Conhecido pelo fruto – que na verdade não é um fruto – o morangueiro embeleza o jardim e rende uma deliciosa produção orgânica | Foto: Shutterstock

– Por Laura Neaime | Fotos Valerio Romahn

Na mesa, o morango (Fragaria x ananassa) seduz pela mistura ideal de doce e azedo; no jardim, as delicadas flores brancas e as folhas denteadas disputam atenção com os pequenos corações pendentes que colorem as jardineiras. Tamanha perfeição e beleza do morangueiro têm a quem puxar: as espécies do gênero Fragaria – ao qual ele pertence – são da família das rosáceas, a mesma das rosas, a rainha das flores. Porém, atrás do visual charmoso e do aroma agradável, se esconde uma herbácea muito mais complexa.

A primeira surpresa que o morangueiro reserva é o fato de a estrutura carnosa e vermelha, que todos chamam de fruto, não ser um fruto e sim um  pseudofruto. Os frutos verdadeiros, formados a partir do ovário das flores, são os grãozinhos escuros que salpicam a superfície avermelhada do morango e que abrigam as sementes.

PASSADO CHEIO DE HISTÓRIA

Independente da forma como é denominado, o fato é que o morango conquistou o mundo há muito tempo. Os primeiros registros do cultivo da planta para fins culinários foram feitos na Europa e datam do século 14. Até mesmo os canteiros do emblemático Castelo de Versalhes já foram recheados pela frutífera, que era cuidada pelo jardineiro de Luis XIV. Mas quem espera ter no jardim exatamente a mesma planta do Rei Sol, é melhor mudar de ideia: entre as espécies pioneiras cultivadas no velho continente e a comumente encontrada no Brasil, há uma longa “distância genética”.

As originais europeias, Fragaria vesca e Fragaria moschata, produziam frutos pequenos e não apresentavam regularidade na frutificação. Por isso, quando os espanhóis conheceram a Fragaria virginiana, em 1400, na América do Norte, apaixonaram-se pela vigorosidade da herbácea e incentivaram o seu cultivo. Cem anos mais tarde, foi catalogada a Fragaria chiloenses, do Chile, que, cruzada com as espécies europeias e a americana, deu origem à chamada Fragaria x ananassa – planta que hoje é produzida em grande parte do território brasileiro e que dá morangos mais doces e carnudos. Este híbrido foi submetido a melhorias genéticas que deram origem a inúmeros cultivares pelo mundo. No Brasil, onde o clima é mais quente, as variedades que melhor se adaptaram foram a Campinas (1), Sweet Charle (2), Dovek (3) e Osogrande (4) – todas cultivadas comercialmente.

O formato dos morangos muda conforme a variedade da frutífera, mas as folhas e flores são sempre iguais

Cultivado em vasos ou em jardineiras, o morangueiro é muito ornamental e cabe em qualquer cantinho do jardim

CANTEIRO ORGÂNICO, PRATO SAUDÁVEL

O resultado desta mistura intercontinental é um item que merece lugar cativo na dieta não só pelo sabor, mas pelas propriedades nutricionais.
Entretanto, na superfície avermelhada das unidades compradas no supermercado se esconde uma armadilha: grandes doses de agrotóxicos. Considerado uma rara iguaria por um longo período no Brasil, a popularização do morango, a partir da década de 1970, infelizmente, aconteceu sob o alto preço do uso massivo de tais produtos, que garantem a otimização da produção. Juliana Lopez, professora do setor de nutrição da UNIFESP, explica que a superfície porosa do morango dificulta a remoção completa dos agentes químicos, o que pode trazer prejuízos para a saúde. Assim, a melhor opção é a produção orgânica que pode ser realizada no pomar de casa.

A boa notícia para quem quer cultivar a frutífera no jardim é que ela não exige muito espaço e pode ser plantada em vasos com 10 cm de diâmetro e 20 cm de profundidade. O produtor Sebastião Silvério apenas ressalta que, quanto maior for o recipiente, mais a muda se desenvolverá. O cultivo diretamente no solo também é possível, apesar de não ser o mais popular em jardins residenciais. Outra opção é compor jardineiras com mais de um morangueiro, mantendo 30 cm de distância entre eles.

