
Com quatro ambientes independentes, mas integrados pelas plantas, este projeto aposta em folhagens ornamentais para criar um cenário bonito o ano inteiro
TEXTO LAURA NEAIME | FOTOS VALERIO ROMAHN
PRODUÇÃO AIDA LIMA | PAISAGISMO RONALDO KURITA
Para quem observa através das amplas janelas, o jardim parece um quadro. Só que no lugar de tintas e pincéis, o paisagista Ronaldo Kurita usou plantas de diversas cores e texturas para compor sua paleta. A escolha das espécies privilegiou as de folhagem ornamental para garantir que a beleza da composição não dependendesse apenas das floradas. Entre elas, está o pleomele-variegado (Dracaena reflexa ‘Variegata’) (1) que, com suas estriadas e alongadas folhas, é capaz de superar em charme muitos canteiros floridos.
Porém, a visão não é o único sentido instigado por esse jardim. O paladar e o tato também são exercitados graças às frutíferas espalhadas pelo terreno. Posicionadas no cantinho destinado às crianças, elas prometem criar ricas – e, atualmente, raras – recordações de infância. Afinal, as árvores carregadas são um convite para uma rápida escalada e a degustação de frutos colhidos do pé em plena capital paulista.
A presença de pássaros atraídos pelas frutíferas é outro bônus deste refúgio verde. O melhor de tudo: por conta da disposição dos elementos, toda a área infantil, que conta até com uma casinha de Tarzan, pode ser supervisionada pelos adultos diretamente do deque da piscina.
Lazer dentro e fora d’água
O jardim criado por Ronaldo Kurita chama atenção por manter-se bonito mesmo quando não há flores. O segredo foi usar espécies com folhas de formatos e cores variados. O roxo do inhame-preto (Colocasia esculenta var. aquatilis) (1) destaca-se da falsa-íris (Neomarica coerulea) (2), cultivada como bordadura, e de outras plantas predominantemente verdes.

Já a textura diferenciada é o atrativo do pleomele-variegado (3), cuja folhas são alongadas e estriadas. Por ter folhagem perene, o arbusto não corre o risco de sujar a piscina.
No canteiro elevado junto ao muro, árvores-do-viajante (Ravenala madagascariensis) (4) garantem privacidade ao espaço. Elas encobrem a visão de quem está no terreno vizinho, que fica em um patamar mais alto, e ainda ajudam a disfarçar e ornamentar o muro branco.

Perto dali, fica o cantinho das crianças, com um gramado amplo forrado por grama-esmeralda (Zozya japonica) (5). Além de permitir que os pequenos brinquem, o paisagismo promove a interação com a Natureza, pois os frutos da jabuticabeira (Myrciaria cauliflora) (6) e da romãzeira (Punica granatum) (7) podem ser colhidos e experimentados no período que vai do inverno ao verão. As frutíferas também atraem pássaros e polinizadores para o espaço que ainda conta com uma casinha de Tarzan. Apoiada num muro de pedra, a estrutura tem 2,5 m x 2,5 m e é acessada por uma escada de madeira.
Próximo à piscina, é o contraste entre as folhagens do inhame-preto e do pleomele-variegado que chama a atenção
Localização estratégica
Com visão privilegiada, a sala de estar sob o pergolado tem tudo para ser o cantinho preferido do jardim. De lá é possível ficar de olho no que acontece na piscina e ainda admirar a fonte, do lado oposto. Tudo isso abrigado sob a sombra da primavera (Bougainvillea spectabilis) (1) que tomou conta da estrutura de madeira e é um xodó de longa data da proprietária.

Nos canteiros no entorno do espaço são cultivadas quatro tamareiras-de-jardim (Phoenix roebelenii) (2) – uma em cada extremidade –, todas forradas por aspargos-pluma (Asparagus densiflorus ‘Myersii’) (3). A jabuticabeira (4) aparece novamente, desta vez próximo ao pergolado, e contribui para criar uma área sombreada.
O jogo de mesa e cadeiras sob o pergolado cria um ambiente agradável para um chá no meio da tarde
Fonte para admirar
A passagem da varanda para o jardim se tornou um dos espaços mais charmosos do terreno graças à elegante fonte que fica no centro do canteiro. Com 3 m x 2 m, ela tem duas quedas d’água e destaca-se pelos materiais usados no revestimento: o interior é de pedra hijau e a parte externa de quartzito.

Outro detalhe que se sobressai é a altura da borda mais baixa. Com 40 cm, ela pode ser usada como banco pelos visitantes.
O fato da fonte não espirrar água – por conta do design – tornou possível o uso em seu entorno de espécies que não são, necessariamente, características de clima úmido, como as tamareiras-de-jardim (1). Essas últimas são as responsáveis pela integração visual entre a fonte e o pergolado.

Projeto: Ronaldo Kurita (arquiteto paisagista), tels.: (11) 3554-3156 e (11) 97298-8478