Ao misturar mais de 70 espécies em um jardim de linhas orgânicas, Toni Backes deu uma aula de paisagismo
TEXTO LAURA NEAIME | FOTOS VALERIO ROMAHN
PROJETO TONI BACKES
Abusar da variedade de espécies – são mais de 70 – e misturar texturas para compor canteiros dinâmicos foram os trunfos usados pelo engenheiro agrônomo e paisagista Toni Backes na hora de criar este jardim em Canela, na Serra Gaúcha. O profissional procurou usar algumas plantas nativas e pouco exploradas no paisagismo, e criou um jardim de contornos orgânicos, que revela uma novidade a cada passo.
Para deixar o lugar com um aspecto mais natural, Toni optou por não determinar previamente onde cada planta seria colocada. As combinações foram criadas no momento do plantio, levando em conta o terreno, o formato e a cor das espécies.
Variedade e integração
Cada canteiro do jardim tem uma identidade própria, com texturas, cores e formatos diferenciados. No retratado à direita, por exemplo, chama a atenção o contraste entre os agapantos (Agapanthus africanus) (1), a azaleia-roxa (Rhododendron ‘Little John’) (2) e o oleagno (Elaeagnus pungens ‘Maculata’) (3). Enquanto os agapantos têm folhas longilíneas e a haste floral elevada, a azaleia exibe uma exuberante folhagem bordô-intenso. O mesmo acontece com o oleagno, cujas folhas são verde e amarelo. A diferença de altura entre as plantas faz o canteiro se destacar na paisagem e o formato orgânico ajuda a dar unicidade ao conjunto.
O pinheiro-rasteiro-azul (Juniperus virginiana ‘Grey Owl’) (4) é outra planta que valoriza o paisagismo. Backes optou por usá-lo no projeto não só por sua rusticidade, mas porque o tom azul-prateado de suas folhas contrasta com o gramado. Já a abélia-dourada (Abelia x grandiflora ‘Francis Mason’) (5) destaca-se pela mistura do vermelho da ramagem com o tom dourado com nuances acobreadas das folhas. A grama-são-carlos (Axonopus compressus) (6), que forra o jardim, é uma ótima opção para regiões frias, pois resiste bem a geadas e se adapta à meia-sombra.
Caminho cheio de graça
Plantas delicadas e floríferas enfeitam a entrada da casa. “Acho que este é o melhor jeito de dar as boas-vindas aos convidados”, diz Toni Backes.
O caminho sinuoso que leva à porta principal é bordado por agapantos (1) e tem seu melhor momento na primavera e no verão, época em que surgem as inflorescências azuis da planta. Apesar de serem altas – podem medir até 1 m –, as hastes florais não prejudicam a visão geral que se tem do jardim.
Outra espécie charmosa cultivada na entrada do imóvel é a vassourinha (Diodia brasiliensis) (2). Nativa do Sul do Brasil, ela tem grande efeito ornamental, principalmente no verão, quando fica salpicada por pequenas flores brancas que lembram flocos de neve. É uma pena que a planta seja pouco usada no paisagismo.
Os camboins (Myrciaria delicatula) (3) topiados que contornam o canteiro complementam o paisagismo desta área.
Riacho “natural”
A água é sempre bem-vinda no paisagismo. Neste projeto, ela aparece na forma de um curso sinuoso e um pequeno laguinho instalados junto a um ambiente de estar ao ar livre.
Para integrar a estrutura à paisagem e deixá-la com aspecto bem natural, o paisagista instalou a “nascente” do riacho em meio a pedras que depois foram encobertas pela folhagem da figueira-trepadeira (Ficus radicans ‘Variegata’) (1).
A água segue por um caminho sinuoso de pedras – elas escondem a manta impermeabilizante utilizada na montagem do pequeno rio – e desemboca no laguinho habitado por aquáticas, como a íris-amarela (Iris pseudacorus) (2) e o aguapé (Eichhornia crassipes) (3).
O acabamento do paisagismo fica por conta das rosas-de-pedra (Echeveria imbricata) (4), uma suculenta que cresce entre as pedras e não requer muito cuidado.