O principal cuidado para garantir a saúde da espécie é manter o solo sempre úmido, por meio de regas diárias. Entretanto, a alta umidade é um dos motivos da herbácea ser tão suscetível ao ataque de pulgões e outras pragas, que se proliferam com mais facilidade nestas condições. Como medida para prevenir ataques, Sebastião reforça a importância das podas de limpeza, que consistem na retirada de ramos e folhas fracos e de frutos velhos.

Quando uma praga ou doença já está instalada, o jeito é recorrer a soluções caseiras de combate, como o uso de uma solução de fumo de corda – no caso de pulgões – ou calda bordalesa – se surgirem fungos. Infestações de insetos podem ser repelidas com óleo de nim. O produtor revela que os morangos perfeitos têm um segredo: a fecundação, geralmente feita por abelhas. Embora os pseudofrutos se formem independentemente de as flores serem polinizadas, os provenientes de flores fecundadas são mais simétricos e formosos. No Brasil, a frutificação acontece durante o inverno e a primavera. Apesar de perene, a Fragaria x ananassa costuma ser cultivada como anual ou bianual. Após este período, as plantas devem ser descartadas e aproveitadas as mudas nascidas ao redor da planta-mãe.

No cultivo comercial, o solo é coberto por um plástico preto, para impedir o contato dos frutos com a terra e evitar o ataque de pragas

DELÍCIAS FORMOSAS

Entre os atributos que fazem do morango um aliado da boa saúde está a capacidade antioxidante, que retarda o envelhecimento. Cada 100 g do pseudofruto fornece a quantidade ideal de vitamina C recomendada para um dia inteiro, apesar de não representar mais do que 40 calorias. Juliana Lopez ainda ressalta as características anti-inflamatórias, que ajudam na dieta por regularem o organismo.

O morango é rico em vitamina C e 100 g da fruta não têm mais do que 40 kcal

Entretanto, ela alerta a tradicional associação do morango a alimentos gordurosos como chocolate, chantili ou leite condensado, pode anular seus efeitos benéficos. Para quem deseja emagrecer, Juliana indica o consumo da fruta em saladas, in natura ou na forma de geleia sem açúcar. Por ser um alimento bastante perecível, o morango deve ser mantido refrigerado. Uma dica para aproveitá-lo ao máximo é congelá-lo e
usá-lo no preparo de sucos ou vitaminas, uma vez que ele não perde as propriedades nutricionais quando bem acondicionado.


MORANGUEIRO EM DETALHES

• Nome popular: morangueiro
• Nome científico: Fragaria x ananassa
• Família: rosáceas
• Origem: híbrido entre espécies nativas da Europa e da América
• Características: herbácea perene, mas cultivada como bianual, que apresenta caules reptantes – ou seja, que crescem rente ao solo – de até 20 cm de altura. Apresenta diversos cultivares que se diferenciam no formato e no tamanho dos frutos
• Folhas: em formato oval, apresentam as bordas denteadas e são verde-vibrantes
• Flores: delicadas, são formadas por cinco pétalas cuja cor varia do branco ao róseo
• Frutos: são, na realidade, os pequenos pontos escuros que salpicam a superfície do morango – este, um pseudofruto carnudo, em formato de coração e avermelhado
• Luz: sol pleno
• Solo: argiloso, rico em matéria orgânica e mantido úmido
• Clima: existem cultivares para os mais diversos climas. No Brasil, podem ser plantados em regiõs de temperaturas amenas, como no sul e Sudeste
• Plantio: o morango pode ser plantado diretamente no solo ou em vasos, desde que o recipiente tenha pelo menos 10 cm de diâmetro e 20 cm de profundidade. Prepare o substrato misturando bagaço de coco e terra em proporções iguais. Regue o local onde será colocada a muda por seis dias para só então abrir berços com 5 cm de profundidade e acomodar as plantas. Em jardineiras, mantenha distância de 30 cm entre as mudas
• Regas: de duas a três vezes por dia até as raízes se estabelecerem – o que pode ser verificado pelo surgimento de novas folhas. Após este período, mantenha regas diárias
• Adubação: intercale aplicações de húmus de minhoca e NPK 4-14-8 a cada três meses
• Podas: de limpeza
• Reprodução: por sementes ou mudas que nascem ao lado da planta-mãe