Fácil de cultivar, a bucha vegetal é muito vigorosa, serve como esponja de banho e, ainda verde, pode se tornar um delicioso refogadinho

TEXTO Silvia Jeha | FOTOS Acervo Natureza

Gosto de conhecer uma planta pela vivência. Descobrir seus segredos, hábitos e sabores acompanhando de perto tudo o que acontece da semente ao fruto. Tive uma experiência incrível com uma planta que nem sempre recebe a atenção que merece: a bucha vegetal (Luffa cylindrica). Se você pensou nela como esponja para banho, já adianto que também é comestível. Só que eu não tinha a menor ideia de como era o plantio, nem quando colher, nem como prepará-la para uso na cozinha ou no banho.

Uma saborosa PANC, a bucha deve ser colhida verde, com cerca de 10 cm, e pode ser preparada como se fosse abobrinha
A Luffa cylindrica é uma trepadeira da família das Cucurbitaceae, a mesma da abóbora e da melancia

A única coisa que sabia é que era uma trepadeira bem vigorosa, que poderia ir longe. Sabia também que é da família das cucurbitáceas, a mesma das abobrinhas, pepinos, abóboras e que, portanto, podia ser comida sem susto. Como pertence ao gênero Luffa é por vezes chamada simplesmente por lufa, embora seja uma palavra bem incomum no Brasil.

Com produção muito generosa, para ser usada como bucha de banho deve ser colhida quando a casca fica amarela

A bucha é tão frequente por aqui, que muita gente pensa que é nativa. Não é, veio da Ásia, trazida pelos portugueses durante a colonização. Seu cultivo acontece principalmente no Norte e Nordeste do Brasil e nos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Levei para casa uma muda orgânica lá do nosso viveiro Sabor de Fazenda. Nesta época, ainda com o viveiro fechado por conta da pandemia, trabalhava em casa e me joguei na experiência de acompanhar todo o ciclo desta curiosa e funcional planta.
Como sempre, segui o princípio de pensar onde plantar levando em conta como ela ficaria quando fosse adulta. Sabia que essa trepadeira nada tem de pequena, se espalha rapidamente e, se não for controlada, toma conta de tudo muito rapidamente. Moro numa casa térrea com muitas frutíferas, um tanto de hortaliças e PANCs, e procuro que fiquem bem organizadas, dentro do possível, nos seus canteiros e vasos. Escolhi um local perto da minha pitangueira, para que a nova trepadeira tivesse apoio.

O que não imaginava era que a minha bucha iria usar a pitangueira apenas como degrau para alcançar o limoeiro. Dali foi um pulo para o ipê-amarelo que mora na rua. E estou falando apenas de uma muda que, em pouquíssimo tempo, algo como três meses, já havia se espalhado por todos os cantos. Que loucura, na rua o ipê parecia uma árvore de Natal, com buchas penduradas, chamando a atenção de quem passasse.

Com uma única semente, a trepadeira se espalhou por todo o quintal e chegou até a rua.
Silvia colheu mais de 50 buchas e presenteou a família e os amigos. Foto: Silvia Jeha

Resolvi organizar aquelas ramas todas que estavam abafando a minha pitangueira.
Para minha surpresa, contei pelo menos umas 30 buchas penduradas. Quanta abundância! E ainda havia um número enorme de buchas no limoeiro e no ipê, lá fora na rua.


Assim, diariamente, eu acompanhava o crescimento, que parecia que não iria parar nunca mais. Lembrei do livro infantil João e o Pé de Feijão, que ia até o céu. Foi lindo de ver. Como já disse, a bucha pertence à família das cucurbitáceas, portanto, deve ser parecida com a abobrinha, pensei. Decidi levar para a cozinha e testar. Preparei como se fosse abobrinha. Parece estranho quando se pensa em comer algo esponjoso. A dica é colher quando o fruto ainda está imaturo, verde mesmo, com uns 10 ou 12 cm. Fiz um gostoso refogadinho e nhac, como diz a querida amiga Neide Rigo. E ainda por cima pouquíssimas calorias. Cada 100 gramas têm apenas 56 calorias.


Algum tempo depois, as buchas estavam maduras e achei que era hora de colher. Pesquisei e também segui minha intuição. Claro que fui conversar com a turma da roça. Trabalha comigo há muitos anos a Nana, meu braço direito e esquerdo, e ela é do interior, de Alto Rio Doce, em Minas Gerais, e me contou que a época certa de colher a bucha é quando a casca começa a amarelar e parece que fica com um espaço entre ela e o fruto. Para retirar a casca, você deve dar algumas batidas, me orientou a Nana.

Muita fartura na colheita. Foto: Silvia Jeha

Não é que deu certo? Parecia que estava descascando uma mexerica. Acredite, é bem divertido. Porém, a bucha tem muita viscosidade e o jeito melhor de fazer a limpeza é simplesmente lavando em água corrente no tanque. Se por acaso ela ainda ficar muito escura, experimente colocar um pouco de alvejante. Por aqui deu certo. Sei que vivi uma experiência incrível com a bucha.

Na verdade, o que mais me chamou a atenção foi que apenas uma semente, uma única semente, gerou mais de 50 buchas e cada bucha colhida tinha mais de 50 sementes dentro, o que totalizou 2.500 sementes, por volta de 2.000 mudas considerando uma perda de 20%. Preciso confessar que foi um dos momentos em que mais me ficou nítida a abundância na Natureza. As buchas foram todas lavadas e secas. Presenteei minha mãe que, amorosamente, já levou para a costureira e me devolveu em forma de bucha atoalhada para banho. Dei para as minhas irmãs, minhas colaboradoras do trabalho, filhas, ex-marido, amigas e amigos. De quebra, guardei algumas comigo para uso na cozinha substituindo as famigeradas buchas plásticas que demoram tanto para se decompor prejudicando o meio ambiente. É de se emocionar com algo tão abundante que a Natureza traz.

A flor é muito bonita de amarelo intenso. Foto: Silvia Jeha
As buchas lavadas secando ao ar livre. Foto: Silvia Jeha

A ESPECIALISTA

SILVIA JEHA é herborista e nutricionista formada em 1988. Sócia do Viveiro Sabor de Fazenda, acredita que o contato com a terra é a essência do nutricionismo.

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