Além de muito charmosa, ela ajuda no controle de pragas e, junto com o crisopídeo, faz a “fofofauna” que vive em suas plantas
TEXTO Sabrina Jeha| FOTOS Acervo Natureza
A joaninha é um bichinho lindo e encantado. A natureza deu a maior caprichada na sua carapaça semiesférica vermelha de bolinhas pretas (embora existam de outras cores), copiada na moda, na decoração e permanente inspiração para todo tipo de artista. A beleza, porém, é só parte da mágica: são grandes amigas do jardim, devoradoras de pulgões, cochonilhas, moscas-brancas e insetos minúsculos chamados tripes.
Como se não bastasse, ainda voam. Faz tempo que me interesso por elas. A curiosidade aumentou quando a jardinista Mayra Dias, minha amiga e parceira de jardinagem, me contou que acompanhou a metamorfose completa de uma joaninha. Viu uma larva muito da feiosa se transformar em pupa e, alguns dias depois, surgiu a joaninha propriamente dita. Fiquei ligada no assunto até que tive a chance de acompanhar eu mesma o processo numa lavanda que cultivo. Fiquei encantada e isso só fez aumentar a minha curiosidade.
Minha chance de me aprofundar mais no assunto surgiu no grupo do Zap, do Projeto Dedinho Verde. Este é nosso programa de jardinagem e educação ambiental para crianças — nosso, quero dizer, do viveiro Sabor de Fazenda, em que Silvia, minha irmã, e eu somos sócias. Silvia divulgou uma palestra que muito me interessou no YouTube da UMAPAZ: “Biofábrica de Joaninhas – a importância do controle biológico”, feita pelo agrônomo Dany Silvio Amaral.
Fiquei fascinada com a vida e a obra das joaninhas. Mas, epa, crisopídeos? Esse era novo pra mim. O tal crisopídeo, descobri, é outra belezinha do jardim, também chamado de bicho-lixeiro, um inimigo natural de pragas e superamigo do jardim. Esses dois insetos fazem parte da turminha do controle biológico de pragas em jardins, pomares e em grandes plantações. Com eles por perto dá pra reduzir e até eliminar o uso de agrotóxicos.
No caso das joaninhas, é impressionante que a larva pode comer até 50 pulgões por dia. Uau, que apetite! Já as joaninhas adultas, além de grandes devoradoras de pulgões, cochonilhas, moscas-brancas e tripes, ainda são polinizadoras por gostarem também de néctar e pólen de flores. Elas são tão legais que a Prefeitura de Belo Horizonte tem até uma biofábrica de joaninhas. Elas são distribuídas com o intuito de controlar as moscas-brancas em uma alameda tradicional da cidade, com Ficus microcarpa.
A moda pegou tanto que o programa agora distribui larvas de joaninhas e crisopídeos para hortas urbanas, jardins de praças e para cidadãos que cultivam suas hortinhas caseiras e frutíferas. Isso, além de fazerem eventos educativos para contar um pouco mais sobre a vida e a obra desses bichinhos tão carismáticos que, no início da vida, são tão esquisitos.
Muitas outras curiosidades também chamam a atenção para a vida desse pequeno besouro incrível, chamado Lady Bug em inglês: existem mais de 4.000 espécies de joaninhas, quase todas amigas do jardim. No Brasil, as mais comuns são as vermelhas, alaranjadas lisas, sem pintinhas… As joaninhas fêmea e macho são bem parecidas, sendo a fêmea levemente maior que o macho. Tudo o que cerca a joaninha é legal. Faz a metamorfose completa. Do período entre o ovo e o adulto pode variar de 15 a 60 dias, dependendo da espécie e da quantidade e qualidade da comida.
A fêmea, após a cópula, procura uma folha próxima, de preferência com muitos pulgões ou cochonilhas, para depositar seus ovos. Quando os ovos eclodem, as larvas já saem desesperadamente em busca de comida. É tanta fome que elas podem comer umas às outras. Por isso, se dispersam rapidamente e assim se protegem das próprias irmãs famintas. Após aproximadamente dez dias de muita comilança, formam a pupa e ficam lá, paradinhas, por cerca de cinco dias, quando… tantarantan… emerge uma linda joaninha adulta. Incrível! Quer atrair essas belezinhas para seu jardim? Mantenha o equilíbrio e a diversidade de plantas, não use inseticidas e aceite formas diferentes de bichos, como as larvas das joaninhas e dos bichos-lixeiros, com sua carga de entulho e carcaças nas costas.
Algumas famílias botânicas são superatrativas de joaninhas: a exemplo das Asteraceae, como dente-de-leão, serralha e girassol. As flores das Apiaceae, como da salsinha, do coentro e do funcho também. Plante, plante, plante e cultive a vida, seja ela linda como as joaninhas e crisopídeos adultos, seja ela não tão linda como as larvas desses e de outros integrantes da “fofofauna” do jardim.
A ESPECIALISTA
SABRINA JEHA é geógrafa e herborista do viveiro de ervas Sabor de Fazenda e produtora do
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