Os vegetais não só sentem o ambiente de forma integral, como também são capazes de reagir a ele na medida exata
– Por Eduardo Gonçalves
Sou botânico profissional há mais de 20 anos e já ouvi todo tipo de pergunta sobre plantas. Mas nenhuma delas é tão frequente quanto a se os vegetais têm consciência, sentimentos ou capacidade de pensar. Desde o século 19, pelo menos uma dúzia de entusiastas alega ter evidências concretas de tais habilidades. Minha natureza científica, no entanto, me obriga a investigar os fatos.
Assim como as pessoas, as plantas percebem frio, calor, umidade, luz e até o toque. Só não conseguem escutar. É razoável, já que nenhuma delas vai fugir de um predador nem perseguir uma presa – é melhor parar de botar música clássica para suas hortaliças e comprar um bom fertilizante!
Os vegetais não só sentem o ambiente de forma integral, como também são capazes de reagir a ele na medida exata: avaliam as condições e usam esse conhecimento para gerenciar as próprias ações com eficiência. É a chamada inteligência. Note, porém, que a inteligência das plantas é uma habilidade corpórea, não intelectual. Elas não precisam de um órgão específico para isso.
E quanto à consciência, a capacidade dos organismos de gerenciar um grande conjunto de informações em tempo real utilizando-se de um foco seletivo? As plantas reagem a uma grande quantidade de informações ambientais, mas não existe nelas um órgão centralizador. Cada célula age por conta própria e apenas informa às outras suas decisões.
Assim, não há necessidade de consciência nas plantas. O mesmo vale para os sentimentos, que precisam de uma consciência para se manifestar e influenciar o comportamento.
Se a dor é um alerta para que as pessoas fujam rapidamente de um problema, seria terrível para uma planta senti-la. Imagine o sofrimento do capim, tendo de suportar cada mordida da vaca sem poder fugir. Assim, é correto dizer que as plantas sentem, mas não têm sentimentos; agem com inteligência, mas não pensam. E não possuem consciência, pois não precisam dela.
E quanto aos “estudiosos” que mediram todas essas habilidades das plantas? Todos, sem exceção, usaram métodos inconsistentes. Alguns até forjaram resultados. É, a verdade pode ser decepcionante!
Eduardo Gomes Gonçalves é paisagista, doutor em Botânica, autor do livro Se não fugir, é planta! e escreve sobre curiosidades do mundo da biologia