/2 limão

Modo de preparo

Pique as folhas de capim-santo, bata no liquidificador com o leite até ficar com a coloração verde, coe e reserve. Derreta o chocolate branco em banho-maria. Misture o líquido reservado e sirva a seguir com os macarons ou com o abacaxi picado e as raspas de limão.

CAPIM-CIDREIRA EM DETALHES

• Nome científico: Cymbopogon citratus
• Nomes populares: capim-cidreira, capim-santo, capim-limão, capim-cheiroso e erva-cidreira
• Família: Poáceas
• Origem: Ásia tropical
• Características: herbácea perene de raízes rizomatosas. É bastante aromática e mede até 1,5 m de altura
• Folhas: longas, lineares e recurvadas, com até 90 cm de comprimento e 1,5 cm de largura. Apresentam coloração verde-acinzentado, textura áspera e bordas cortantes. Exalam perfume cítrico, principalmente quando maceradas
• Flores: amarelas e diminutas, elas se agrupam em inflorescências piramidais acima da folhagem, mas não são consideradas ornamentais. A espécie não costuma florescer fora de sua região de origem

• Solo: arenoargiloso acrescido de matéria orgânica e mantido úmido
• Luz: sol pleno
• Clima: tropical e subtropical, desde que não haja geadas
• Regas: de duas a três vezes por semana
• Plantio: em um berço de 30 cm x 30 cm, com 20 cm de profundidade, acomode a muda e preencha o restante do espaço com substrato composto por três partes de terra, uma de areia e uma de adubo orgânico. Para garantir o pleno desenvolvimento das plantas, deixe um espaçamento de 50 cm entre elas
• Doenças: a espécie costuma ser atacada por ferrugem, doença comum em plantações de cana-de-açúcar e que deixa as folhas com manchas amarelas e aspecto ressecado. Para tratá-la, a herborista Silvia Jeha recomenda a remoção das estruturas danificadas e a pulverização de óleo de nim diluído de baixo para cima até a recuperação da planta
• Propagação: por divisão de touceiras

Além de ser ingrediente de chás, o capim-cidreira pode aparecer em sucos, pratos doces e salgados

CONSULTORIA: Silvia Jeha (herborista do Sabor de Fazenda) e Gabriela Pastro (bióloga do Sabor de Fazenda), tel.: (11) 2631-4915

PROJETO: Elga Vincki (engenheira agrônoma e paisagista), tel.: (19) 7827-1442

FOTOS: Valerio Romahn