Conheça algumas espécies que, além de enfeitarem a casa, desintoxicam os ambientes removendo do ar substâncias nocivas como benzeno e formaldeído

— Por Laura Neaime | Fotos Valerio Romahn

Engana-se quem pensa que a fotossíntese – processo pelo qual as plantas, quando expostas à luz solar, absorvem CO2 e água e produzem energia e oxigênio – é a única contribuição dos vegetais para a atmosfera e para a saúde das pessoas. Diversas espécies têm uma capacidade extra: a de purificar o ar de ambientes fechados, eliminando compostos orgânicos voláteis – os chamados VOCs, dos quais fazem parte substâncias como benzeno, formaldeído e tricloroetileno.

Enquanto as folhas produzem oxigênio, as raízes das plantas eliminam do ar os compostos orgânicos voláteis, que fazem mal à saúde

Tais agentes tóxicos aparecem na composição de materiais como produtos de limpeza, móveis e carpetes, e podem causar dor de cabeça, alergias e até mesmo danos à memória. Os VOCs estão em todos os lugares, mas são mais abundantes em ambientes fechados, onde a circulação de ar é deficitária. Entretanto, é possível minimizar a sua concentração com uma medida simples: incluindo plantas no espaço – que, de quebra, alegram e decoram o ambiente.

A descoberta da ação purificadora das espécies não é algo novo: ela é fruto de um estudo realizado pela NASA, em parceria com a Associação de Paisagistas da América (ALCA, Associated Landscape Contractors of America), publicado pela primeira vez nos anos 1980. A pesquisa, que começou com o intuito de tornar a atmosfera das estações espaciais mais saudáveis, constatou que as raízes das plantas e, principalmente, os micro-organismos presentes nos substratos se alimentam dos VOCs, retirando-os de circulação e purificando o ar. Ou seja, quando se trata da neutralização dos compostos orgânicos voláteis do ar, todo o trabalho fica com as raízes e os micro-organismos, ao contrário do que acontece na fotossíntese, que tem como principais agentes as folhas e demais estruturas aéreas das plantas.

ASSOCIAÇÕES PARA O BEM 

Os micróbios presentes no substrato das plantas variam de acordo com a espécie, o que também impacta a neutralização dos agentes tóxicos. Isso porque cada um dos compostos estudados – benzeno, formaldeído, tricloroetileno, xileno, tolueno e amônio – é absorvido por diferentes micro-organismos e sistemas radiculares. “O mais recomendável é criar um mix de espécies para que o maior número possível de compostos seja retirado do ambiente”, recomenda o biólogo e paisagista Eduardo Gonçalves.

Quem pretende purificar a casa ou escritório pode apostar na seguinte combinação: pau-d’água (Dracaena fragans ‘Massangeana’) (1), que elimina o formaldeído proveniente de solventes, produtos de limpeza e madeira compensada; espada-de-sãojorge (Sansevieria trifasciata) (2), espécie capaz de neutralizar, além de formaldeído, o benzeno liberado pelos cigarros, o tricloroetileno, o xileno e o tolueno; e antúrio (Anthurium andraeanum) (3), que se encarrega da amônia, entre outros compostos. Caso tenha que eleger apenas uma espécie, aposte no lírio-da-paz (Spathiphyllum ‘Wallisii’) (4) ou no crisântemo (Chrysanthemum hybrid) (5), capazes de filtrar todos esses VOCs.

Floríferas vistosas, como os antúrios, deixam a casa mais bonita e ainda ajudam a limpar o ar

O lírio-da-paz é capaz de, sozinho, remover do ar os principais VOCs

COMPANHEIRAS DE QUARTO

Durante muito tempo, as pessoas foram aconselhadas a evitar o cultivo de plantas no quarto devido ao “risco” de asfixia. O alerta se baseava no fato de que, durante a noite, as plantas paralisam a fotossíntese e realizam o processo de respiração, liberando gás carbônico. O biólogo e paisagista Eduardo Gonçalves, no entanto, explica que a quantidade de gás liberada pelas plantas é tão pequena, se comparada à de uma pessoa ou um animal de estimação, que seu efeito acaba sendo irrisório. Assim, a presença de espécies dentro de casa só é contraindicada no caso de pessoas alérgicas.

Foto: Shutterstock

COMUNS E EFICIENTES

Quem busca mais variedade na hora de montar seu mix purificador conta com outras opções populares entre os jardinistas. As orquídeas falenópsis e dendróbio (6), por exemplo, removem do ar quantidades significativas de xileno e tolueno, assim como a samambaia-Boston (Nephrolepis exaltata ‘Bostoniensis’) (7), que ainda é capaz de eliminar o formaldeído. A hera-inglesa (Hedera helix) (8), também muito utilizada, é multitarefas, já que neutraliza cinco dos seis compostos testados: benzeno, formaldeído, tricloroetileno, xileno e tolueno.

A lista de espécies que purificam o ar inclui algumas plantas frequentes nas residências, caso da orquídea dendróbio e da hera-inglesa

A extensa lista de plantas capazes de purificar o ar é formada, principalmente, por espécies de sombra ou meia-sombra. O motivo é simples: como o objetivo da pesquisa da NASA era tornar mais saudável o ar dentro das estações espaciais, que são ambientes fechados, nada mais natural que concentrar o estudo em plantas que precisam de pouca luz. Eduardo Gonçalves, porém, acredita que outras espécies que não estão na lista tenham a mesma capacidade.

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