Soluções criativas para separar os ambientes no jardim, os arcos e passagens despertam a curiosidade e ainda dão charme ao paisagismo

Texto Ana Vazzola | Fotos Valerio Romahn

A densa folhagem do pinheiro-europeu forma um muro natural em volta do arco de madeira e delimita duas áreas do jardimAcena é relativamente comum em jardins fora do Brasil: quando uma parede ou cerca viva parece indicar que a área a se explorar chegou ao fim, eis que surge, no meio da barreira, uma pequena passagem – geralmente em forma de arco – convidando a descobrir novas paisagens. A curiosidade fala mais alto e tem gente que até aperta o passo na ansiedade de descobrir o que está do outro lado.

É, mais do que uma solução pra lá de criativa para interligar duas áreas de um mesmo jardim – às vezes com estilos totalmente diferentes –, os arcos e passagens têm um poder enorme de despertar emoções nas pessoas. Como resistir, por exemplo, à tentação de espiar o que existe do outro lado desse túnel branco aberto no meio da cerca topiada de pinheiro-europeu (Taxus baccata) (1), se até os canteiros floridos parecem apontar naquela direção?

TRADIÇÃO INGLESA

O paisagismo inglês é um dos que mais exploram o uso dos arcos e passagens no jardim, e no Castelo de Sissinghurst, a 80 km de Londres, é possível ver uma grande variedade de estruturas do tipo. Paredes de tijolos centenárias dividem o enorme jardim em ambientes menores, e passagens abertas nos muros – as que aparecem abaixo e na página ao lado são duas delas – tratam de ligar os espaços. As trepadeiras subindo pelas paredes, emoldurando as aberturas, e os canteiros e vasos floridos deixam o cenário ainda mais encantador.

No jardim abaixo e à direita, que também fica na Inglaterra, a passagem foi moldada com os próprios ciprestes-de-Leyland (Cupressus × leylandii) (2) que formam a cerca viva topiada. Plantados distantes um do outro – apenas o suficiente para a passagem de uma pessoa – dois exemplares da conífera tiveram os ponteiros unidos para criar o arco.

Como o cipreste-de-Leyland não é comum no Brasil, a dica para criar passagens similares em jardins por aqui é substituí-lo pelo pinheiro-europeu ou a figueira (Ficus benjamina). Em ambos os casos, é preciso uma boa dose de paciência para esperar as plantas atingirem o porte ideal. Para os mais apressadinhos, a sugestão é optar pelo cedrinho (Cupressus lusitanica), que cresce bem mais rápido.

Dependendo do estilo do paisagismo, os arcos podem ser previstos em paredes de alvenaria, como as do castelo de Sissinghurst, na Inglaterra, ou em cercas vivas plantadas para isolar duas áreas do jardim

CRIATIVIDADE A TODA PROVA

Embora as passagens com o topo arredondado sejam as mais frequentes, o formato está longe de ser uma unanimidade – como em tudo no paisagismo, o modelo ideal depende do estilo do jardim. Vale, inclusive, apostar em grades, portões e outros elementos construtivos para deixar o visual mais atraente.

Na foto acima e à esquerda, por exemplo, a passagem retangular aberta na parede de tijolos coberta por trepadeiras não teria a mesma graça se não fosse pelo portão de ferro azul. O mesmo vale para o arco com moldura cheia de arabescos em um dos muitos pátios de Córdoba, na Espanha.

Nenhuma dessas passagens, porém, tem efeito tão impactante quanto a do jardim chinês, à esquerda. De formato circular, ela fica no meio de um muro pintado de branco e transforma a paisagem do outro lado em uma espécie de quadro para quem observa de longe. Os dois jardins seguem o mesmo estilo, e o caminho sinuoso de seixos, com desenhos cuidadosamente trabalhados – bem como o gramado em uma das laterais –, reforça a sensação de continuidade.

Vale tudo para deixar a passagem mais interessante: instalar portões, molduras trabalhadas e até apostar em formatos inusitados, como acontece no jardim abaixo

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